Mais uma vez fracassou uma nova ronda negocial para a partilha do poder no Zimbabwe, para a formação do chamado governo inclusivo.
Este fracasso é, por um lado, o fracasso da SADC em sua sistemática política de diplomacia silenciosa: nem Guebuza nem Kgalema Motlanthe conseguiram qualquer êxito. Na verdade, nada mudou em termos da concepção de Thabo Mbeki.
É, por outro lado, um volte-face nas posições dos dois lados fundamentais do processo - ZANU-PF e MDC-T, pois a facção de Mutambara é, apenas, uma aliada confessa da ZANU-PF -, pois ao aceitarem nova ronda negocial para a próxima semana puseram de lado as intenções publicamente anunciadas de não mais negociarem, especialmente do lado da ZANU-PF.
Ambos os lados têm força e fraqueza.
Ninguém cede o poder quando é forte. A ZANU-PF é policial e militarmente forte - esteio dos seus múltiplos interesses enquanto élite no poder -, tem o passado da luta de libertação nacional (daí o apoio da União Africana), um bem-montado serviço de contra-propaganda que explora bem o papel de vítima africana da hipocrisia do imperialismo anglo-americano e tem, finalmente, consciência de que perderá força se abdicar do controlo total dos ministérios-chave do país, designadamente das Forças Armadas, do Interior, da Justiça e das Finanças. Mas a ZANU-PF está confrontada com o caos do país e com uma crescente onda de protestos nacionais, regionais e internacionais, especialmente por parte das Igrejas, protestos que vão, mesmo, até à exigência de julgamentos por genocídio. Aqui a sua fraqueza. A ZANU-PF e Mugabe sabem, no fundo, que jamais, agora, poderão caminhar sós: primeiro, porque já não basta invocar a luta de libertação nacional e o Ocidente vilão para justificar o caos do país; segundo, porque um governo inclusivo é um bom tira-nódoas político para certos tipo de crimes graves. Se o MDC-T e Tsvangirai o aceitam, aceitam também calar-se.
Por sua vez, o MDC-T também tem a sua força: o caos generalizado do país, o voto popular e o apoio de muitos sectores nacionais, regionais e internacionais. Mas o MDC-T não tem exército, não tem polícia, está constantemente à mercê do seu inimigo, muitos dos seus membros são sistematicamente ameaçados e presos. Esta a sua fraqueza básica. Por isso não aceita ser parte de um governo - um governo que seria não inclusivo, mas exclusivo da ZANU-PF - no qual seria simplesmente manietada e figura secundária de ministérios não-estratégicos. E porque manietada e figura secundária, pagaria severamente em próximas eleições o ónus do panoptismo zanuísta, acusada de gerir mal o país. Mas, também, jamais o MDC-T e Tsvangirai poderão ter a veleidade de pensar que podem apagar a história e inscrever num quadro branco, absoluta, a sua, unicamente a sua. Há casos em que o hermafrodismo político não resulta.
Este é um clássico e doloroso jogo político entre os estabelecidos e os-a-quererem estabelecer-se: os primeiros sempre verão os segundos como intrusivos, desordeiros, perigosos e estrangeiros. E nesse jogo também não podemos esquecer o papel intrusivo, muitas vezes hipócrita, que é jogado pelo imperialismo, venha ele da Europa, dos Estados Unidos, da Rússia ou da China, quando em jogo estão os seus interesses e a sua luta por recursos estratégicos.
Vamos agora ver de que maneira a SADC pode sair fora das fronteiras moles da diplomacia silenciosa e tomar, finalmente, partido firme, singrar caminho independente dos laços históricos que unem antigos camaradas de lutras armadas, num tabuleiro político complexo que é, faz anos, totalmente regional. Na verdade, o Zimbabwe deixou há muito de pertencer ao Zimbabwe apenas: também é nosso. E nós como outros, já pagamos facturas grandes recebendo os refugiados (com riscos, a não desprezar, de faíscas xenófobas internas), esperando que as dívidas a vários níveis nos sejam pagas, vendo que uma parte dos nossos sectores de serviços e turismo está ser duramente afectada pelo caos social do vizinho.
3 comentários:
Pelo Zimbabwe, sofremos agressões /destruições de Ian Smith.
Demos guarida a Mugabe.
Temos uma economia de serviços (os corredores de Nacala, da Beira, de Maputo) cuja rentabilidade depende do bom ou do mau funcionamento dos países do Interland.
A viabilidade económica do corredor da Beira (Porto, Caminho de Ferro, Estrada, Pipe-line) depende de uma economia sólida no Zimbabwé e Zambia. Somos portanto parte grandemente interessada num solução rápida e na prosperidade do Zimbabwe.
Porém, com Mugabe no poder, qualquer acordo não passará de um paliativo, nada resolverá, será uma "PAZ PODRE".
Importa pois que os nossos governantes, a SADC, se empenhem na reforma (dourada ou não) de Mugabe.
AM
o que a comunidade africana esta fazendo no zimbabwe em termos tecnicos chama-se funcionamento me vazio como por exemplo estacionar o carro na garagem as 22horas nao desligar o motor ate a manha do dia seguinte .se a SADC conseguir um acordo no Zimbabwe nao vai ser um acordo democratico mas sim de ditatura pois nao ha espaço paera consenso .na minha opiniao restando apenas espaço para didatura Africana e mais sensato que a mesma didatura seja para remover o Mugabe incondicionalmente
"Aos líderes por todo o mundo que procuram semear o conflito, ou culpar o Ocidente pelos males da sua sociedade – saibam que o vosso povo vos julgará pelo que construírem, não pelo que destruírem. Aos que se agarram ao poder pela corrupção e engano e silenciamento dos dissidentes, saibam que estão no lado errado da história; mas que nós estenderemos a mão se estiverem dispostos a abrir o vosso punho fechado."
Boa música.
Gostei de ouvir.
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