31 janeiro 2009

Zimbabwe: os riscos do GUE (2)

Mais um pouco, mesmo pouco por agora, desta série.
Quando analisamos a situação política no Zimbabwe, é sempre muito difícil situarmo-nos nas relações sociais internas, na luta entre dominantes e dominados. Os externalizadores da terra (recorde aqui e aqui) amam eliminar isso com o seu terceiro-mundismo reluzente, ancorando nos farmeiros brancos e no Ocidente a vilania do Grande Mal zimbabweano. Por essa razão e na análise individual, Robert Mugabe é inevitavelmente rodeado das sacrossantas virtudes do libertador, incólume ao dia-a-dia das relações sociais, puro em seus ideais e na sua retórica anti-imperialista, cavaleiro andante da justiça.
Se quisermos pensar no futuro do Zimbabwe, julgo ser pertinente pensarmos nas citadas relações sociais. E relações sociais não são feitas com pessoas, mas com grupos sociais, grupos sociais em conflito.
Três perguntas para reflexão:
1. Até que ponto, num acordo que é nitidamente favorável à ZANU-PF e a Mugabe, a élite do MDC-T não se tornartá uma aliada - menor que seja -, nos proventos e no prebendialismo da gestão política do Zimbabwe?
2. Até que ponto é que o futuro governo será, efectivamente, um governo ao serviço do povo, da justiça social, um governo estrangeiro ao governo de unidade elitária?
2. Até que ponto é que, sem se aperceber - se embarcar num real GUE -, a élite concorrente do MDC-T não será poderá ser, a médio prazo, o ariete estratégico da ZANU-PF no sentido de que será literalmente lançada para o terreno por forma a que, queimando-se governamentalmente, poupe e recicle politicamente a ZANU-PF em próximas eleições, terminando, assim, com um cheque-mate, a aliança temporária neste governo de transição?
Por agora fico-me por aqui.
(continua)

3 comentários:

Anónimo disse...

A questao sobre elites e governacao no primeiro ponto é muito interessante. O que temos visto em Africa, nao sei por qual magia, mas sempre que se está no poder a seguir se torna num dos maiores empresários dos quais nunca vai a falência, pelo menos antes de sair do poder. Gostaria de ver o MDC a resistir a esta tentacao e ajudar o seu povo que acho sofreu e vem sofrendo de mais.
Aqui vaoi ser interssante ver qual dos dois terá melhor capacidade de logismo para influenciar o outro. O ponto de partida (inocente) é que o MDC quer o bem para o povo e a ZANU-PF quer manter as suas "maregalias". Vai ser um bom palco para vários estudos futuros.

Anónimo disse...

Emenda: Aqui vai ser interssante ver qual dos dois terá melhor capacidade de lobismo para influenciar o outro. O ponto de partida (inocente) é que o MDC quer o bem para o povo e a ZANU-PF quer manter as suas "maregalias". Vai ser um bom palco para vários estudos futuros. (vai e nao vaoi & lobismo e nao logismo).

PS. Atencao que lobismo é hoje uma ciência bastante estudade em estrategia de comunicacao. Tem um potencial muito grande para a realizacao com sucesso de muitas coisas boas para a sociedade.

Carlos Serra disse...

Obrigado pelo comentário. Prosseguirei logo que puder.