Enquanto vamos aguardando pelos resultados da cimeira extraordinária da SADC sobre a partilha de poder no Zimbabwe, sugiro-vos que leiam aqui uma entrevista dada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros do Botswana, Phandu Skelemani (na imagem)- crítico do regime de Mugabe -, à SW Radio Africa. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
2 comentários:
A entrevista de Phandu Skelemani é um bom exemplo da civilidade, sensatez, educação, franqueza, profissionalismo, princípios morais e visão estratégico em defesa do interesse nacional que escasseia na classe governativa em Moçambique. Não digo nosso governo, porque não me sinto identificado com o tipo de cinismo que veiculam, quanto ao caso Zimbabwe e não só. Sob a capa da diplomacia, os representantes de Moçambique realizam seu pensamento tacanho, aldrabões, falso, de assaltante guerreiro e conquistador perene. Admito que estejam a ser coerentes com o seu perfil belicista, quer de ex guerrilheiros, ex vencedores da libertação. Mas suspeito que as novas gerações encontrarão poucos motivos se sentirem gratidão. Pelo menos a parte da nova geração que não irá alinhar com a falta de escrúpulos em se perdoar o terror e a falsidade, desde que cometido em nome e defesa da perpetuação do poder totalitário.
Skelemani exibe uma auto-estima sincera, digna de respeito. Uma franqueza e um frontalidade contrastantes com ar amarelo e patético dos representantes oficiais na questão zimbabweana. Desde Samolão a Guebuza. Estão a fazer o seu papel? Pois continuem a fazê-lo. Fica-lhes bem. Condiz com o fato e a gravata. Principalmente o sorriso de embaraço que Guebuza deixou escapar, há dias atrás, ao tentou justificar seu fracasso em Harare. Muita gente esquece ou não sabe o quanto seus olhos e sorriso os denunciam quando faltam à verdade. Se queres ser falso e cínico, mas pretendes esconde-lo, evitar falar na televisão. A câmara capta mais da tua alma do que podes imaginar e consegues ocultar.
Temos representantes governamentais feitos à imagem e semelhança do jet-set moçambicano, caracterizado por Mia Couto. Fingem exibir substância, mas não vão além da aparência. “Entre parecer e ser vai menos que um passo, a diferença entre um tropeço e uma trapaça”, escreve Couto. Isto não se aplica apenas aos novos-ricos, em quem a aparência faz a essência. Aplica-se igualmente aos seus representantes no governo.
Em suma. Fico grato por saber que na nossa região temos exemplos de governação de elevada qualidade e franqueza moral, em que as pessoas reconhecem o quanto a SADC tem enganado o povo do Zimbabwe.
Como Skelemani “Don’t you think the same round and round story until everybody is dizzy and meantime the Zimbabweans are dying”?
Obrigado por esta postagem exemplar.
Skelemani is a very fine statesman.
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