Deixem-me abrir um caminho vicinal, uma picada.
Creio que em 1997, estive algum tempo em Quelimane, em mais uma estadia de trabalho, numa província que conheço relativamente bem.
Convidado para almoçar em casa de um jovem professor do ensino básico, lá fui, Bairro Fajardo, periferia de Quelimane, cheio de intensa e numerosa vida. Ali estive muitas horas, comendo galinha assada em bom carvão pela esposa do professor, bebendo sura, sentindo a vida indagadora, sabendo que estava ser estudado pelo povo que, das redondezas, vinha saber quem era aquele branco de grande bigode e fumando cachimbo que estava ali em casa do professor.
Eu tinha o pressuposto de que seria havido como padre, pois na Zambézia ter bigode e barba equivale a ser padre. Nos anos 80, por exemplo, eu fui, para vários, o padre Sera, vindo do Vaticano. Claro que quando me perguntaram se já tinha regressado do Vaticano, respondi que sim. Por que haveria de contrariar a ânsia local, a de ser mais um padre regressado de férias do Vaticano, com o figurino histórico habitual, barba e bigode e branco?
Mas deixemos isso. Então lá estive em casa do jovem professor e da sua solícita esposa. Ao fim da tarde regressei ao Hotel Chuabo. No dia seguinte, eram, creio, sete horas, o jovem professor bateu fortemente na porta do meu quarto, quinto andar, ala direita. Abri a porta estremunhado, o que se passa? Professor Sera, está tudo bem, nada aconteceu. Mas...deveria acontecer o quê, perguntei aflito? Bem, se tivesse morrido alguém ontem no bairro, o professor Sera seria acusado de ser chupa-sangue e eu também - angustiou o jovem professor zambeziano. Por isso - asseverou - logo de manhã cedo eu fui saber se tinha morrido alguém. Ninguém morreu!
(continua)
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