Na luta de libertação nacional, o inimigo geral tem um nome para o núcleo revolucionário da Frelimo: chama-se imperialismo. Um sub-produto do imperialismo é o colonialismo. O colonialismo português é o inimigo na frente de luta.
Os textos da Frelimo mostram o inimigo dividido em duas frentes: o externo e o interno. Este age para servir aquele. Ambos são tratados em termos de sistema e de classe.
O núcleo dirigente da Frelimo dedicou muito tempo a identificar as manifestações do inimigo e internamente parece ter sido intensa a luta de posições, de objectivos e de manifestos, especialmente a partir de 1968 (ano da morte do presidente Eduardo Mondlane).
Em 1969, por exemplo, o reverendo Uria Simango, então membro do Conselho da Presidência da Frelimo, disse existir uma "situação sombria" na Frelimo e defendeu que a frente de libertação não era ainda suficientemente forte para, ao mesmo tempo, "combater os portugueses e seus aliados e travar uma guerra contra uma classe burguesa nacional". Deviam ser combatidas "todas as formas de corrupção, reaccionarismo e burguesismo", mas era ridículo querer combater um "suposto inimigo, a classe burguesa". Acresce que, prosseguiu Simango num discurso com incidência na origem étnica de responsáveis da Frelimo ("algumas pessoas da região sul do país", "salvaguardarem os interesses da gente do sul", "membro da sua tribo", etc.), havia claramente um interesse sulista para excluir outros interesses étnicos e daí ter havido execuções sumárias e deserções na frente de libertação (vol. 2, pp. 207-208). No mesmo ano, Simango foi suspenso, acusado de "servir os interesses do colonialismo e imperialismo português" (ibid, pp. 208-209), enquanto Samora Machel denunciava a existência de corrupção (material, espiritual e ideológica) no seio da frente (ibid., p. 212).
Em 1972, Arthur Vilankulu (representante do movimento separatista Comité Revolucionário de Moçambique, COREMO) escreveu ao New York Times (mas a carta não foi publicada) afirmando que o controlo colonialista - de "centenas de anos" - "não nos transformou em capitalistas" e que o modesto auxílio chinês a África "não nos transformará em comunistas" (ibid., p. 180).
Em 1973, a dois anos da Independência Nacional, o presidente Samora Machel afirmou em Conakry que o conflito de classes se agudizava no seio da Frelimo e que "todos os que ambicionavam explorar o povo, substituindo-se ao colonialismo, opor-se-ão a nós. Companheiros nossos da primeira hora que em princípio aceitam os objectivos populares da nossa luta, mas que na prática recusam o combate interno para mudar os seus valores e hábitos, vão-se afastar de nós, até ao ponto de desertarem, ou mesmo traírem" (ibid., pp. 176-177). Por isso - acrescentou - que "na fase crítica que atravessamos", era vital "a protecção da revolução e dos seus dirigentes, a sobrevivência das estruturas revolucionárias e dos seus quadros, mais do que nunca, repousa nas massas populares" (ibid., p. 177).
É uma Frelimo endurecida pela luta, militarmente vitoriosa, dirigida por um grupo claramente revolucionário, castrense e puritano, que vai estar à cabeça do país a partir de 25 de Junho de 1975, data da Independência Nacional.
Nota: a qualquer momento posso modificar o texto.
Os textos da Frelimo mostram o inimigo dividido em duas frentes: o externo e o interno. Este age para servir aquele. Ambos são tratados em termos de sistema e de classe.
O núcleo dirigente da Frelimo dedicou muito tempo a identificar as manifestações do inimigo e internamente parece ter sido intensa a luta de posições, de objectivos e de manifestos, especialmente a partir de 1968 (ano da morte do presidente Eduardo Mondlane).
Em 1969, por exemplo, o reverendo Uria Simango, então membro do Conselho da Presidência da Frelimo, disse existir uma "situação sombria" na Frelimo e defendeu que a frente de libertação não era ainda suficientemente forte para, ao mesmo tempo, "combater os portugueses e seus aliados e travar uma guerra contra uma classe burguesa nacional". Deviam ser combatidas "todas as formas de corrupção, reaccionarismo e burguesismo", mas era ridículo querer combater um "suposto inimigo, a classe burguesa". Acresce que, prosseguiu Simango num discurso com incidência na origem étnica de responsáveis da Frelimo ("algumas pessoas da região sul do país", "salvaguardarem os interesses da gente do sul", "membro da sua tribo", etc.), havia claramente um interesse sulista para excluir outros interesses étnicos e daí ter havido execuções sumárias e deserções na frente de libertação (vol. 2, pp. 207-208). No mesmo ano, Simango foi suspenso, acusado de "servir os interesses do colonialismo e imperialismo português" (ibid, pp. 208-209), enquanto Samora Machel denunciava a existência de corrupção (material, espiritual e ideológica) no seio da frente (ibid., p. 212).
Em 1972, Arthur Vilankulu (representante do movimento separatista Comité Revolucionário de Moçambique, COREMO) escreveu ao New York Times (mas a carta não foi publicada) afirmando que o controlo colonialista - de "centenas de anos" - "não nos transformou em capitalistas" e que o modesto auxílio chinês a África "não nos transformará em comunistas" (ibid., p. 180).
Em 1973, a dois anos da Independência Nacional, o presidente Samora Machel afirmou em Conakry que o conflito de classes se agudizava no seio da Frelimo e que "todos os que ambicionavam explorar o povo, substituindo-se ao colonialismo, opor-se-ão a nós. Companheiros nossos da primeira hora que em princípio aceitam os objectivos populares da nossa luta, mas que na prática recusam o combate interno para mudar os seus valores e hábitos, vão-se afastar de nós, até ao ponto de desertarem, ou mesmo traírem" (ibid., pp. 176-177). Por isso - acrescentou - que "na fase crítica que atravessamos", era vital "a protecção da revolução e dos seus dirigentes, a sobrevivência das estruturas revolucionárias e dos seus quadros, mais do que nunca, repousa nas massas populares" (ibid., p. 177).
É uma Frelimo endurecida pela luta, militarmente vitoriosa, dirigida por um grupo claramente revolucionário, castrense e puritano, que vai estar à cabeça do país a partir de 25 de Junho de 1975, data da Independência Nacional.
Nota: a qualquer momento posso modificar o texto.
3 comentários:
Mondlane morreu em 1969. E não em 1968
Obed L. Khan
Ele há conceitos que me deixam boquiaberto.
Revolucionários?
Está-se a ver a prática inicial, e os resultados hoje.
Mudaram as estruturas sociais, o aparelho de Estado, o regime de propriedade, as leis?
Não!
Ausência de lei não é mudar lei.
Substituir o branco pelo preto, para tudo continuar pior, no mínimo na mesma.
O Estado é praticamente o mesmo, as mesmas estruturas.
DGS não é o mesmo que PIDE?
Apenas Moçambique está mais escuro.
Apenas apareceram «novos ricos» de aviário, que nasceram e cresceram rapidamentíssimo, normalmente ou exclusivamente ligados à nomenclatura dos ditos “revolucionários”.
Como na EX-URSS, igualmente.
Uria Simango tinha muita razão.
“havia claramente um interesse sulista para excluir outros interesses étnicos e daí ter havido execuções sumárias e deserções na frente de libertação”
O tempo, o assalto ao poder, o controlo do Estado, a privatização e apropriação do Estado e outros bens de produção, precisamente por um grupo encabeçado pelos do sul, veio comprovar qual axioma que Simango estava certo.
Por isso, ele e outros , muitos outros foram assassinados.
O império de Gaza continua vivo.
Metamorfoseado. Brutal.
umBhalane
Se não hoje, prossigo amanhã a série.
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