07 janeiro 2008

Os limões têm sexo? (2) (fim)



Temos posses e dói-nos um dente? Aqui na terra não dá ir ao dentista, os nossos médicos podem ser bons mas, enfim, são paredes meias com a rotina e não tem prestígio: vamos ao dentista na África do Sul. Queremos fazer compras? Vamos à África do Sul. Estamos stressados? Vamos à África do Sul. Temos uma nova namorada ou um novo namorado e precisamos de uma estreia camal condigna? Vamos à África do Sul. Não temos posses? Vamos arranjá-las lá, no rand, viramos majonijoni.
Então, por que não deveríamos, aqui, em nossa terra, sul-africanizar completamente a nossa vida comprando limões sul-africanos como os das imagens, com ficha nutricional, com um preparo que dá gosto, que nos limaoeja por completo?
Então, os limões têm sexo, sim: é sul-africano. Entretanto, cantemos as vantagens da integração regional - efusivamente saudada pelo bem-amado Homo Sibindycus, no seu lugar habitual, o "Notícias" - à sombra dos nossos limões paroquiais com crescente dificuldade para se aventurarem fora dos quintais habituais. E os empresários que se queixavam de não estarmos preparados para enfrentar os concorrentes fortes, acalmem-se e sonhem com o facto de o comércio internacional ser, afinal, um jogo de soma zero. Abandonemos os pensamentos proteccionistas e tenhamos uma alma docemente livre-cambista. Aqui não precisamos de nenhum Johann Gottlieb Fichte.
(quer comentar, Eugénio Chimbutane?)

2 comentários:

Anónimo disse...

Sobre a questão de qual seria o sexo dos limões só poderei dizer e ajulgar pelo momento em que vivemos actualmente e nos diferentes quadrantes...que ele é macho!Sintam a sua acidez, o seu azedo gosto.

Não gosta o bicho homem do gosto amargo da guerra?do conflito?do poder, da corrupção? etc, etc....

Eugénio Chimbutane disse...

Bom, o trabalho do Johann Gottlieb Fichte é bastante interessante e procurara mostrar numa perspectiva histórica a evolução das principais teorias e abordagens do comércio internacional. Contudo é importante notar que apesar das teorias que apresenta serem a base para o actual cenário de comércio internacional, tais já não são aplicáveis na actualidade, se assumirmos a globalização, maior mobilidade de capitais e investimento directo estrangeiro (IDE).

Enquanto as antigas teorias do comércio internacional se baseavam no comércio de bens e serviços entre nações (produzir no país e vender fora), o IDE privilegia a produção junto ao mercado consumidor, devido a fácil mobilidade de capitais, elevados custos de transporte, etc. Se sou sul-africano e descubro que tenho um grande mercado para o meu produto de alta qualidade e preços competitivos, então vou a Moçambique montar a minha fábrica. Notem que os direitos aduaneiros nunca foram problema ao IDE (portanto, nada nos garante que vamos receber tanto investimento estrangeiro devido a Integração, para além de que Moçambique não é dos mais atractivos na região, é bem provável que a integração atraia investimento para outros países da região e não para Moçambique), contudo desempenham algum papel na motivação do IDE. Mas o sul africano, vendo que pode continuar a produzir em casa, Moçambique é perto (zona sul e por sinal com maior poder de compra) então, porquê ir investir em Moçambique? Se pode continuar a produzir na sua fábrica em casa, acrescentar o preço de transporte e margem de lucro e ir vender e matar muitas empresas moçambicanas (se estes continuarem a produzir sem qualidade e a preços altos), por que não? Aqui o governo e a economia saem mesmo a perder, porque já não temos receitas fiscais via direitos (integração) e não temos internamente empresas para pagarem impostos.

Portanto, podemos até dispensar o Johann. Nós temos que começar a desenvolver as nossas teorias de desenvolvimento, tendo em conta a nossa realidade e os hábitos de consumo e poupança (?) e investimento dos nossos povos. Lembrem-se que essas teorias clássicas, neoclássicas, etc., são a base da actuação do Banco Mundial e FMI, que tem nos usado como cobaias e que quase que nunca dão certo por aqui.

Sem querer me alongar, temos que nos preparar! Apostar nas PMEs, na agricultura, ensino técnico médio, transformar as universidades e institutos politécnicos em centros de produção do conhecimento e inovações tecnológicas. E saber que muito mais do que barreiras tarifárias (direitos e outras), o desenvolvimento enfrenta pesadas barreiras não tarifárias, que por sinal não serão removidas via integração regional, é preciso outro tipo de exercício. Os benefícios vistos pelo Sibidy e vários governantes não são automáticos, temos que nos mexer, apesar de eu reconhecer a importância da integração regional. Vide também a minha série de artigos com título “Aula de Economia com Prof. Dr. Castel Branco” no www.proeconomia.blogspot.com