29 setembro 2007

A cola-tudo ndau

Volta e meia aparece alguém a contar as pessoas de acordo com a sua origem étnica. Na verdade, a etnicidade é uma cola terrível: quando agarra alguém, não sai mais. A propósito disso, temos o Sr.Cristóvão Nhacatate, antigo deputado da Assembleia da República pela bancada da Renamo-União Eleitoral, que ocupa um bom espaço no "Notícias" de hoje a propósito do que considera ser uma excessiva predominância ndau no seio da Renamo. O Sr. Nhacatate considera mesmo que a Renamo poderá sofrer revezes nas próximas eleições devido ao tribalismo em geral e ao ndauísmo em particular. Prestem atenção a este exercício de contabilidade ndauista: “Se formos a ver, no Município da Beira o presidente da edilidade é ndau, a maioria dos vereadores e directores municipais também são ndaus, os chefes de departamento, dos postos e os secretários dos bairros também são todos eles ndaus. Mesmo a nível da polícia municipal foram recrutados antigos guerrilheiros da mesma tribo que gozam de plena confiança de Afonso Dhlakama. Este exemplo é muito bem elucidativo de como o tribalismo impera no seio da Renamo”.

6 comentários:

AGRY disse...

Ao ler esta postagem, ocorreu-me uma expressão popular e que considero uma boa síntese vocabular
Ei-la:
"Chamar os bois pelos nomes"

Carlos Serra disse...

Pois é...No que me toca, amo sempre estudar as substâncias, belas na sua univocidade, definitivas como as tatuagens, certeiras com as bússolas. Especialmente as étnicas, quando politicamente úteis. E prosseguirei a agrimensura desse substancialismo.

Patricio Langa disse...

Professor.
Penso que é sua a frase mais ou menos com o seguinte teor: "Antes de estudares o racismo, dos outros, pergunte-se se não habita um racista dentro de si". Acho que se aplica a este caso. Quem está pôr em acto o tribalismo, neste caso, os contabilizados(ndaus) ou o contabilista?

Carlos Serra disse...

Tente responder...Abraço.

Anónimo disse...

A questão de tribalismo em toda esfera da sociedade (partidos, instituicões estatais, privadas, organizacões, etc) pode ser uma realidade em Mocambique. E agrava-se quando se torna tabu o seu estudo. É algo para não falar com o risco de ser rotulado tribalista e assim é difícil combater. A Graca Machel já falou mais ou menos do mesmo problema na Frelimo. Segundo o meu ponto de vista, o tribalismo em Mocambique está ligado ao nepotismo.

Entretanto, o conto do Cristóvão Nhacatate é muito interessante. Eu prefiro em analisar a postura Cristóvão Nhacatate. Não consegui ver de que etnia ele era e de como chegou a ser deputado pela bancada da Renamo. Não consegui ler em linha nenhuma de como ele, como quadro da Renamo que foi, trabalhou para combater o tal tribalismo que alega. Não consegui ver onde ele diz que não haver tribalismo. Acima de tudo fala do problema de Chemba que não é só a Renamo que fala das perseguicões, mas o PDD, jornais independentes como o Zambeze e até mesmo confirmados pela Procuradoria geral da República em Sofala.

Então, que trabalho está a prestar o Cristóvão Nhacatate na sua entrevista. Quanto ao Notícias, há aqui alguma diferenca com os ditos que desertam da Renamo e PDD para se filiarem à Frelimo que está comprometida no combate à pobreza absoluta?

Vou vendo em que isto desenvolve...

Reflectindo.

Carlos Serra disse...

Aqui fica o seu comentário, aqui ficam as suas preocupações. Prossigamos! Abraço.