13 setembro 2007

Uma outra chave para ler Marínguè

Regra geral falar em Marínguè é falar de guerra, de "homens armados" da Renamo, de desestabilização, etc. É isso que quase sempre podemos ler no "Notícias".
Mas bem mais difícil é desmarínguèzar Marínguè.
No editorial do "Zambeze" de hoje tentou-se isso.
Eis o argumento, à minha maneira: a exploração do carvão de Moatize (um dos temas centrais da negociações do presidente Guebuza com os Brasileiros na sua recente visita ao Brasil) precisa que a linha férrea de Sena esteja operacional. Essa linha tem a Beira como porto natural. Ora, os interesses estratégicos do empresário Alberto Chipande, antigo ministro da Defesa, membro sénior do partido no poder - Frelimo - e presidente do Conselho de Administração da empresa que gere o porto de Nacala, podem estar à retaguarda do cenário de guerra potencial montado para Marínguè (onde, porém, não há guerra), no sentido de criar instabilidade e por essa maneira conseguir desviar para o porto de Nacala o que podia ficar no porto da Beira. Porto da Beira de cuja empresa gestora Guebuza é sócio. Acresce que os Americanos estão interessados em fazer de Nacala uma base aero-naval e seu comando militar em África. Mais um ponto: a Renamo, que gere municipalmente a Beira, não teria interesse em afastar os investimentos.
Aqui está um conflito entre interesses empresariais a permear a travestização de Marínguè.
Podemos não estar de acordo com a leitura do "Zambeze", mas creio que é uma maneira diferente, nada banal, de nos levar a pensar, de fazer a arqueologia de um fenómeno que ciclicamente aparece na imprensa oficial e, designadamente, no "Notícias".

29 comentários:

mozinovador disse...

Creio que em algum canto, talvez foi no Jornal o Pais quando Gubuza reconheceu dificuldades de transporte, o proprio Guebuza ja tinha sugerido uma possivel utilizacao do Porto de Nacala. Talvez isto acrescente algo a analise.

Carlos Serra disse...

Se esse dado for real, a hipótese do "Zambeze" perde credibilidade.

mozinovador disse...

http://www.opais.co.mz/noticias/index.php?id_noticia=4144

mozinovador disse...

Eu pessoalmente creio que a hipotese colocada pelo Jornal o Zambezi, conforme descreve, nao tem muito suporte em termos praticos.

Primeiro, porque a questao de Maringue eh uma questa que ja se tornou ciclica, com tendencia a resurgir sempre nas proximidades dos periodos eleitorais.

Segundo, a questao de Maringue ja vem de muito antes da consolidacao, sim assim posso chamar, da reactivacao do projecto de Moatize.

Eu iria mais por uma possivel campanha de discredibilizacao continua, contra a RENAMO e qualquer outro partido para alem do de Yaqubi Sidindy, movida por individuos que mal tem servido a democracia Mocambicana, como sao os casos dos Jornalistas dos medias com Noticias, TVM e RM.

Ate que ponto a RENAMO tem responsabilidade sobre isso, confesso que nao sei. Mas creio que em algum ponto devem ter, pois que de outra forma a questao nao estaria a ser repetidamente trazida como se fosse noticia de hoje.

Carlos Serra disse...

Obrigado. Por enquanto não consigo acessar o site, aparece sempre a msg de erro. Verei mais tarde.

mozinovador disse...

http://www.opais.co.mz/indice/index.php?secao=economia

O tiutlo eh : Presidente de Moçambique admite dificuldades no “carvão de Moatize”

Certifique que copia o endecreo tal e qual postei

Obrigado e boa sorte :)

Anónimo disse...

Professor! As últimas noticias de Maringue são de todo preocupantes.

A organização na qual eu labuto(JustaPaz-centro de estudos e transformação de conflitos) trabalhou em 2004 naquela zona (Maringue, Gorongoza, Caia) tentando incutir nos lideres locais uma abordagem construtiva das suas contendas. Uma das várias constatações por nós feitas, era de que os conflitos que aí se registavam eram catalizados por interesses de gente interna e de gente(maioritariamente) externa a Maringue. Depois do trabalho por nós feito, ficamos com a sensação de que, se tudo dependesse apenas dos líderes locais, naquele espaço territórial, a disputa pelo controlo do espaço político seria feito dentro dos principios da convivencia democrátrica.

A ideia com que fico hoje, ao ver os últimos desenvolvimentos, é de que se queremos compreender a realidade conflitual de Maringue, devemos analisar profundamente os vários interesses externos àquele espaço e não olharmos para Maringue apenas.
Jorge Saiete

Carlos Serra disse...

Aqui fica uma bela hipótese, Saiete. Aqui fica. Continuemos a reflectir. Temos de reflectir de forma poligonal. Um dos lados do polígono diz respeito à necessidade de sabermos por que razão Marínguà surge com muita visibilidade bélica sempre que nos aproximamos das eleições e quase sempre no "Notícias". O "Zambeze" levantou um outro possível lado. Prossigamos. E obrigado pela rica contribuição.

Anónimo disse...

Será interessante em ler o artigo. Li o artigo do País http://www.opais.co.mz/noticias/index.php?id_noticia=4144. Também não nos esquecamos que se margina a potencialidade do Porto de Nacala a favor do Maputo, então, pq o general não utilizaria as propagandas eleitorais?
A questão é do porquê o governo da Frelimo usa Maringuè nas suas propagandas, sabendo que prejudica desnecessariamente em grande ao país? Ora, se se quer pode-se resolver o problema dos homens lá, e se não se quer é só ficar-se silencioso porque eles não fazem mal a nínguém. Há problemas e mais problemas em Maputo ou qualquer outro lado do país que Maringuè.

Carlos Serra disse...

Pronto, já li o artigo do O País". Realmente, aí aparece o presidente Guebuza a considerar a hipótese de Nacala. Excelente poder de observação e comparação, o seu.

chapa100 disse...

maringue e montepuez sao os espacos de contenda. o que acho que a frelimo devia fazer e des-maringuezar a sua luta politica, e apostar mais em trazer a visibilidades das obras feitas pelos seus quadros nas autarquias onde governa. e aprender do geremias nguenha: as pessoas dormem com um so olho.

Carlos Serra disse...

Atenção, o editorial do "Zambeze" que recebi há momentos- foi, finalmente, colocado no texto. Leiam-no!

mozinovador disse...

Obrigado Prof. Serra pelo editorial. Os meus primeiros comentarios forma feitos pura e simplesmente com base nos seus relatos.

Primeiro deixa-me dizer que este editorial eh exemplo de mau Jornalismo, que se aproveita de uma situacao conflituosa (a de Maringue), para criar outra situacao conflituosa ou justificar a possivel existencia de qualquer outro conflito (entre Guebuza e Chipande).

Com todo o respeito pr quem o escreveu, para mim isto eh Jornalismo barato, sensacionalista e vergonhoso.

Segundo, eh-me extremamente dificil estabelecer qualquer ligacao entre uma coisa e outra, por varias razoes. Uma delas eh que qualquer conflito armado, quer em Mocambique tera a tendencia de afectar a confianca dos investidores em relacao ao Pais no seu todo e nao somente a uma parcela. Existira sempre a percepcao de uma possivel propagacao ao longo do tempo. Eh como quand um quarto de ma casa estiver a arder, quem se atrevera a ficar na sala tomando um bom cafe??

Creio que sim, qualquer conflito, real ou ficticio, em Maringue tem muito mais mao externa que externa. e os Jornalistas, principalmente dos medias independentes tem uma responsabilidade muito grande em nos trazer a verdadeira historia. Uma historia baseada num Jornalismo investigativo, com analises dos factos e nao com base em suposicoes sem qualquer suporte factual, que a invez de esclarecer apenas complica ainda mais.

Amanha, esta o cidadao menos atento a encontrar a razao por detras do "Conflito em Maringue..a Guerra entre Guebuza e Chipande". Sera isto Jornalismo serio!!! Informativo?? Educativo???

Talvez tenha feito uma analise miope.

mozinovador disse...

correcao..onde digo "externa que externa..quis dizer, externa que interna".

Carlos Serra disse...

Aqui fica a sua observação crítica. Obrigado.

Carlos Serra disse...

Adenda: aacabo de acrescentar uma frase que de manhã devia ter colocado: a posição da Renamo em relação aos investimentos segundo o "Zambeze".A saber : "Mais um ponto: a Renamo, que gere municipalmente a Beira, não teria interesse em afastar os investimentos." Se eu não tiver resumido bem o editorial, por favor corrijam-me.

Salvador Langa disse...

xi manos pessoa não pode pensar de forma diferente? Qual razão porque zambeze está errado? Onde estão vossas provas? Quem tem trono da verdade?

Anónimo disse...

O governo dos MAPUTENSES e dos loucos, esse assunto devia ser encerrado ja a bastante tempo mas os Changanes nao se interessam disso, eu acho que eles tem proveito nesse negocio. Nao acredito que seja falta de vontade do governo de Guebuza, o proprio Guebuza foi um grande chefe nas negociaçoes em Roma e, ele nao se interessa de fazer cumprir os acordos por ele assinados.

Sem duvida em moçambique temos dois governos so que a Frelimo nao fala disso por vergonha, e a Renamo tem muita razao de manter o seu exercito em Maringue porque esses escandalos da nossa policia pode constituir perigo para os politicos nao so da Renamo.

Agora com essas confusoes de criminalidade nao vale apenas a Renamo desarmar os seus homens porque nao compensa nem para o governo muito mas para a Renamo que nao tera segurança a policia ja esta Frelimizada, para o governo dera que pagar os homens 15 anos.

Anónimo disse...

Caro Mozinovador

Penso que editorial é um artigo de OPINIÃO da administracão ou direccão dum jornal. Portanto, não é uma peça de notícia que deve só apresentar factos. Neste caso, a direccão do Zambeze deu a sua opinião (o seu ponto de vista) que pode ser correcta para uns e errada para outros. O título em si faz notar que ela faz um apelo "Marínguè não pode assustar investidores!", enquanto que o conteúdo apresenta bem distinto alguns factos e aquilo que é a opinião do editor. Assim acho que a esfinge está no mesmo fio de pensamento que o meu. Mas este é também o meu ponto de vista.

Reflectindo

mozinovador disse...

OOpss..obrigado por esclarecer o contexto em que se enquadra o Editorial.

Na realidade, para mim as unicas paginas que por vezs nao tenho prestado atencao em relacao ao rigor sao as paginas da carta dos leitores do Jornal Noticias. Creio que muito cidadao comum como eu tambem pensa o mesmo.

Do meu ponto de vista, tudo que eh publicado por jornalistas profissionais, nem que seja Editorial (que na realidade muitas das vezes expressa o ponto de vista de um Jornal em relacao a um determinado assunto "importante", como bem disse) tem que ser feito com certo rigor. Deve-se exigir rigor profissional tanto ao Jornalista como qualquer outro profissional em outras areas.

Nessa perspectiva, mesmo que seja uma opiniao, desde que seja uma peca jornalistica deve ser feita com base em analises aceitaveis e logica, se possivel suportada com elementos crediveis, de modo a nao deturpar a opiniao publica. Isto tendo em cosideracao o poder dos jornalistas e a responsabilidade da profissao. Nao vou admitir que venha ca um Enginheiro emitir opinioes descabidas, sem sem nenhum suporte, sobre um determinado tema de engenharia, para depois dizer que eh so uma opiniao.

O central da minha questao nao esta na opiniao em si, esta na correlacao infeliz que se pretendeu estabelecer entre Maringue, Guebuza e Chipande. Mais do que a questao de Maringue, leva-me a pensar que o Editorial quis foi trazer ao de cima uma possivel friccao dentro da FRELIMO. Mas, se essa era a intencao, acabou sendo infeliz na argumentacao, no suporte dessa sua opiniao.

Finalmente, com todo respeito que tenho pelos escribas (porque escrever nao eh pra todos), tenho que frisar que do mesmo geito que se aplaudem bons editoriais que nos levam a uma reflexao mas profunda sobre um determinado tema, escusado seria dizer que editoriais como estes que procuram mais semear confusao, fomentar a fofoca e a especulacao devem e muito bem ser criticados.

Bem haja ao rigor jornalistico.

Anónimo disse...

Meus caros,
 Numa perspectiva meramente técnica e económica, optar pelo Porto da Beira para o escoamento do carvão é uma aberração. Não tem condições para receber navios de grande calado, da ordem das 200 mil toneladas. Os custos serão acrescidos com dragagens e transbordos adicionais com forte impacto negativo na rentabilidade dos investimentos.
 A opção pelo Porto da Beira só se entende numa das seguintes hipóteses:
1ª. Como medida política visando forçar o incremento da actividade económica na província de Sofala onde os índices de pobreza são dos mais deprimentes do país;
2ª. Pressão de interesses empresariais: coincidentemente ou não (i) o PR é sócio, foi mesmo PCA da empresa gestora do Porto; (ii) sua filha é igualmente sócia da empresa gestora do Porto, nos Silos da Beira.
 A opção Nacala, sem dúvida a mais racional em termos técnicos e económicos, tem sido objecto de exigências descabidas por parte da empresa de que Chipande é PCA: “gulodices” de quem se julga com direito a monopólio.
Um abraço
Florêncio

Carlos Serra disse...

E assim, dialogando, vamos fazendo a anatomia do fenómeno.

Carlos Serra disse...

Deixem-me acrescentar só mais uma coisa: a base de dados Hermes da Pandora (neste diário muito referida)não é uma ilusão. Ela mostra de forma exemplar de que maneira as nossas grandes e médias dinastias empresariais têm profundos interesses em certas coisas. E é delas que parte regra geral o mais veemente apelo à democracia. Leiam com atenção a base de dados. Por outro lado, não vejo por que razão a complementaridade mas tb a rivalidade não deveriam fazer parte do conjunto dessas dinastias.

Anónimo disse...

é possivel ser PR, empresario e neutro? na impossibilidade de colocar a questao a max Weber coloco-a a si professor, nao me lava a mal pois nao? Nao ,creio que nao. acresce ao facto que Max Weber nem devia saber onde fica Moçambique, por isto nao conhecia o contexto.
cumprimentos

Anónimo disse...

O editorial do zambeze é opinião como as nossas aqui e a única coisa que se pode fazer é analisar essa opinião e ver se é coerente ou não.

mozinovador disse...

Com todo respeito, discordo que seja uma opiniao como as nossas, pura e simplesmente porque o seu alcance, o seu impacto nao eh como as nossas.A minha opiniao e a opiniao (apesar de serem opinioes) do Guebuza, tem impactos diferentes. O mesmo se diz entre Jornalistas profissionais e Bloguers amadores. Isto para nao falar na dose de credibilidade que cada uma das opinioes tras dentro de si.

Nao que as opinioes dos Jornalistas devam ser as mais certas, mas que para o bem do Jornalismo quando essas opinioes sao emitidas devem ser coerentes (nisto estamos de acordo) e nao contribuirem para deturpar a opiniao publica.

Creio eu que o editorial tem o merito de trazer duas questoes importantes: O (possivel) Conflito de Maringue e o (possivel) Conflito entre Classes Empresarias. Onde nao encontro logica, e talvez esteja muito errado, eh a correlacao que se pretendeu estabelecer entre estes dois aspectos. A unica justificacao que encontro para tal, ja o disse em posts anteriores.

Carlos Serra disse...

Em relação à neutralidade axiológica do bom Weber: nunca acreditei nem acreditarei. Aqui, neste diário, o tenho repetido amiúde. Já agora, leiam a minha última postagem, onde regresso á base de dados Hermes...

Reflectindo disse...

mozinovador, se a opinião dum vale mais ou não essa é outra coisa, mas editorial é sempre parte reservada à opinião da direccão dum jornal. É muitas vezes atravez do editorial que se sabe se um jornal é da direita, da esquerda ou liberal, juvenil, feminista ou seja o que ele for. A pureza que se clama tem sido apenas uma falsidade.
Se por exemplo você pensa em existir possíveis conflitos, não penso que haja limitacão para qualquer um em imaginar nesse conflito. Porquê não pode ser um conflito entre os generais de reserva, ainda que sejam eles os que podem acabar com isso? Porquê é que eles sendo grandes empresários que são andam alimentar conflito no corredor da Beira, sabendo que lhes afectaria. E é o mesmo tipo de gente que nos propõe não falarmos da criminalidade porque estamos a afugentar investidores. Agora são eles que alimentam conflitos. Por outro lado, foram eles que não convidaram os jornais independentes, incluindo o Zambeze. Isso significa ficou ao critério destes se só deviam especular o cenário. Que estes jornais haviam de escrever a Frelimo sabia.
Pessoalmente, posso não concordar com o ponto de vista do Zambeze ou pode me levar a pensar além do que essa opinião. Aliás, nascem-me muitas perguntas sobre todo este assunto, muito mais quando me lembro das recentes declaracões do antigo Ministro do Interior, sobre o processo de desmobilizacão.
Uma coisa é boa: pensarmos de diferentes maneiras.

Carlos Serra disse...

Prossigamos o debate, aqui e em todos os cantos. Como um dia escreveu o grande escritor congolês Henri Lopes, nenhuma sociedade progride sem fazer a sua própria crítica, sem que os seus pensadores se metam contra a corrente dos bem-pensantes.