07 janeiro 2008

Geofagia na cidade de Maputo (3) (prossegue)


"Vendo areia para poder reforçar a vida lá em casa. Tenho de vender areia para ajudar o meu marido" (vendedora de Inhagóia A)
"O vício de comer é como o vício de cigarro ou de piripiri" (consumidora do Xipamanine)
Prossigo com a divulgação resumida dos resultados de uma pequena pesquisa efectuada na cidade de Maputo por Cremildo Bahule e o Hélder Gudo.
A areia tem um circuito bem organizado, amplo e visível nos bairros populares da periferia de Maputo, desde o preparo até ao consumo. A observação e o contacto permitiram verificar que é feminino o mundo social construído em torno da areia: são mulheres quem a vende, são mulheres quem, regra geral, a consome, em particular mulheres grávidas. Mas não são quaisquer mulheres: são mulheres humildes.
No seu giro diário, as mulheres juntam à compra da couve, do feijão e do pão, a compra de areia.
Pelo que se pôde apurar, o consumo generalizado de areia principiou nos anos 90. Antes, a areia era privadamente colhida nas bermas das estradas, especialmente a areia vermelha. Depois, a partir de 2000, foi integrada num circuito de comercialização - sempre em crescimento -, passando a ser importada de Marracuene, mas com o preparo feito em Maputo. Um saco de 25 quilos de areia de Marracuene custa 130 meticais.
No preparo, a areia é primeiro pilada e depois peneirada (tal como se faz com o amendoim destinado ao caril). A seguir, a camada fina que restou é posta a secar por alguns minutos, após o que se lhe adiciona sal. E fica pronta para o consumo. Em alguns casos, também é assada.
O negócio parece ser rentável:

Nota: em qualquer altura posso operar modificações no texto.

6 comentários:

Anónimo disse...

Professor,
 Para que todos possamos ficar com um pouco mais de informação sobre as características minerais das areias que são vendidas e consumidas em Maputo, tomo a liberdade de sugerir que o Cremildo e o Hélder consigam obter (comprar) amostras ( 100 gramas cada) de dois ou três diferentes tipos da areia (diferentes na cor, no tamanho dos grãos, etc.) e solicitem ao MIREM (Direcção de Geologia) que faça a análise mineralométrica das amostras. (identificação dos minerais que as constituem e percentagens no peso total).
 Trata-se de um trabalho simples e rápido e nos daria a conhecer a composição mineral das areias que algumas das nossas mães, irmãs e filhas consomem. Ficariamos a saber da toxidade ou não deste estranho alimento, bem como a sua importância ou não como complemento de sais minerais.
 Se houver dificuldades no MIREM sugiro que batam à porta do Vice Ministro que, sendo médico pode ter interesse também nesta informação - que é útil também para o Ministério da Saúde - e para todos nós.
Um abraço
Florêncio

Carlos Serra disse...

Muito obrigado pela sugestão, amanhã já deverei ter a areia e providencirei de acordo com o que sugeriu.

Xiluva/SARA disse...

Uma tristeza tudo isto.

Anónimo disse...

Tristeza porquê, Sara? Os hábitos e gostos alimentares das pessoas são dos mais diversos. É preciso compreender antes de sugerir se isso é bom ou mau! Até agora não vi nada que aponte para um estudo sério.

As pessoas que comem areia passam fome nas suas casas? Todas elas? Que tipo de pessoas que consomem areia? Mulheres grávidas? Mulheres a amamentar? O que é que há na areia que a faz ser procurada para alimentação? É todo o tipo de areia? É alguma areia em especial?

Insisto. Antes de emitir juizos de valor é preciso compreender.

Obed L. Khan

Xiluva/SARA disse...

Professor, sugeria que em paralelo tentasse tb obter uma análise laboratorial no MISAU.

Anónimo disse...

Sara, veja o resultado de uma belíssima pesquisa bibliográfica de Florêncio num post mais recente sobre este tema.

Algumas das minhas questões são respondidas nesse trabalho do Florêncio