14 junho 2009

Culto de personalidade

Tenho para mim que seria interessante alguém estudar e comparar a intensidade do culto de personalidade a Samora Machel, Joaquim Chissano e Armando Guebuza.
Adenda às 14:58: em comentário, o António Cipriano propôs a leitura de um trabalho seu, consultável aqui.

16 comentários:

Anónimo disse...

Sem dúvida que o falecido presidente Samora, por acto próprio ou dos seus colaboradores mais chegados foi alvo de culto de personalidade, com alguns norte coreanos a ajudarem, para se assemelhar ao culto praticado no pais deles, o kim il sung. Entretanto o presidente Chissno passou ao largo dessa iresitivel tentação dos que estão no poder se quererem colocar num patamar acima dos mortais comuns. Em relação ao Presidente Guebuza existem sinais dos seus mais proximos ajudantes em o bajularem , elogiarem-no num nivel acima do normal. Podem ser tentativas de um incipiente culto de personalidade mas até aqui, nada de alarmante, quanto a mim.

Anónimo disse...

na minha opiniao, tivemos 3 presidentes e todos eles tiveram direito ao seu "culto"

assim:

Samora Machel - o Lider, o Visionario.

Juaquin Chissano - o presidente DEIXA-ANDAR.

Armando Guebuza - o prisidente TUDO-PARA-MIM.

Anónimo disse...

Concordo com a análise do 1º Anónimo.

" O mito do desenvolvimento determinou a crença de que era preciso sacrificar tudo por ele. Permitiu que se justificassem as ditaduras impiedosas , quer fossem as de modelo «socialista» (partido único) ou de modelo pró-ocidental (ditadura militar). As crueldades das revoluções do desenvolvimento agravam as tragédias do subdesenvolvimento". (EDGAR MORIN)

> De facto, entre nós, o inequívoco período do culto da personalidade foi o de SAMORA, quando vivamos em regime de Partido Único.

> Hoje, não obstante os problemas que vivemos, e o facto da Frelimo tudo fazer para fomentar um certo nível de culto da personalidade a Guebuza, com o aparato nas delegações e "LAUTAS" e VAZIAS introduções a qualquer pronunciamento na presença de Guebuza (endeuzando-o), assitimos na imprensa em geral a referências ao Presidente da Republica impensáveis noutro regime. Temos problemas, mas temos liberdade de falar.

No tempo de SAMORA, do culto da personalidade, seria impensável que Daviz Simango, p.e., viesse dizer, cito Domingo de hoje, p. 4:

" ... Segundo o líder do MDM o advogado desta formação politica já accionou os mecanismos judiciais para a devida responsabilização do partido de Afonso Dhlakama e caso INTERNAMENTE O ASSUNTO NÃO SEJA CONDUZIDO COMO ESPERAMOS, IREMOS RECORRER A TRIBUNAIS INTERNACIONAIS".

> Seria imediatamente rotulado de não acreditar na competência das nossas instituições, de ter a mente colonizada. de ser um infiltrado do inimigo.
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Jornadas Educacionais disse...

Professor Serra

Posso estar errado nas minhas análises. Quando da pesquisa de campo para escrever a minha dissertação de mestrado, tive que ler vários discursos de Samora Machel e também do seu partido. Neles estão presentes indicadores importantes de culto a personalidade. Aliais, o conteúdo da minha dissertação de mestrado, elogiado pela banca examinadora, denuncia exatamente o culto a personalidade, instituido pelos dirigentes da Frente, sob a capa de educação politécnica. No texto eu afirmo que, sob justificativa da união entre a teoria e a prática no processo educativo, os dirigentes socialistas mais levaram os estudantes e as maiorias sociais, conforme o entendimento que tinham da teoria e da prática, a aderirem inquestionavelmente ao partido e aos seus líderes (o artigo síntese da dissertação foi publicado pela revista educação e pesquisa da Universidade de São Paulo -USP - e pode ser consultado em http://www.scielo.br/pdf/ep/v33n3/a14v33n3.pdf).

Agora, na tese de Doutorado, ainda volto a afirmar que os dirigentes de Moçambique, através da educação política, instituiram o culto a personalidade. Eles escreveram no programa de educação política que um dos objetivos da disciplina era para que os alunos amassem a Frelimo e os seus dirigentes, especificamente, o camarada presidente Samora Machel. Aliais, na abertura do ano letivo em 1978, Samora Machel afirmou que na Escola o ìdolo deveria ser a Frelimo e suas orientações dadas ao Ministério da Educação: o resto eram trapos.

Penso que um estudo comparativo, examinando os vários discursos elaborados pelas diversas instâncias, poderia aclarar mais o debate já iniciado. Para isso, as técnicas de análise de discurso nos seriam relevantes.

Ciprix

umBhalane disse...

"Permitiu que se justificassem as ditaduras impiedosas , quer fossem as de modelo «socialista» (partido único) ou de modelo pró-ocidental (ditadura militar)"

Ambas as duas se baseiam numa ditadura militar, que é o verdadeiro sustentáculo quer do partido único, quer do cacique instituído.

Acresce que no caso da Frelimo, eles mesmos eram/são chefes militares e chefes políticos, concomitantemente.

Qual é a dúvida, a diferença?!

Por último, o modelo ocidental também não comporta ditaduras!!!

Há ditaduras pró-ocidentais, assim como ditaduras pró-comunistas, e outras assim-assim...

Viriato Dias disse...

É preciso compreender o homem em função do seu tempo. Samora apesar de algumas nódoas na sua governação me parece ser o mais consensual a sua heroicidade e que mais culto de personalidade teve, é o emblema do pais além fronteiras, Joaquim Chissano ficará para sempre o diplomata das boas causas, um homem que qualquer país gostaria de ter como presidente. Tudo fez pelo seu povo. Quanto a Guebuza, vou fazer como os japoneses fazem, farei os meus comentários no fim, o jogo político também têm 90 minutos.

Um abraço

umBhalane disse...

Bem dizia o Padre Américo, que não havia maus rapazes.

Anónimo disse...

Anyone who wants to study the differences in leadership style between Machel, Chissano and Guebuza and the possible existence of a cult of personality linked to these presidents, should first make an analysis of the concept of "charisma". As far as I'm concerned, of the three, only Samora Machel had charisma. A kind of aura, energy that people could feel.

Jornadas Educacionais disse...

Bom, não sei se o conceito de carisma, que aparece nos escritos de Max Weber (ensaios de sociologia), é suficiente para caracterizar Samora Machel. Se o culto à personalidade foi a marca de Stalin e de Mao Tse Tung e, levando em consideração que os instrutores chineses que estiveram em Nachingweia lá por 1967 (Hélder Martins, 2001), sugeriram a Samora Machel que lesse os livros do seu líder, porque não afirmar que o culto à personalidade melhor caracteriza Samora Machel e os demais?

Luis de Brito, num dos textos síntese de sua tese de Doutorado, afirma que em Moçambique perfilaram várias tendências marxistas. E os líderes de que estamos falando hoje, todos eles, embora tentem "fugir da história" (Losurdo, 2004), beberam das correntes marxistas que exatamente enfatizavam o culto à personalidade: o stalinismo e o maoismo, respetivamente.

Fica-me, portanto, a dúvida quanto ao uso do termo carisma, como Max Weber o faz, para caracterizar a práxis de Samora Machel. Alias, ainda sugiro que leiamos as obras completas de Mao Tsé Tung e as comparemos com os discursos de Samora Machel: é uma pura cópia. Boa parte dos termos e frases de Machel podem ser encontradas nas obras completas de Mao Tse Tung.

Abraços

Ciprix

Viriato Dias disse...

Meu amigo António,

Com toda a licença, temos que dar ao César o que é de César, a Deus o que é de Deus, e a Samora o que é de Samora. Disse alguma vez que não há processos históricos perfeitos, como também não há processos históricos sem vítimas. Não se pode reduzir, por isso, as pequenas nódoas de Samora a insignificância à sua heroicidade. O Hotel Babilónia de Cáceres Monteiro é patente perceber que, como líder, Samora cometeu erros, mas é o grande herói do país, um homem entregue a causa do seu povo.

Um abraço

Jornadas Educacionais disse...

Viriato

Não se trata de reduzir a heroicidade de Samora Machel. Penso que, em nome da história, também devemos fazer uma análise hermenêutico-dialética. Aqui apenas estou chamando atenção para as influências ideológicas de Samora Machel no seu devido contexto.

O fato de ele ter sido um heroi não o ilibida de ser caracterizado como alguem que, consciente ou inconscientemente, cultivou a personalidade.Se não foi ele, então, os seus "bajuladores" assim o fizeram. Ademais, já prestou atenção no cântico que entoavamos como continuadores da revolução Moçambicana: "O nosso pai é pai samora, o nosso tio é tio Kaunda, o nosso avó é Avo Nyerere, a nossa mãe era josina": não se tratava de incentivo de culto à personalidade?

Outra coisa: porque hoje andam reclamando que os estudantes não conhecem os nomes dos Ministros e dirigentes? Qual a relevância desse conhecimento sob ponto de vista da educação?

Assim, heroísmo á parte, alias, é necessário levar em consideração tanto os aspectos positivos quanto negativos de Samora Machel. Em nome da verdade histórica (se de fato existe), vejamos as ações dos homens que deixaram a sua marca no cotidiano moçambicano em múltiplas dimensões.

Abraços

Viriato Dias disse...

Da forma como o António coloca a questão, confesso, dou-me por vencido. Mas não deixo de ter em Samora Machel a minha admiração pessoal.

Um abraço

Anónimo disse...

Concordo plenamente com o Sr. António, uma análise sem emoções mostra a realidade na sua amplitude, não busca realçar apenas o bonito mas o sucedido, com as suas coisas boas e más...
Hoje a quem se esforce por lembrar apenas as coisas bonitas, ficando as coisas feias para os que estão ainda vivos. Será que os homens precisam deixar de existir para reconhecermos sem complexos aquilo que fizeram de brilhante. Por que razão enquanto vivos brilha no nossos comentários o lado mau e quando morrem passamos para o lado bom?
É verdade que a governação de Guebuza tem ensaiando um certo culto de personalidade, extensivo à 1ª dama. Se por razões de se fazer conhecer rapidamente? Mas para isso é preciso apagar os outros? Ou cada um tem seu espaço na sua diferença?
Na verdade, ninguem pode ser melhor que outros, cada um deve procurar dar o seu contributo naquilo que melhor pode fazer. Pensando assim, construimos um paìs melhor, onde as diferenças são o condimento do melhor cozinhado no desenvolvimento da nossa nação e não o problema...

umBhalane disse...

Josef Stalin, Adolf Hitler, Pol Pot, Kim Il-sung, Kim Jong – il, Idi Amin, Omar al-Bashir,…são/eram todos uns “gajos” porreiros.

Agora aqueles que estão/estavam à sua volta, esses é que são/eram o problema!!!

Todos muito bons rapazes!!!

E os análogos também.

Jornadas Educacionais disse...

umBhalane

Se o teu texto não estiver carregado de ironia, então, deixe-me fazer algumas considerações sobre ele.

Olha, não é mania acadêmica, mas parece-me que você cai na mesta teia denunciada por Jean Bodin, no "discurso sobre servidão voluntária". O autor sustenta que a servidão voluntária, em boa parte, é suportada e justificada pelo povão com base no postudado, segundo o qual, o rei é bom, maus são os seus ministros.

Não se de fato todos esses "gajos" , como pobres mortais, eram todos bons.

Abraços

umBhalane disse...

Caro António

Claro que estou a ironizar.

É que já cansei de ouvir sempre a mesma coisa.

Salazar era bonzinho!

Os que estavam à sua volta é que eram maus…as más influências…

E por aí fora…

Mas o seu comentário foi pertinente, e valioso.

Afinal, aquilo que procurei, desafiei…

Obrigado, e abraços

umBhalane