Termino esta série.
E todavia, somos, afinal, todos, seres mulatos. Mulatos em todos os aspectos da nossa cultura. Somos o cruzamento de múltiplas linhas que em nós ancoraram e continuam a ancorar. Somo-lo mesmo onde julgamos que as tradições - sejam de que tipo foram - se mantêem incólumes, impermeáveis aos casamentos culturais. Mesmo racialmente, há sangues insuspeitos que circulam nos nossos vasos sanguíneos e que não figuram nos bilhetes de identidade.
Todavia, quando estão em causa determinados recursos de poder, imediatamente esgrimimos a nossa pureza racial, étnica, religiosa, o nosso suposto nicho identitário original. E isso, mesmo dentro dos grupos dos quais nos reclamamos e que temos por homogéneos.
O caso de Obama foi e é exemplar: tem sido reinventado não enquanto americano, não enquanto ser humano, não enquanto mais um presidente americano, mas enquanto negro segundo uns, mulato segundo outros. A sua racialização foi e é completa, numa operação ideológica acabada, trabalhada no interior de categorias raciais, destinada a singularizar de forma irredutível a sua suposta particular substância. Por isso tentaram vários, aqui e acolá, colocar-nos a hipótese de saber o que aconteceria caso Obama foi outra coisa que não americano, tivesse outra cor que não a que tem e estivesse num país que não o seu.
Tenho para mim que toda a proposta de compartimentação definitiva, substancial e substancializada (raças, etnias, religiões, o que quiserem), da sociedade, obscurece a raíz múltipla dos verdadeiros problemas sociais e torna mais fortes aqueles que dela sabem fazer uso político.
E todavia, somos, afinal, todos, seres mulatos. Mulatos em todos os aspectos da nossa cultura. Somos o cruzamento de múltiplas linhas que em nós ancoraram e continuam a ancorar. Somo-lo mesmo onde julgamos que as tradições - sejam de que tipo foram - se mantêem incólumes, impermeáveis aos casamentos culturais. Mesmo racialmente, há sangues insuspeitos que circulam nos nossos vasos sanguíneos e que não figuram nos bilhetes de identidade.
Todavia, quando estão em causa determinados recursos de poder, imediatamente esgrimimos a nossa pureza racial, étnica, religiosa, o nosso suposto nicho identitário original. E isso, mesmo dentro dos grupos dos quais nos reclamamos e que temos por homogéneos.
O caso de Obama foi e é exemplar: tem sido reinventado não enquanto americano, não enquanto ser humano, não enquanto mais um presidente americano, mas enquanto negro segundo uns, mulato segundo outros. A sua racialização foi e é completa, numa operação ideológica acabada, trabalhada no interior de categorias raciais, destinada a singularizar de forma irredutível a sua suposta particular substância. Por isso tentaram vários, aqui e acolá, colocar-nos a hipótese de saber o que aconteceria caso Obama foi outra coisa que não americano, tivesse outra cor que não a que tem e estivesse num país que não o seu.
Tenho para mim que toda a proposta de compartimentação definitiva, substancial e substancializada (raças, etnias, religiões, o que quiserem), da sociedade, obscurece a raíz múltipla dos verdadeiros problemas sociais e torna mais fortes aqueles que dela sabem fazer uso político.
(fim)
1 comentário:
Caro Carlos,
Você disse tudo! Afinal, quem não é mulato? Vale igualmente para nós brasileiros, com toda a nossa africanidade.
Meus cumprimentos,
Paulo/Brasil
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