15 novembro 2008

Eleições em Moçambique: 15 perguntas de 5 estudantes brasileiros de jornalismo (4)


Estudantes: qual a influência dos meios de comunicação de Moçambique na decisão final do povo moçambicano?
Carlos Serra: uma boa pergunta. Não pesquisei o tema. Mas tenho, por hipótese, que ela pode ser relevante a nível urbano e, especialmente, na cidade de Maputo, capital do país. Fora da “Nação” (como se diz popularmente quando se fala de Maputo) em outros centros urbanos, é mais difícil os jornais chegarem a tempo e horas. Creio que a rádio deve jogar um papel decisivo, seja actuando em língua portuguesa, seja a nível das muitas outras línguas que temos. Porém, tenho uma hipótese mais robusta: a principal influência reside na rádio rua, no boca-a-boca, naqueles informes que nascem aqui e acolá e depois irradiam como bola de neve a partir das famílias, dos grupos, dos locais de faz e refaz a vida que são os nossos chapas (táxis colectivos populares), dumba nengues (mercados informais), barracas (comes e bebes populares), etc. Este é um estudo, porém, ainda não realizado.
Estudantes: como é a participação política do povo moçambicano?
Carlos Serra: no que concerne ao acesso às urnas, creio ser correcto defender que a abstenção é uma característica cada vez mais vincada não importa o tipo de eleições, abstenção que mostrei num livro editado em 1999 com o título “Eleitorado incapturável”. Mas eu precisaria reestudar o fenómeno, o que ainda não fiz. Por hipótese, uma parte importante do nosso povo prefere viver a vida do dia-a-dia, habitar a alma do informal, eventualmente descrente da distância entre discursos e realidade desejada.
(continua)

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