O Zimbabwe tornou-se um ícone discursivo mundial, atravessado por dois tipos básicos de análises:
1. A hipervalorização dos efeitos do imperialismo ocidental, transformando Robert Mugabe e a ZANU-PF em meras vítimas negras da malignidade branca;
2. A hipervalorização da governação nociva da élite zanuísta, eclipsando os posições e as consequências da acção penalizante e hipócrita do Ocidente.
O daltonismo analítico é evidente, possantes são as emoções, designadamente as de pendor racial. A análise científica é substituída pelo recurso a rebuçados éticos constantes do género maldade e bondade e pela absolutização das virtudes ou dos defeitos de um homem divinizado ou diabolizado: Robert Mugabe.
Poucos tentam furtar-se ao ecletismo samaritano do género isto é verdade mas aquilo também; poucos ensaiam ir para além da psicologização da história dos heróis e dos vilões, estrangeiros ao molde das relações sociais concretas; poucos tencionam realmente entrar na história, na microfísica das relações sociais zimbabweanas para além da elementaridade das erupções de cinestesia racial; poucos tentam aquela análise fina (para usar um termo do falecido Aquino de Bragança) que restitui a essas relações a sua autenticidade e a sua nudez; poucos tentam mostrar como uma determinada élite pode enriquecer apesar das sanções e aproveitando-as em absoluto, enquando um povo inteiro morre na miséria; poucos tentam atravessar e analisar o percurso político sinuoso que, para além das três Chimurengas, atravessa, por exemplo, a decapitação da élite e do povo Ndebele, passa pelo enriquecimento na guerra do Congo, irriga as operações Murambatsvina, Dzikisa Mitengo e Taguta e culmina na caça sistemática aos militantes do MDC-T e a activistas proeminentes como Jestina Mukoko, tudo envolto na produção sistemática e diária de inimigos perversos em todo o lado).
Os textos (brilhantes, em meu entender) cuja leitura vou a seguir sugerir não entram ainda, penso, na proposta análise fina, na análise em profundidade de como um grupo social produz e reproduz diariamente as relações sociais adequadas à sua sobrevivência, mas são excepcionalmente ricos em fornecer materiais para aí chegarmos, especialmente se quisermos saber como se fabrica a ideologia ocultadora das relações e das desigualdades sociais.
O primeiro texto que vos sugiro é da autoria de João Gomes Porto, divulgado em Novembro de 2007, com o título Zimbabué: Contributos para a compreensão duma crise multifacetada (o trabalho contém ainda os resultados de uma sondagem de opinião realizada pela Afrobarometer em 2005).
O segundo texto é da autoria de Tongkeh Joseph Fowale, divulgado em Julho do ano passado, com o título Zimbabwe e sanções ocidentais: Motivos e implicações (leia uma versão em português sofrível aqui). E, já agora, leia do mesmo autor um outro texto exemplar, com o título A tese da violência de Frantz Fanon: que relevância para a África moderna? (também aqui o autor se refere ao Zimbabwe)
1. A hipervalorização dos efeitos do imperialismo ocidental, transformando Robert Mugabe e a ZANU-PF em meras vítimas negras da malignidade branca;
2. A hipervalorização da governação nociva da élite zanuísta, eclipsando os posições e as consequências da acção penalizante e hipócrita do Ocidente.
O daltonismo analítico é evidente, possantes são as emoções, designadamente as de pendor racial. A análise científica é substituída pelo recurso a rebuçados éticos constantes do género maldade e bondade e pela absolutização das virtudes ou dos defeitos de um homem divinizado ou diabolizado: Robert Mugabe.
Poucos tentam furtar-se ao ecletismo samaritano do género isto é verdade mas aquilo também; poucos ensaiam ir para além da psicologização da história dos heróis e dos vilões, estrangeiros ao molde das relações sociais concretas; poucos tencionam realmente entrar na história, na microfísica das relações sociais zimbabweanas para além da elementaridade das erupções de cinestesia racial; poucos tentam aquela análise fina (para usar um termo do falecido Aquino de Bragança) que restitui a essas relações a sua autenticidade e a sua nudez; poucos tentam mostrar como uma determinada élite pode enriquecer apesar das sanções e aproveitando-as em absoluto, enquando um povo inteiro morre na miséria; poucos tentam atravessar e analisar o percurso político sinuoso que, para além das três Chimurengas, atravessa, por exemplo, a decapitação da élite e do povo Ndebele, passa pelo enriquecimento na guerra do Congo, irriga as operações Murambatsvina, Dzikisa Mitengo e Taguta e culmina na caça sistemática aos militantes do MDC-T e a activistas proeminentes como Jestina Mukoko, tudo envolto na produção sistemática e diária de inimigos perversos em todo o lado).
Os textos (brilhantes, em meu entender) cuja leitura vou a seguir sugerir não entram ainda, penso, na proposta análise fina, na análise em profundidade de como um grupo social produz e reproduz diariamente as relações sociais adequadas à sua sobrevivência, mas são excepcionalmente ricos em fornecer materiais para aí chegarmos, especialmente se quisermos saber como se fabrica a ideologia ocultadora das relações e das desigualdades sociais.
O primeiro texto que vos sugiro é da autoria de João Gomes Porto, divulgado em Novembro de 2007, com o título Zimbabué: Contributos para a compreensão duma crise multifacetada (o trabalho contém ainda os resultados de uma sondagem de opinião realizada pela Afrobarometer em 2005).
O segundo texto é da autoria de Tongkeh Joseph Fowale, divulgado em Julho do ano passado, com o título Zimbabwe e sanções ocidentais: Motivos e implicações (leia uma versão em português sofrível aqui). E, já agora, leia do mesmo autor um outro texto exemplar, com o título A tese da violência de Frantz Fanon: que relevância para a África moderna? (também aqui o autor se refere ao Zimbabwe)
10 comentários:
Nunca vi tanta incoerencia em termos de integridade intelectual. Este texto ROUBA grosseiramente as ideias originais do sociologo Elisio Macamo, nomeadamente sobre a distincao entre postura normativa e analitica no debate sobre o Zimbabue. Numa atitude de plagio disfercado em inovacao analitica, misturado com incoerencia na defesa de ideias, o professor catedratico, la esgrime ideias de outros como se de suas se tratasse. Para terminar sugerenos duas leituras como se esse debate estivesse a ser inaugurado por esses textos. Grande exemplo de postura de integradade intelectual esta demonstrada pelo prof.catedratico.
Refu.
Força Professor assim mesmo é que é. Profundidade e honestidade. Ainda não sabe quem é este tipo de galdanhos que só entra aqui para o atacar sem parar e agora chamando em socorro o "sociólogo"? Já sabe quem se morre de raiva e ciumeira sem fim e o insulta sem parar? Quer que lhe diga mesmo quem é quem se disfarça de falsos nomes quem passa a vida aqui espreitando o que o Professor escreve? Leia o mail que vou enviar.
Não se apoquente, Boaventura, há cerca de dois anos que o cenário não muda de figura neste diário. E em outros locais.
A sondagem apresentada pelo Dr Porto diz tudo, diz mais do que qualquer artigo engenhoso. é o povo ali ouvido que não aparece nas posições dos intelectuais.
Cumprimentos.
SPM
"O desemprego (14%), o transporte (7%) e a pobreza (7%) aparecem também como preocupações principais para uma proporção significativa dos inquiridos. No entanto, um outro resultado carece, segundo a Afrobarometer de alguma reflexão – o resultado relativo à questão da terra: ‘o governo do Zimbabué apregoa a quem quiser ouvir que a terra é a economia e a economia é a terra. No entanto, menos de 1% (apenas 0.2%) da população adulta considera a terra como problema mais importante.Para aqueles que possam inferir deste resultado que a questão da terra foi solucionada para beneficio da população em geral, uma sondagem realizada pela mesma organização em 1999 (anterior portanto ao início do Fast Track Land Programme) apontou para menos de 1%, enquanto que a sondagem de 2004 apontou para menos de 2%. Com efeito, questões como a habitação e o abastecimento de água parecem ser mais importantes do que a redistribuição da terra."
"Os resultados relativos à gestão da economia são também reveladores: 93% dos inquiridos considera que o governo tem feito uma má gestão da economia – um acréscimo significativo já que em 2004 fora apenas de 48%...Não surpreende, por conseguinte, que a população responsabilize de forma clara (com 52%) o governo da ZANU-PF pela actual situação económica."
"Para além disso, a esmagadora maioria dos inquiridos (82%) consideram que o presidente se deve submeter à lei e aos tribunais – em termos do Continente Africano, este é o País onde o maior número de inquiridos considerou fundamental o presidente submeter-se à lei e aos tribunais. O apego dos Zimbabueanos à democracia é também revelado pelo facto de que, embora 58% dos inquiridos se sinta insatisfeito com a forma como a democracia opera no Zimbabué, é significativo que ¾ da população continue firmemente convicta da importância de eleições regulares, abertas e honestas."
Olalalá!! Bem, em maré de citaçoes cito agora eu: "poucos tentam mostrar como uma determinada élite pode enriquecer apesar das sanções e aproveitando-as em absoluto, enquando um povo inteiro morre na miséria; poucos tentam atravessar e analisar o percurso político sinuoso que, para além das três Chimurengas, atravessa, por exemplo, a decapitação da élite e do povo Ndebele, passa pelo enriquecimento na guerra do Congo, irriga as operações Murambatsvina, Dzikisa Mitengo e Taguta e culmina na caça sistemática aos militantes do MDC-T e a activistas proeminentes como Jestina Mukoko, tudo envolto na produção sistemática e diária de inimigos perversos em todo o lado)"
Alguém vai copiar, talvez os mugabistas? Lolllll!
SPM, anónimo a seguir e Sara: o primeiro texto é, deixem-me dizer assim, mais internista do que o segundo, bem mais amplo em indicações que nos permitam fazer um inventário das relações sociais no Zimbabwe, com a vantagem de agregar um registo percepcional. O segundo é bem mais externista, mas contém, aqui e acolá, passagens vitais para compreendermos o mugabismo, o sistema. Tentarei reatar algumas ideias do sistema na série que acabo de criar.
O Doutor Egidio Vas escreveu assim no seu site: "Não passa de propaganda e hipocrisia quando em pleno 2008, alguns ditos inteletuais e académicos íntegros tentam a todo custo propalar a quatro ventos que o cerne da crise zimbabueana está nas sanções económicas e políticas impostas ao regime de Mugabe. Fazer isso é sem dúvida prestar um belo serviço a Robert Mugabe e sua camarilha."
o nivel ta baixar,
Professor leia aqui:
http://www.reuters.com/article/email/idUSLB640138
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