Vamos lá prosseguir um pouco mais esta série.
O tema é a racialização do social, a forma obstinada como nos relacionamos com os outros em função da cor da sua pele, em função dos sinais positivos ou negativos que atribuímos a uma raça, a forma como partimos da certeza de que a raça existe, de que ela preexiste às relações sociais, de que é dado natural, absoluto.
Existem múltiplos processos de categorização racial. Existem múltiplas causas, conscientes ou não, à retaguarda desses processos. Existem múltiplas formas de racismo, imediato ou subtil. Mas creio ser possível dar alguma ordem à multiplicidade de processos e de laços geradores e reprodutores da racialização.
Os seres humanos não nascem egoístas, racistas ou étnicos. Eles tornam-se nisso devido às lógicas combinadas de três fenómenos: interacção social, disputa de recursos de poder e educação. É aqui que se tecem os sistemas de referência e os meandros categoriais, é aqui que crescem, se consolidam e se tornam naturais, naturalizados, os caminhos da alteridade, que se desenvolvem o racismo e a sua parente, a etnicidade (ou etnicismo, se preferirem, forma de racismo sem raça como no trágico binómio Tutsi/Hutu), é aqui que o bom senso deixa de ser, como queria Descartes, a coisa melhor partilhada do mundo.
O racismo é uma forma elementar de interacção social e não um exercício fenotípico de origem, não sendo mais do que um subproduto de um mesmo fenómeno político: a luta inter-grupos pelo acesso privilegiado a recursos de poder raros ou assim julgados. Por outras palavras, o racismo nasce por causa deles e não antes. Poder? Poder não é uma "coisa", mas a capacidade de um grupo conseguir que nas suas relações com outro grupo ou com outros grupos os termos de troca lhe sejam favoráveis. Para chegar a essa situação de "direitos adquiridos", os actores munem-se de recursos estratégicos, recursos de poder, como sejam: controlo dos aparelhos do Estado, normas, valores, estatuto social, riqueza material, honra, formação escolar, anterioridade de chegada a um território, interpretação da história, etc.
O tema é a racialização do social, a forma obstinada como nos relacionamos com os outros em função da cor da sua pele, em função dos sinais positivos ou negativos que atribuímos a uma raça, a forma como partimos da certeza de que a raça existe, de que ela preexiste às relações sociais, de que é dado natural, absoluto.
Existem múltiplos processos de categorização racial. Existem múltiplas causas, conscientes ou não, à retaguarda desses processos. Existem múltiplas formas de racismo, imediato ou subtil. Mas creio ser possível dar alguma ordem à multiplicidade de processos e de laços geradores e reprodutores da racialização.
Os seres humanos não nascem egoístas, racistas ou étnicos. Eles tornam-se nisso devido às lógicas combinadas de três fenómenos: interacção social, disputa de recursos de poder e educação. É aqui que se tecem os sistemas de referência e os meandros categoriais, é aqui que crescem, se consolidam e se tornam naturais, naturalizados, os caminhos da alteridade, que se desenvolvem o racismo e a sua parente, a etnicidade (ou etnicismo, se preferirem, forma de racismo sem raça como no trágico binómio Tutsi/Hutu), é aqui que o bom senso deixa de ser, como queria Descartes, a coisa melhor partilhada do mundo.
O racismo é uma forma elementar de interacção social e não um exercício fenotípico de origem, não sendo mais do que um subproduto de um mesmo fenómeno político: a luta inter-grupos pelo acesso privilegiado a recursos de poder raros ou assim julgados. Por outras palavras, o racismo nasce por causa deles e não antes. Poder? Poder não é uma "coisa", mas a capacidade de um grupo conseguir que nas suas relações com outro grupo ou com outros grupos os termos de troca lhe sejam favoráveis. Para chegar a essa situação de "direitos adquiridos", os actores munem-se de recursos estratégicos, recursos de poder, como sejam: controlo dos aparelhos do Estado, normas, valores, estatuto social, riqueza material, honra, formação escolar, anterioridade de chegada a um território, interpretação da história, etc.
Sugestão: já agora, leiam o Ivan Teixeira sobre a posição da Ku Klux Kan em relação a Barack Obama, aqui.
15 comentários:
Afinal, na América, nem tudo o que não é exclusivamente branco, nem tudo o que não é "puro", é negro, conforme o KKK:
"Afirmam ainda, os vetustos e fossilizados KKK's, que Obama não representa um perigo supremo porque não é totalmente negro, mas sim "mulato", e ainda, por não ter convivido entre negros (seu pai retornou para a África e Obama ficou com a mãe branca) mas entre brancos"
Professor desculpa vir com um assunto diferente mas vi na televisão hoje o Professor falando que há um livro seu chamado Tatá Papá Tatá Mamã e mais outro sobre linchamentos. Onde posso os comprar?
Um exercício: imaginemos que o pai do Obama fosse branco e a mãe fosse negra: teria o Obama chegado onde chegou?
Quem abandonou o Obama é quem canta mais vitória...
Olá. Quanto ao leitor que me pergunta sobre os livros, farei ainda hoje uma postagem alusiva. Quanto ao leitor do exercício, a minha resposta é: não sei. Mas, já agora: qual a sua opinião?
O sucesso do Obama deve-se à qualidade da educação e instrução que recebeu. Em geral, é a mãe que mais se preocupa com os filhos. Se a mãe fosse negra, seria mais difícil colocar o Obama num ambiente cultural que lhe permitisse chegar a presidente de um país como os Estados Unidos.
Não estou certo do que propõe. Mas é uma contribuição em relação àquele que já é um dos maiores ícones do século, Obama.
Prof. Serra
Tenho uma questão a colocar, pedindo antecipadamente desculpa se for fora de contexto.
Então é assim:
Barak Obama, democrata, próximo presidente dos USA;
USA a maior potência mundial, na m/opinião, a única grande potência;
que vai querer continuar, mesmo com a mudança de Presidente, a sê-lo, e vai lutar por isso, embora, provavelmente, com outros métodos -mas os fins, os mesmos;
B. Obama vai ter decisões muito difíceis em relação a muitas potências, Rússia, Irão, provavelmente a China, etc
Imaginemos, que Obama terá que dar um valente murro na mesa, para não perder a face
e toma uma decisão de abrir uma frente de guerra, por exemplo com o Irão - guerra a sério, muito destrutiva.
Pergunto:
- Essa guerra será "santa", "boa"
- Ou podemos manifestar-nos “USA go home”
sem sermos acusados de ser racistas!
Será que nos inibiremos de censurar os USA, num hipotético cenário bushiano, só por causa de Obama.
Obrigado.
Resposta fútil: coisas previstas e imprevistas irão passar-se.Quais, não sei.
O que me leva a pressupor que a questão por mim colocada foi fútil.
Enquadremos a questão num âmbito mais restrito.
A política externa dos USA é de Estado.
As nuances “serão” pequenas.
Apenas para as coisas PREVISTAS, as meramente previstas, se houver uma atitude dos USA, à moda dos cowboys, ou bushiana, será que uma crítica dos sectores mais activos da sociedade mundial, os que costumam, e outros, actualmente, criticar os USA,
sê-la-á sem inibições?
Ou ficarão inibidos, mais condescendes, porque poderão ser confundidos com racistas,
e apenas porque o inquilino da casa branca é outro.?
"O sucesso do Obama deve-se à qualidade da educação e instrução que recebeu. Em geral, é a mãe que mais se preocupa com os filhos. Se a mãe fosse negra, seria mais difícil colocar o Obama num ambiente cultural que lhe permitisse chegar a presidente de um país como os Estados Unidos."
Será que o caro anónimo propõe que a mulher negra não pode dar educacão e intrucão de qualidade aos seus filhos?
» Obrigado Professor, finalmente temos o significado do seu neologismo RACIALIZAÇÃO: “ forma obstinada como nos relacionamos com os outros em função da cor da sua pele, em função dos sinais positivos ou negativos que atribuímos a uma raça, a forma como partimos da certeza de que a raça existe, de que ela preexiste às relações sociais, de que é dado natural, absoluto.”
Permita-me divagar:
» Disse Einstein, “ … todas as teorias deveriam prestar-se a uma descrição tão simples que até uma criança as pudesse entender”,
ou seja, provavelmente, o exótico pai da relatividade simplificaria a descrição do neologismo, da forma seguinte:
RACIALIZAÇÃO = PRECONCEITO (conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério ou razoável).
______________
» Quanto a Raças, simplifiquemos: há, efectivamente, apenas UMA: a Raça Humana = conjunto de TODOS os homens (… e mulheres também!).
» Mas, os homens do saber, os Cientistas, entenderam que na Raça Humana há indivíduos com determinadas diferenças morfológicas e epidérmicas. Convencionaram então, para efeitos de estudos vários, agrupá-los segundo um palavrão a que chamaram Fenótipos (aspecto de um organismo considerando determinados caracteres dentro do campo da hereditariedade). E assim nasceram as SUB-raças, branca, negra, amarela, etc., e todos os hibridismos que as integram – nuances que, em regra, lhe acrescentam beleza. Há hibridismos que resultam espantosas obras de arte!
Assumindo este conceito Académico, é obvio que as sub-raças preexistem às relações sociais. Há em cada um de nós uma tremenda carga hereditária – que não pedimos, não podemos renunciar, mas carregaremos do nascer ao morrer. Neste quadro, a personalidade de cada um de nós é, em regra, fortemente influenciada pelo meio em que crescemos, nos tornamos adultos. Temos a razão, que pudemos moldar, para equilibrar nossos comportamentos
Um abraço,
_______
Germana
» Para o anómimo que coloca a questão da mãe branca / mãe negra, entendo que o fundamental está no nível de formação e meio em que crescemos: os pais de Obama conheceram-se na Universidade; Obama e a mulher conheceram-se na Universidade; as filhas de Obama, provavelmente, irão conhecer seus futuros maridos na Universidade, em locais de trabalho ou no seio de grupo de amigos com níveis de desenvolvimento académico e social equiparado e interesses comuns.
Claro que a mulher negra pode perfeitamente dar educacão e intrucão de qualidade aos seus filhos. Apenas lhe seria mais difícil (não impossível), e no caso dos Estados Unidos, proporcionar educação e instrução de modo a obter um "resultado cultural" Obama, que "navega como peixe na água" entre os brancos, ao ponto de conseguir obter destes os votos que lhe conduziram à vitória.
Note-se que em Moçambique Obama poderia ser PCA de uma empresa qualquer, mas não mais do que isso - e mesmo assim, não deixaria de ser um mulato - um mulato assimilado.
É como diz, Germana: o fundamental está no nível de formação e meio em que crescemos. Acrescentarei: "e onde depois vivemos".
Podemos manifestar-nos “USA go home” - Obama não é Mugabe
Obrigado Sr. Anónimo das 12:03 AM
Já estou mais aliviado.
O silêncio é muito pesado!
Enviar um comentário