04 janeiro 2008

Violência no Quénia

Veja aqui um vídeo sobre a violência no Quénia (país encostado a norte a vizinhos com sérios problemas de violência social como o Sudão, a Etiópia e a Somália), na sequência da impugnação feita pela oposição dos resultados eleitorais. Repare-se na insistência dada à leitura étnica.
Entretanto, eis uma descrição de Nairobi: "Nas favelas superlotadas de Nairóbi, os moradores são obrigados a conviver com gangues violentas. As condições sanitárias são precárias. Não há esgotos, e os banheiros são substituídos por sacos plásticos, depois jogados pela janela. Essas são algumas das pessoas que esperavam que Odinga trouxesse mudanças para o país. Essas pessoas afirmam que Kibaki não manteve sua promessa de acabar com a corrupção, um problema que há anos atrasa o desenvolvimento do Quênia."

10 comentários:

MANUEL DE ARAÚJO disse...

Gostaria de ter a opiniao do nosso sociologo-mor sobre a crise no Quenia! Trata-se de um problema que tem a ver com o modelo economico, social, politico, do tipo de democracia a ser implementado, de questoes meramente etnicas ou uma salada russa?

Um abraco,

Manuel de Araujo

Carlos Serra disse...

Manuel, dentro de algum tempo deixo aqui algumas coisas.

MANUEL DE ARAÚJO disse...

Aguardo!

Carlos Serra disse...

Vamos, lá, então, Manuel não dar a resposta que quer, dando, porém, a resposta à minha ignorância. Em primeiro lugar, devo dar-lhe conta da minha profunda ignorância da história queniana, especialmente da história queniana pós-1971. Em segundo lugar, devo dizer-lhe que quando nós lemos na imprensa escrita e na imprensa online algo do que se está a passar no Quénia, imediatamente podemos verificar que o quadro é quase sempre o mesmo, com mais ou menos detalhes: o dos conflitos étnicos. A etnia funciona sempre como uma chave de fenda para a nossa ignorância. A etnicidade e a guerra parecem constituir as duas categorias analíticas exclusivas na leitura do nosso continente (e quando não há guerra, dizemos que estamos perante uma história de sucesso, tal se diz há anos do Quénia, independentemente das clivagens sociais, graves nesse país). Todavia, tenho para mim que a etnicidade é apenas a superfície do problema ou dos problemas. Portanto, se eu tivesse que estudar o Quénia a partir dos conflitos graves hoje lá verificados, começaria por uma desmontagem de certos mitos. Em terceiro lugar e como corolário do que disse no ponto anterior, precisaria de ter acesso a estudos recentes na linha dos feitos nos anos 70, por exemplo por Colin Keys (economia política do neo-colonialismo, por exemplo) e por vários outros cientistas, estudos que não consultei. Gostaria, por exemplo, de estudar a evolução das elites políticas do país e a sua dupla articulação com o capitalismo internacional e com o capitalismo nacional. Gostaria de fazer para o Quénia o que Bob Fitch e Mary Oppenheimer fizeram num clássico livro sobre o Ghana após o golpe de estado de 1964 (tente ler "Ghana; end of an illusion). Gostaria, finalmente, de conhecer o país, que não conheço. E é tudo, por agora, perdoe-me a pobreza disto tudo. Mas de forma alguma quero fazer de especialista com 10 minutos de leitura da página internacional do "Notícias"...Abraço. Diga algo.

MANUEL DE ARAÚJO disse...

Agradeco a sua modestia! Tambem nao sou especialista em questoes Quenianas, apenas um curioso. No fundo, no fundo concordo com a sua abordagem. Conheco um pouco o Quenia, ou melhor conheco algumas partes do Quenia. Tenho amigos Quenianos, tanto da faculdade como dos tempos em organizacoes internacionais com que mantenho um dialogo remoto. Ainda ontem vi na BBC o meu ex-colega, hoje, Chairman da Comissao dos Direitos Humanos, Maina Kiai, fazer um pronunciamento sobre a recente violencia! mas ele proprio sedo parte interessada, ficam algumas reticencias!

No meu blog, coloquei algumas questoes, usando o caso do Quenia como pretexto (WWW.manuelderaujo.blogspot.com) As questoes que coloquei sao de caracter geral. Ou seja podem ser aplicadas a qualquer pais africano. Queria que vissemos o Quenia a luz de Mocambique, ou a se quisermos a luz de Africa! A minha intencao era usar o Quenia como ponto de referencia para falarmos da nossa mae Africa e dos desafios que a esperam! Mas como bom pedagogo, e 'macaco velho' nestas andancas, o professor soube escapulir-se da minha armadilha (sem malicias)! Parabens!

Ainda hoje estava a devorar um paper publicado no Journal of Security Sector Management, com o titulo 'Democracy, Capitalism and Development' escrito por Khandakar Elabi e Constatine Danopoulos, que entre outras diziam: 'democracy is the only system of governance that can guarantee long term peaceful functioning of the capitalist system. Thus, a nation can not remain poor if it is governed according to the principles of democracy'!

Um ponto interessante se tomarmos em conta o debate sobre democracia que se esta a desenvolver no seu blog 'Deixa falar', o artigo que o professor postou no 'Diario de um sociologo' e tentarmos analisar ou perceber o que esta acontecendo no Quenia!!

Um abraco amigo!
Manuel de Araujo

Carlos Serra disse...

Sim...Faltaria, ainda, analisar o impacto dos conflitos regionais nortenhos no Quénia, o jogo de eventuais alianças. Finalmente, importa, creio, reanalisar todo o processo eleitoral, cavar fundo nos sistemas eleitorais que estamos a usar.

Anónimo disse...

PARA NAO DAR MUITO TRABALHO AO MAIS VELHO DECIDI TRAZER AS QUESTOES A QUE ME REFERI:

1-O QUE E QUE SE PASSA COM A NOSSA AFRICA? ONTEM FOI A SOMALIA, O BURUNDI, O RUANDA, A LIBERIA, A SERRA LEOA, ANGOLA, MOCAMBIQUE. HOJE E O CONGO, SOMALIA, QUENIA,. E AMANHA, QUEM SERA? O ZIMBABWE? A AFRICA DO SUL? MOCAMBIQUE OU ANGOLA? ERITREIA OU ETIOPIA?

2-SE UMA DEMOCRACIA ESTAVEL COMO A DO QUENIA PODE 'DESAPARECER' EM MINUTOS, O QUE DIZER DE PAISES COMO O NOSSO QUE TEM FERIDAS PROFUNDAS DE MAIS DE 26 ANOS DE GUERRA?

3-NAO SERA ALTURA DE REPENSARMOS PROFUNDAMENTE SOBRE OS MODELOS DE DEMOCRACIA E DESENVOLVIMENTO EM AFRICA?

4-ESTAREMOS ACAMINHAR PARA A PAZ OU ESTAMOS A CRIAR POCOS DE POLVORA QUE PODEM ARREBENTAR A QUALQUER MOMENTO?

5-ONDE ANDA O MECANSMO DE RESOLUCAO DE CONFLITOS DA UNIAO AFRICANA? SE NAO FUNCIONA ENTAO PARA QUE E QUE GASTAMOS MILHOES A PAGAR QUOTAS PARA UMA ORGANIZACAO QUE QUANDO E NECESSARIA NAO APARECE?

6-AS ELEICOES NO SEIO DO ANC MOSTRARAM A GRAVIDADE DAS CLIVAGENS NA SOCIEDADE SUL AFRICANA NO GERAL E NO ANC EM PARTICULAR. DEPOIS DO ZIMBABWE, NAO SERA A AFRICA DO SUL A SEGUIR? E SE A AFRICA DO SUL ARREBENTAR O QUE SERA DE NOS?

Carlos Serra disse...

Manuel, tomei bem nota das suas questões, visitarei o seu blogue e amanhã aqui porei mais algumas novas ou antigas questões. Mas sempre dentro do meu padrão: não gosto de falar do que não estudei em profundidade e de fazer de algumas ideias a própria realidade...Até amanhã!

Anónimo disse...

Enquanto os sistemas de justica em Africa continuarem a funcionar ao belo prazer dos que estao no poder, nao havera democracia.Razao pela qual o cidadaos quando se sentem injusticados optam pelo caminho mais facil de resolucao de problemas: a justica pelas proprias maos.

Creio que antes de falarmos de democracia em africa ou democracia africana, deveriamos questionarmo-nos sobre o que narealidade eh democracia e se os principios fundamentais de democracia tem o nao sido aplicados em Africa. Sera que num pais como Mocambique, em que ha um numero elevado de abstencoes, demitindo assim o povo do exercicio do seu direito de escolher seus dirigentes, uma comissao de eleicoes que funciona a musica do partido no poder e em que o seu presidente eh o primeiro a violar a lei quanto ao regime de exclusividade, podemos dizer que ha democracia?

Pula

Carlos Serra disse...

Manuel e Pula: tendes um elevado número de questões. É sempre relativamente fácil "responder" depois de uma leitura prazenteira em um ou dois jornais online. Acontece, porém, que tenho o grave defeito de não ser capaz de responder sem estudo prévio e aprofundado. Parte significativa das questões que colocam remetem para o que poderá acontecer. E eu precisaria de estudar bem, antes, o que está a acontecer, país por país, campo por campo. Forte abraço.