03 janeiro 2009

Zimbabwe: indicadores de que Mugabe vai formar novo governo (5)

O fim da série, começada esta manhã.
Se Mugabe e a ZANU-PF formarem novo governo, a expensas do MDC-T e de Morgan Tsvangirai mas com o beneplácito do pequeno aliado interno, Arthur Mutambara, cumprindo com o que ameaçaram fazer em Agosto do ano passado, estaremos perante mais um golpe de Estado, prolongando e ampliando a ilegitimidade e a ilegalidade de que dei conta anteriormente.
Argumentarão - Mugabe e ZANU-PF - que Tsvangirai e o MDC-T são desonestos por natureza, que são meros prolongamentos locais do imperialismo anglo-americano - por isso Tsvangirai está no Botswana, suposto elo regional do imperialismo -, que o país não pode continuar refém do vazio de poder (que nunca existiu), que tudo foi feito para que fosse formado um genuíno governo inclusivo, que é chegada a hora de o Zimbabwe se pôr de pé.
Se o passo for dado - o que poderá levar alguns dias, no sentido de pressionar Morgan e o MDC e torná-los mais acomodantes -, teremos provavelmente a SADC (com excepção do Botswana) a lamentar a não formação de um governo de unidade nacional, mas a concordar que Mugabe e ZANU-PF agiram, afinal, com lógica histórica. Noblesse oblige, até porque haverá um pingo do MDC no novo governo através de um Mutambara sempre colaborador. Perderá sentido, então, a retoma do processo negocial.
A situação social irá piorar ainda mais, em meio a uma militarização de Estado Big Brother quase absoluta do Zimbabwe. A crise financeira internacional, as expectativas regionais sobre as suas consequências este ano, os sinais de uma nova guerra fria e a guerra na faixa de Gaza poderão contribuir, entre outros factores - sem excluir a modorra provocada pelo estafante processo negocial -, para de alguma forma clandestinizar o Zimbabwe, vestindo o novo governo de uma penumbra política razoável.
Mas também pode acontecer que os fumos anunciados acelerem as pressões regionais e, por tabela, internacionais, já não tanto no sentido verboso da necessidade do governo inclusivo, mas no sentido (1) de uma real partilha dos ministérios estratégicos do Zimbabwe e (2) de um programa de saneamento social imediato e amplo.
Adenda: uma linha de pensamento mais sistemática sobre o Zimbabwe pode ser ler lida quer na minha longa série em 13 números com o título "As mãos africanas de Pilatos", quer na série em quatro números com o título "Nkomo: mau espírito do GUN no Zimbabwe".
(fim)

6 comentários:

Anónimo disse...

Pessoas sensatas devem por mais pressão na África do Sul e nos Presidentes Guebuza e Pohamba para afastar Mugabe.

Carlos Serra disse...

Os ventos da história "de trás" são fortes e unificadores...

Paula Araujo disse...

A história terá de ser vivida até ao fim. E o fim será ditado pelas eleições na África do Sul. Serão os novos(?) líderes a desenhar a região da África Austral.
Interessante será ver até que ponto a SADC se aguentará como entidade política regional, fragmentada por lutas pela liderança, em que a mais evidente é a do Botswana face à África do Sul. E, se o petróleo voltar a subir, será interessante ver o papel de Angola.
O Zimbabwe, neste momento, não interessa politicamente. O mais incrível é que não interessa humanitariamente.
Paula

Carlos Serra disse...

Vamos a ver o que vai passar-se. Ou deixar de se passar.

Carlos Serra disse...

Sugiro a leitura da minha última postagem concernente à posição da SADC sobre o alegado plano para derrubar Mugabe.

Paula Araujo disse...

Não hostilizar o Botswana nem criticar o Zimbabwe é mais do mesmo: viver bem com Deus e com o Diabo.