04 janeiro 2009

Ajustamento cultural para África

Um problema central em África tem a ver com a cultura do autoritarismo que embebe os Africanos desde que nascem, que os priva de uma visão dinâmica do futuro, que já os habitava antes do colonialismo, que os constrange a vários níveis. Por exemplo: um alto grau de fatalismo, de irracionalismo e de crença na magia, um comunitarismo que sufoca a iniciativa individual. Do que África precisa é de um ajustamento cultural. Esta a posição do economista camaronês Daniel Etounga-Manguelle. Confira aqui, aqui e - tendo como tela de fundo o Zimbabwe - aqui.

9 comentários:

Anónimo disse...

Muito interessante esta afirmaçao do economistas Daniel Etounga Manguelle.

Vinda de economista do velho continente seria um risco enorme! na medida que corria o risco de ser conotado com o pensamento do Afro pessimismo.
Na realidade, nada tem a haver! mas sim, com os valors culturais dos africanos.
Mas como fazer esse ajustamento cultural nos africanos a que ele se refere?

Em minha opiniao, a partir a da sociedade tradicional africana, criando condiçoes,dando algumas ferramentas dos valores democraticos em relaçao ao poder, a partilha do poder.

Houve erros durante a colonizaçao e mesmo pós descolonizaçao.
No nosso país, o erro foi cometido pela frelimo em desprezar a autoridade tradicional após a independencia, impondo a todos as ideias Marxistas, um sistema caracterizado por um autoritarismo completamente selgavem. Eis a sociedade que temos hoje!
Mas tambem, que é que nos libertou?

quantos tinhas o nível academico?

quantos conhecia o conceito de democracia?

Até hoje em Moçambique ainda se vive esse autoritarismo, de uma forma camuflada ajustada e copiada a dos europeus, de casaco e gravata entre outras demonstraçoes.

É um preocesso, que os nossos filhos se encarregarao de os ajustar e transformar, neste actual momento! veijo um processo muito lento na medida em que na cabeça dos nossos governantes, (que deveriam ser o exemplo do tal ajustamento), ainda existe o autoritarismo político e cultural do que o economista Daniel Manguele acaba de mencionar.

Kanivete

Anónimo disse...

Para o Kanivete tudo depende dos governantes. Creio que, mais do que o nosso povo de África, quem se deve ajustar são pessoas como o Kanivete. Este tipo de pessoas não consegue ver mudança a ser instilada por igrejas, por empresas privadas, por escolas, pela disseminação de hospitais por todo o lado, por uma sociedade civil genuina que emirja das dinámicas económicas e sociais internas nos nossos países.

Pessoas como Kanivete só conseguem ver governantes. E Num país em que governantes (entre ministros e governadores) não passam de 40 então as coisas estariam muito mal.

Eu confio mais na força libertadora da educação, da adopção de novas práticas agrícolas, da participação cada vez mais crescente das populações africanas no mercado. Mercado onde possam vender seus excedentes. Mercado que pode contribuir para eliminar a miséria. Mercado que pode contribuir para a emergência da riqueza.

Viriato Tembe

Paula Araujo disse...

Há um erro de análise. Hoje, a sociedade europeia não assenta numa visão autoritária da vida. Nem mesmo já os países periféricos e que viveram anos de ditadura, como Portugal ou a Espanha. Hoje, a existência de uma classe média alargada e a proliferação de media, de organizações de sociedade civil, assim como o acesso generalizado à educação, transformaram os cidadãos em críticos do sistema e das autoridades, sejam elas, familiares, profissionais, políticas, clínicas, etc.
Paula

Reflectindo disse...

De Viriato Tembe retenho que confia mais na força libertadora da educação, da adopção de novas práticas agrícolas, da participação cada vez mais crescente das populações africanas no mercado.

Este é algo que podiamos discutir sem nos colocar nesses discursos de ataques mútuos, pois governos são abstractos e não são constituidos apenas por 40 indivíduos e querendo reduzir, a melhor forma seria de 1 (um), o Presidente da República. Porém, lá temos os ministros, vice-ministros, governadores provinciais, administradores distritais, dos postos e localidades ainda directores de vários escalões a agir em nome do governo. No nosso caso, em África reina sim muito autoritarismo, claro sem excluir que nos outros continentes possa acontecer o mesmo. Acho necessário também que para este caso, não estejamos a ver governo como sendo apenas o problema do partido no porto, pois não é bem certo que autoritarismo não haveria/haverá com qualquer partido que estiver no poder, enquanto não começarmos a trabalhar seriamente para uma sociedade verdadeiramente democrática. Aliás, o que mais assistimos nos partidos da oposicão em Moçambique é também autoritarismo.

A educação se torna força libertadora quando ela se assenta em valores democráticos, daí que nem todos os que estão educados são mentalmente livres. Tudo depende do tipo de educação e donde a pessoa foi educada.

Não consegui abrir o artigo e talvez mesmo assim não o consiga ler por ser em francês para o relacionar com a agricultura e o mercado.

Ainda a semana passada discuti com um amigo por algumas vezes sobre o problema de autoritarismo, isto para não falar de vezes sem conta, em muitos fóruns.

No ano passado, o sociólogo Elísio Macamo publicou no Notícias um artigo com o títuto D de dirigente o qual se pode ler aqui e que achei muito importante e que possa fazer parte do que Tounga-Manguelle discute.

Do que Kanivete disse retenho o impacto da accão do colonialismo e do regime instituido após a independência. Existe maneira de negar isto? Só a memória nos trair. Também retenho que o ajustamento cultural passa pela sociedade tradicional africana, criando condiçoes, dando algumas ferramentas dos valores democraticos em relaçao ao poder, a partilha do poder. Não raras vezes ouvimos de quem reclama autoritarismo que aqui em África tudo funciona do topo para baixo, o chefe é quem decide e o resto só cumpre. Mas lá na aldeia é isso mesmo? Aqui vemos, a razão pela qual a rainha ou “régula” de Marromeu, Chica Zeca Macajhandgi. Ela precisa de ferramentas dos valores democráticos. MAS SERÁ QUE OS NOSSOS POLÍTICOS DÃO FERRAMENTA DOS VALORES DEMOCRÁTICOS AOS CHEFES TRADICIONAIS? E podemos ir mais longe perguntando se o nosso governo dá ferramentas dos valores democráticos aos directores de escolas?

Anónimo disse...

Nao li o texto, mas creio que o Prof, tentou resumir o essencial. Estara a o autor Manguelle, a dizer que os Africanos, sao autoritorios desde sempre? E uma especie de negacao de uma cultura, na medida em que esta sempre trouxe prejuizos para as suas comunidades? Refere-se a quais Africanos, e um continente heterogeneo, Africa branca? africa Austral? todas etnias? Estara a dizer que os Africanos sao os unicos fieis a magia e as crencas, ignora os Japoenes, que coabitam a tecnologia com as suas crencas? Ajustamento quer dizer inventar novas culturas, ou copiar outras?
Muzima

Anónimo disse...

Caro Reflectindo, quando falamos de classe dominante (os governantes) incluimos pessoas como o director dos serviços distritais de infra-estruturas Ngaúma, cujo salário não deve passar dos trezentos dólares mensais?

Em contrapartida, um professor catedrático, que de certeza ganha mais de 5 vezes o salário de um director distrital pertenceria às classes dominadas e exploradas?

Qual é o critério para se ser classificado como membro da classe dos governantes?

Amigo Reflectindo, minhas perguntas surgem porque, do seu comentário, presumi que estava a incluir funcionários do tipo Chefe de Posto Administrativo, Secretário de Bairro no rol daquilo a que Kanivete chama de governantes. Eu acho que, com essa classificação, está a ser elástico de mais.

Viriato Tembe

Reflectindo disse...

Caro Viriato Tembe, boa interpelacao. Claro, para mim e talvez para muitos, quando falamos de governantes falamos de quem detêm o poder político-administrativo duma determinada área. E expressão governantes referindo a administradores, chefes do posto, secretários permanentes, etc é corrente. E diz-se legalmente de governos central, provincial, distrital, local...

Quanto à classe dominante, aí eu divido em política e económica. E aí o governante tentáculo é facilmente dominado pela classe economicamente dominante.

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Confesso que pelo facto de eu não ter lido primeiro o artigo, devido às dificuldades que tive em baixá-lo, julgo-me em não ter me concentrado no tema. Há pontos muitíssimo importantes que já se deviam ter discutido com base neste artigo, em inglês. As afirmações dos outros intelectuais (John Hamilton McWhorter, William Pfaff e mesmo do jornalista Mariano Grondona e colunista Carlos Alberto Montaner no texto deviam-se ter em conta nesta discussão. E para quem deu olhadela os estudos do falecido antropólogo nigeriano John U. Ogbu e o intelectual e jornalista tanzaniano Godfrey Mwakikagile, achará úteis nesta análise.

Anónimo disse...

Caro Reflectindo, o Professor Carlos Serra ensina-nos muitas vezes, QUANDO LHE CONVÊM, que na análise dos fenómenos devemos ter em atenção as dinámicas económicas e sociais que lhes dão origem. Ensina ainda o Professor Carlos Serra, TAMBÉM QUANDO LHE CONVÊM, que a solução de muitos desses problemas não É MERAMENTE TÉCNICA. Implica, pelo contrário, a tomada de medidas enérgicas de grande alcance político. Muitos poderão confundir medidas políticas com truques de dirigentes (os governantes). Mas não é a isso a que o lúcido Professor se refere.

Quando alguns iluminados nos vêm dizer que os africanos são, ESSENCIALMENTE, propensos ao fatalismo, à irracionalidade, à crença na magia e que praticam um comunitarismo que sufoca a iniciativa individual só podemos recorrer ao insigne Professor.

Como é que os africanos poderiam se libertar do fatalismos e outras mazelas se. Até há 30 anos, se lhes recusava o acesso à escola? Como é que os africanos se poderiam libertar do autoritarismo do curandeiro e do feiticeiro se não conheciam a cor de um hospital? Como é que uma jovem mão se libertaria da tradição e da opressora autoridade da sogra se apenas dependia dela para dar o parto? Poderia esta mãe libertar-se do “comunitarismo que sufoca a iniciativa individual”? Creio que é a estas questões políticas a que se refere o velho Professor.

Onde está a classe média africana? Não esquecer que a classe média é o principal caldeirão onde as ideias novas e libertadoras se cozinham. Quanto tempo leva e emergir uma classe média? Convêm lembrar, porque sei que Reflectindo o sabe, que os africanos aqui em Moçambique (isto é, os negros) não podiam ser maquinistas de comboio, isto até 1975. Os moçambicanos não podiam registar propriedade e iniciar um empreendimento comercial. Isto até 1975. Alguma classe média poderia emergir neste verdadeiro espartilho social?

Por outro lado, como poderemos massificar uma classe média verdadeiramente africana? O milho, o trigo, a fruta que os nossos tios, pais, primos e irmãos plantam nas nossas aldeias podem ser vendidos e consumidos, digamos, no Maputo? Em caso afirmativo, onde iriam parar o milho, o trigo, a fruta pesadamente subsidiados produzidos nos países ocidentais? Esse milho, trigo e fruta podem ter acesso aos ricos e compensadores mercados ocidentais? Como? E de que como iria surgir uma classe média e uma sociedade civil genuína e não imposta por doadores nestas circunstâncias.

Deixe-me aqui, caro Reflectindo, ser maldoso. O que aconteceria se os GOVERNANTES decidissem proteger seus camponeses, dificultando a entrada de produtos estrangeiros? O que aconteceria se os dirigentes africanos decidissem estimular o mercado do lado da demanda, promovendo a construção de mais obras públicas e pagamento de salários mais decentes ao seu povo? SERIAM BLOQUEADOS COMO MUGABE, SOB O PRETEXTO DE QUE ESTÃO A ALARGAR O DESEQUILÍBRIO DAS FINANÇAS PÚBLICAS. DIR-SE-IA QUE NÃO DEVEM RECEBER CRÉDITOS INTERNACIONAIS PORQUE ESTÃO A EXPANDIR A INLACLÇÃO.

A libertação do povo africano das peias do obscurantismo, depende em grande medida de se ir conquistando terreno nestes obstáculos e nesta herança pesada. E isso não depende só de governantes. Depende também de termos, por exemplo, líderes religiosos que se preocupam com o progresso material dos seus fieis. Depende de termos uma vibrante e crescente classe empresarial. Uma classe empresarial que se multiplica continuamente no campo e na cidade e que se preocupa com o crescimento dos seus negócios e com o enriquecimento contínuo dos seus empregados. Depende da disseminação de colégios e escolas técnicas públicos e privados ao longo de todo o continente. Depende de termos uma classe intelectual CRÍTICA E NÃO MALDIZENTE.

Viriato Tembe

Reflectindo disse...

Caro Viriato, estou ainda em correrias, mas volto brevemente sem deixar dizer-te que depois de eu ter lido do artigo, concordo contigo que as coisas se deve analisar desta forma. Claro, que a/o Kanivete continua com uma certa razão ao falar do sistema de governacão que tivessemos em África. Porém, a questão de fundo é a relação o regime colonial e as comunidades africanas e sobretudo a situação em que nos encontravamos há 30 anos como escreves. Qual foi/é o impacto? Aí deste a resposta.

No caso de Moçambique a liderança para os indigénas estava confinada ao regulado que antes estavam (os régulos) delegados autoritarismo cego do regime fascista colonial. Vi isso com os meus olhos. Até aqui, não conheci um negro moçambicano quem tenha sido pelo menos um administrador dum posto e o único administrador negro que conheci era um cabo-verdiano.

Quanto à educacão, ao recurso ao curandeirismo ao invés de hospitais, etc, concordo contigo. Entretanto, indigno-me bastante com os feiticeiros, os ditos médicos tradicionais que em pleno século XXI se licenciam e até recebem o título de doutores. Não falo aqui de autorização dos que usam plantas naturais...

Abraco