Em 1997, quando dirigia uma pesquisa sobre eleições autárquicas - que gerou um livro com o título Eleitorado Incapturável - , a minha equipa de Nampula queixou-se de que não conseguia obter informações dos dirigentes da Renamo ao nível da sede local. Não obter informação é uma informação também. E importante. Mas, enfim, decidi eu próprio dialogar com os tais dirigentes. Debalde. Gente humilde na sede, mas excepcionalmente desconfiada, o chefe não está, não sabemos, passa mais tarde, etc. A viatura onde eu viajava foi inspeccionada por dois seguranças. A percepção foi a de que a gente, a minha gente, só podia ser do lado inimigo, da Frelimo. E ainda por cima imaginem a reacção perante um tipo como eu, de bigode, barba e cachimbo...Bem, de regresso a Maputo consegui que alguém contasse a história a Afonso Dhlakama. Quando voltei a Nampula, nem queiram saber como eu e a minha equipa fomos recebidos. Parecíamos deuses. Então, verifiquei o poder do Grande Chefe. Só se fala se o Grande Chefe ordenar, o Grande Chefe é o coração de tudo. Este exercício de cesarismo vai ser um eixo central nesta série. Tese: quanto mais fraca for a comunicação dentro de um partido, quanto mais fraca for a malha local de intervenção autónoma, quanto mais militar for a organização, quanto menor a escolaridade dos membros, mais forte é o peso do César e, portanto, do cesarismo.
(continua)
3 comentários:
Eu serei politicamente incorrecto ao dizer que o que o povo apela em conversas de esquica nao eh a decapitacao do lider da Renamo, mas sim a ascencao de liberdade de pensamento e expressao dentro desta unica formacao politica com etiqueta de oposicao.
muitas formacoes politicas tem um presidente que nao concorre as eleicoes e um secretario geral que comanda carisma. Mas nao o secretario geral fantoche que move-se a ordens de um "ditador" como se auto apelida o Ratagao (Dhlakas). Haja democracia partidaria antes da democracia nacional.
Laude Guiry (cada vez menos anonimo)
Concordo com um bloguista que diz estar a Renamo em coma e precisando de cuidados. Se é que os decisores da renamo lêm o que se escreve, têm olhos para ver e ouvidos sensatos para escutar, intervenham enquanto é tempo. Têm um ano para virar a página. Reformem o Dlakhama, aproveitem a embalagem do " Obama do Chiveve " capitalizem este momento ímpar e tentem saír do coma profundo em que a vossa liderança vos meteu. Se tudo continuar na mesma, podem ter a certeza de que o vosso funeral será em 2009 como o velho Marcelino profetizou( ou trabalhou para tal enquanto voces dormiam a sombra da bananeira? ) Creiam, é chegado o momento de agir. Para nós outros, catalogados de " sociedade civil " nos preocupa sobremaneira que a Frelimo não tenha uma oposiçaõ forte e capaz. é muito mau para o país. Não creio que a actual renamo moribunda, mesmo que desperte do coma consiga inverter o cenario no proximo ano, se calhar nem em 2013/2014-mas é preciso que desperte desde já e trace planos a curto e medio prazo, sem veleidades. Não pretendemos que a Frelimo se sinta dona do país, do conhecimento e da verdade. Muito menos que alguns arrogantes ao geito do Edson macucaua humilhem os demais e que alguns deputados deste partido continuem a fazer-nos de imbecis com os seus pronunciamentos despropositados. Talvez muitos de vós não imaginem a pressão que exista nas cidades pequenas e vilas deste país contra todo aquele que tenha ideias diferentes do status quo do partido frelimo. Além das culpas que cabem a liderança da renamo pela pesada derrota- pelo menos 25 a 30 % dos votantes para a frelimo fizeram-no por coação psicológica. Para o futuro Queremos um país em que o barometro para ocupar cargos publicos, ser funcionario do Estado, empresario, etc seja a competencia e o patriotismo, não a filiaçao partidária. Não queremos voltar aos tempos dos Grupos Dinamizadores, aos tempos em que se deveria controlar tudo e todos. Não nos esqçamos de quem era comissário politico na altura... VIVA O OBAMA DO CHIVEVE E QUE SALVE A PÁTRIA.
Caro Laude Guiry,
Posso em parte concordar contigo, porém, há uma coisa que há cinco anos, um amigo me dissera e eu não acreditava. Afonso Dhlakama é imprevisível. Num momento ele pode manifestar atencão dos seus assessores, manifestar humildade e tudo aquilo que é positivo para um líder, mas noutro momento ele pode ser um indivíduo totalmente diferente. Hoje dou muita razão ao tal amigo, veja que desde 2005 ele manifestou publicamente essa sua postura. Os mocambicanos já o conhecem bem.
Eu acho que o que ficou para ele próprio, para os renamistas e para a sociedade mocambicana em geral é como honorificá-lo e para tal, ele, AFONSO DHLAKAMA, devia demitir-se já do cargo de presidente, assumindo a culpa pela derrota da Renamo nestas eleicões.
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