15 novembro 2008

As multidões de Daviz Simango (4)


Então, de onde vem o carisma de Simango, numa terra que pertence a uma área de rebeldia histórica sistemática que tem muitos séculos, o vale do Zambeze?
Não tenho qualquer dúvida de que o uso que Deviz tem feito da Renamo tem contribuído para o seu prestígio.
Mas o cerne do seu carisma não está aí: está nos seus feitos, naquilo que, efectivamente, tem feito e feito fazer numa Beira votada ao abandono pelos anteriores edis. Qualquer auscultação ligeira aos munícipes da cidade e da sua periferia mostra isso inequivocamente. Os nossos olhos podem perfeitamente verificar que a devização da Beira é uma realidade.
Mas mais: o seu carisma está agora ampliado pela coragem e pela independência mostrada não apenas em relação à Frelimo, mas, também, em relação à Renamo. Ele é, a esse respeito, duplamente vencedor, é como que o herdeiro da histórica rebeldia dos mussitos e das aringas zambezianas, tornou-se - permitam-me a expressão - o chefe de uma butaca singular, o senhor dos neo-quilombos por terras do Chiveve.
Finalmente: Deviz Simango é o primeiro e emblemático exemplo na nossa história pós-1975 de uma afirmação política vitoriosa contra a hegemonia dos partidos.
(fim)

5 comentários:

Voz da Revolucao disse...

Professor Serra.

Concordamos em parte consigo, mas saiba que Daviz não chegou onde chegou sozinho.
Essa glória toda que o Sr dá ao Daviz Simango até daria inveja a Jesus Cristo ou ao Profeta Maomé ou mesmo ao Barack Obama.
Mas nós preferimos esperar e voltar a contactá-lo depois de 19 de Novembro para vermos se as suas expectativas "aparentes" têm ou não efeito.

umBhalane disse...

"Até ao lavar dos cestos é vindima."

De facto, no fim se farão as contas.

Mas o facto é que Daviz Simango fez uma sementeira, e mesmo que a sua colheita não seja boa, as sementes levadas pelo vento, as que caírem na terra, aquelas que as Perdizes não quiseram ou não conseguiram comer...

hão-de GERMINAR!

E, aí Daviz Simango

tem já um capítulo na história,

ele, e os que o rodeiam, que estão com ele.

Reflectindo disse...

Umbhalane, quem não é cego sabe do que dizes: Daviz Simango tem um capítulo na história; Daviz Simango é pioneiro.

Nelson disse...

Deviz Simango mostrou que nao se precisa andar sempre "debaixo da saia" dum partido politico.
Mostrou que quem serve o povo e serve bem tera o povo do seu lado.
Os reultados do dia 19 de Novembro podem ate ser desfavoraveis a Deviz(para a infelicidade dos Beirenses) mas fica realmente escrito na historia

Jornadas Educacionais disse...

Ao Voz da Revolução:

O Deviz, certamente, não chegou lá sozinho, pois, antropologicamente falando, "ninguem é uma ilha". As previsões do professor Serra podem não ser confirmadas, certo. Mas, quero acreditar que a não confirmação dessas previsões pode não ser uma expressão da reprovação dos seus feitos pelos eleitores no dia 19 de Novembro. Não tenho certezas, mas quero acreditar que assim será!

Conheço a Beira, lá cresci e, quando voltei depois de uma longa estada fora do país, era apenas lastimável: parecia uma cidade que havia passado por uma guerra.

O Daviz não fez sozinho, com certeza, teve toda uma equipe. Mas, se ele não tivesse vontade de nada fazer, como sempre aconteceu, ficando a usufruir das benesses do cargo, como na era Chivavisse, nem um pouco teria sido feito.

Por outra, também pode-se argumentar, como o faz a caixa da ressonância da Pereira do Lago, que tudo foi obra do centralismo democrático, hoje burocrático. Sendo assim, o que teria levado os "centralistas" a assim procederem? Medo da liberdade? Era necessário estar alguem que "não é conosco"para se mexer uma palha, em jeito de caridade aos beirenses? Eles foram sempre excluidos conotados com a oposição: ao final de contas não são moçambicanos e, como tais, sujeitos de direitos?

A luta contra Deviz movida pela nova-aliança passageira é para conduzir a Beira ao "grau zero de conhecimento" parafraseando Ivan Dominguez?

Abraços