Diário de campanha das eleições autárquicas em Moçambique (19)

Prossigo esta série.
1. Como já reportei neste diário, o candidato da Frelimo a edil da Beira, Lourenço Bulha, em obra de engenharia funerária eleitoral, prometeu aos beirenses instalar uma carpintaria para fabrico de caixões de distribuição gratuita. O candidato independente Daviz Simango - triplamente atacado pela Frelimo, pela Renamo e, agora também, pelo PDD - aproveitou o lema da campanha bulhaniana e disse o seguinte num concorrido comício, sábado passado em Chungussura, bairro da Manga, periferia da cidade da Beira: "Eu entendo que os beirenses não estão condenados à morte, por isso, ao invés de dar às populações caixões tal como pretende Lourenço Bulha, prefiro dar mais hospitais para aquela gente que o candidato da Frelimo quer ver nos caixões (...)" (semanário "Savana" desta semana, p. 16).
2. Enquanto isso, fonte bem informada do semanário "Zambeze" disse-me hoje que alguém tentou comprar esta manhã na cidade da Beira todos os exemplares do jornal, aparentemente porque tem inserto um trabalho que refere que Bulha está envolvido num negócio ilegal de terra.
3. O editorial do "Savana" desta semana, já à venda, prevê grande abstenção nas eleições de 19 de Novembro, dada a descrença em que algo de significativo possa mudar. E observa: "Há coisas tão bizarras como o cavalo de batalha em que dirigentes da Frelimo tentam tirar o mérito do actual Presidente do município da Beira, dizendo que todas as realizações feitas naquela cidade desde 2004 foram obra do governo central, dirigido pela Frelimo. Esta é uma afirmação infantilista que pode induzir em erro em que o governo central não tem responsabilidades no desenvolvimento dos municípios, e que sempre que o faz é por uma questão de caridade." E o semanário termina assim o editorial: "De que vale votar? Interrogam-se os que ainda têm algum rastilho de massa cinzenta." (p. 6).