Vale a pena ler o editorial do "Notícias" de hoje e verificar como a revolta popular na cidade de Maputo é analisada. Aqui vou, apenas, salientar os aspectos que me pareceram mais significativos, destacando-os em três unidades. O leitor lerá depois todo o texto:
Problema: a mão externa
"Se a reivindicação poderia, em grande medida, ter um fundo de justeza, um aspecto que saltou à vista foi que, uma vez mais, ficou provado que é preciso ter atenção com o aproveitamento de diverso tipo que é dado a este tipo de acontecimentos por pessoas com outras agendas que não o problema de fundo."
Tese: o Moçambicano é pacato, a mão externa é que o estraga
"Em poucas horas praticamente todos os bairros suburbanos de Maputo e Matola, e depois os de cimento, foram literalmente tomados por vândalos movidos por outros interesses, que não o de ver resolvido o problema do preço do transporte. Não é apanágio do moçambicano pacato, mesmo quando se sente com a razão do seu lado, agir no sentido de prejudicar cidadãos que não tenham nada a ver com a questão em discussão."
Precaução: alerta contra a mão externa
"Há, por outro lado, que chamar a atenção daqueles cidadãos que se manifestam por motivos até justos, para estarem alerta contra os que se vão sempre aproveitar da situação para satisfazer os seus interesses."
Confira aqui todo o editorial.
Comentário: em circunstâncias normais, o povo não se revoltaria, ele é por natureza pacífico, por essência bovino, tem uma capacidade oceanal para suportar tudo. A crítica é-lhe omissa, já nasceu omisso, menos em saber qual é o "problema de fundo" do editorial do "Notícias". Qual é o "problema de fundo"? O "problema de fundo" é o "problema de fundo", evidentemente. O pão encareceu? O chapa ficou mais caro? Mas qual o problema? Esse não é o "problema de fundo". Se o pão encareceu e se o chapa chapou a vida, não se come pão ou não se chapa ou come-se e chapa-se com a consciência seráfica de que tudo tem a ver com as leis do mercado internacional. O povo aceitaria e aceita tudo isso, já na placenta da história sabia disso porque tudo é normal e não é o problema de fundo. O problema de fundo é que, em circunstâncias normais (com pão e chapas mais caros, isso é normal), sempre surgem interesses obscuros anormais, agendas externas, mãos perigosas que desviam o bom povo do seu caminho pachorrento e vegetal. Seja o que for que aconteça, mantenha-se o céu onde está ou caia ele, rebente mais um paiol de Malhazine ou não, o povo aguenta, o seu coração é feito de diálogo inteligente, os seus dias são a rotina da alegria. Só não aguenta quando a mão externa o desvia do seu pacato leito de aguentação. E assim - coisa abominável, situação absurda - tivemos um governo a fazer marcha atrás na entrada em vigor das novas tarifas dos chapas por causa da mão externa que colocou arruaceiros no bom caminho do povo pacífico. Finalmente: tenho inúmeras vezes analisado aqui a síndroma da mão externa ou estrangeira a propósito dos mais variados temas. Leia ou recorde aqui.
1.ª adenda às 01:05: vamos a ver como será a vida hoje em Maputo, se os chapas circularão ou não, vamos a ver se surge alguma decisão do diálogo entre o governo e a confederação dos transportes semicolectivos.
"Se a reivindicação poderia, em grande medida, ter um fundo de justeza, um aspecto que saltou à vista foi que, uma vez mais, ficou provado que é preciso ter atenção com o aproveitamento de diverso tipo que é dado a este tipo de acontecimentos por pessoas com outras agendas que não o problema de fundo."
Tese: o Moçambicano é pacato, a mão externa é que o estraga
"Em poucas horas praticamente todos os bairros suburbanos de Maputo e Matola, e depois os de cimento, foram literalmente tomados por vândalos movidos por outros interesses, que não o de ver resolvido o problema do preço do transporte. Não é apanágio do moçambicano pacato, mesmo quando se sente com a razão do seu lado, agir no sentido de prejudicar cidadãos que não tenham nada a ver com a questão em discussão."
Precaução: alerta contra a mão externa
"Há, por outro lado, que chamar a atenção daqueles cidadãos que se manifestam por motivos até justos, para estarem alerta contra os que se vão sempre aproveitar da situação para satisfazer os seus interesses."
Confira aqui todo o editorial.
Comentário: em circunstâncias normais, o povo não se revoltaria, ele é por natureza pacífico, por essência bovino, tem uma capacidade oceanal para suportar tudo. A crítica é-lhe omissa, já nasceu omisso, menos em saber qual é o "problema de fundo" do editorial do "Notícias". Qual é o "problema de fundo"? O "problema de fundo" é o "problema de fundo", evidentemente. O pão encareceu? O chapa ficou mais caro? Mas qual o problema? Esse não é o "problema de fundo". Se o pão encareceu e se o chapa chapou a vida, não se come pão ou não se chapa ou come-se e chapa-se com a consciência seráfica de que tudo tem a ver com as leis do mercado internacional. O povo aceitaria e aceita tudo isso, já na placenta da história sabia disso porque tudo é normal e não é o problema de fundo. O problema de fundo é que, em circunstâncias normais (com pão e chapas mais caros, isso é normal), sempre surgem interesses obscuros anormais, agendas externas, mãos perigosas que desviam o bom povo do seu caminho pachorrento e vegetal. Seja o que for que aconteça, mantenha-se o céu onde está ou caia ele, rebente mais um paiol de Malhazine ou não, o povo aguenta, o seu coração é feito de diálogo inteligente, os seus dias são a rotina da alegria. Só não aguenta quando a mão externa o desvia do seu pacato leito de aguentação. E assim - coisa abominável, situação absurda - tivemos um governo a fazer marcha atrás na entrada em vigor das novas tarifas dos chapas por causa da mão externa que colocou arruaceiros no bom caminho do povo pacífico. Finalmente: tenho inúmeras vezes analisado aqui a síndroma da mão externa ou estrangeira a propósito dos mais variados temas. Leia ou recorde aqui.
1.ª adenda às 01:05: vamos a ver como será a vida hoje em Maputo, se os chapas circularão ou não, vamos a ver se surge alguma decisão do diálogo entre o governo e a confederação dos transportes semicolectivos.
2.ª adenda às 7:46: a Rádio Moçambique (RM) tem o repórter António Jamal na rua para informar sobre a situação do transporte na cidade de Maputo. Às 6:02, Jamal entrou em rede com os estúdios centrais da RM, começando por fazer uma introdução dizendo que os chapas não circulavam, mas que, ao fim e ao cabo, andar a pé também tem vantagens para a saúde, como acontece com as pessoas que a isso se dedicam no circuito António Repinga. O repórter ouviu uma senhora que lhe disse estar ali, no circuito, não por falta de transporte mas por causa da saúde. Após esta brincadeira de mau gosto, Jamal regressou ao trabalho de rua, tendo reaparecido em rede cerca das 7:30, para contar que havia muita gente nas paragens em vários pontos da cidade, mas que, por um lado, poucos eram os chapistas que se aventuravam ao transporte e, por outro, que não se via um único autocarro dos TPM, os transportes públicos da cidade. O que falta saber é por que razão a RM não foi ouvir os responsáveis dos TPM, TPM que investiram em autocarros de luxo para servir turistas e viagens interprovinciais; o que falta saber é por que a RM não foi perguntar ao ministro dos Transportes e Comunicações a razão por que o Estado não requisitou a frota dos TPM para servir o povo de Maputo.
3.ª adenda às 7:52: não há aulas nas escolas Malhazine (Bairro de Malhazine), Quisse Mavota (Bairro do Zimpeto) e Mubukwane (Bairro do Benfica, zona de Dimitrov), as portas estão fechadas; os chapas não circulam - acaba de me informar um assistente meu, morador no Bairro de Inhagóia.
4.ª adenda às 8:15: um novo blogue, em inglês, da jornalista Zenaida Machado. Bem-vinda, Zenaida. E, leitores, leiam o que ela escreveu sobre a situação em Maputo.
5.ª adenda às 8:49: o vice-ministro do Interior, José Mandra, surge hoje no semanário "Zambeze" a dizer que eram marginais (sic) quem se manifestou na revolta popular de Maputo (p. 2), posição severamente criticada pelo jornalista Ericino de Salema (p. 28). Mesmo que o vice-ministro Mandra tivesse razão (e, certamente, não a tem), ser-lhe-ia necessário explicar por que razão há tantos marginais nas cidades de Maputo e Matola, dado que a revolta foi generalizada, ser-lhe-ia necessário analisar o sistema social que produz marginalidade a jorros. Entretanto, curiosamente, o semanário "Magazine Independente" não dedica na sua edição de hoje uma única linha à revolta, tendo feito do caso das 40 crianças a sua manchete, criticando severamente a forma superficial como o Estado está a tratar tão delicado caso. O editorial de Salomão Moyana intitula o Estado de "demissionário" (p. 7).
6.ª adenda às 8:58: excepcionalmente difícil encontra gazolina na cidade de Maputo.
7.ª adenda às 9:16: o Diário de um sociólogo acaba de atingir a chapa 100 mil. Tudo isso muito rapidamente graças ao afluxo recorde de leitores nos ultimos três dias, que ontem atingiram 2.176, com 3.985 páginas lidas. Muito obrigado a todos pelo interesse.
8.ª adenda às 9:59: não consegui encontrar gazolina (deixem-me escrever com "z", adoro-o). A Shell na Av.ª Karl Marx tem, mas há lá uma longa bicha (aos leitores brasileiros: bicha não significa gay, mas fila de pessoas ou de carros).
9.ª adenda às 10:30: vi dois chapas na Av.ª Julius Nyerere hoje, a caminho do campus da Universidade Eduardo Mondlane. Mas as duas bombas de combustível que lá estão não o têem.
10.ª adenda às 12:57: vi uma carrinha de caixa aberta a servir de chapa. Uma moradora do Bairro Inhagóia disse-me que há muitos carros de caixa aberta a fazerem de chapas.
11.ª adenda às 13:35: sobre o a revolta iniciada a 5 de Fevereiro, leia, nas edições de hoje, a AIM aqui e o mediafax aqui. Obrigado ao Egídio Vaz pelo envio dos jornais.
12.ª adenda às 15:04: o ministro da Indústria e Energia, Salvador Namburete, acabou de intervir na Rádio Moçambique (noticiário das 15:00) por causa da falta de combustível na cidade, especialmente da gazolina. Afirma que os tumultos eclodidos na terça-feira perturbaram a distribuição por parte das empresas, mas que hoje começou o reabastecimento regular aos postos de venda. Afirmou ainda que está a ser feito um levantamento na Matola e em outras cidades para se saber se também são afectadas pelo problema.
14.ª adenda às 16:13: Através de Eduardo Namburete, a bancada da Renamo/União Eleitoral responsabilizou o governo da Frelimo e os transportadores dos semicolectivos pela "decisão desconcertada" (sic) de aumentar as tarifas dos chapas e condenou igualmente a polícia por atirar a matar, pelo que o governo deve assumir a total responsabilidade do sucedido. Por sua vez, pela voz de Feliciano Mata, a bancada da Frelimo afirmou que o pronunciamento da Renamo consistia em legitimar os "actos de oportunismo e vandalismo" (sic) cometidos nas manifestações e elogiou o governo por ter agido com responsabilidade (Rádio Moçambique, noticiário das 16:00).
15.ª adenda às 16:15: O Jorge Saiete pega no tomate e coloca assim a situação em caso de aumento das tarifas dos chapas: "É que com o aumento do preço do chapa, o já elevado custo de vida torna-se insuportável para o cidadão comum. Um olhar mais atento, ajuda-nos a compreender que o aumento do preço do chapa, afecta automaticamente o custo doutros produtos e serviços indispensáveis. Pensemos apenas nas mamanas que vendem tomates nos nossos bairros. O tomate que elas vendem é comprado no Fajardo ou no mercado de Zimpeto. O custo naqueles mercados vai aumentar como consequência da subida do preço do chapa que traz o produto de Chokwe ou doutro ponto. E para além deste aumento, que já se reflectiria no preço ao consumidor final, há ainda a considerar que há outro chapa que se apanha de Fajardo ou Zimpeto até a esquina ou mercado do nosso bairro onde todos acorremos para adquirir aquele incontornável produto em nosso prato!!! Se os bolsos de muitos de nós eram rotos, ficarão ainda mais com o aumento do preço do chapa 100."
16.ª adenda às 16:35: até este momento não existe ainda nenhum pronunciamento governamental sobre as conversações com a federação dos transportadores.
17.ª adenda às 17:11: permitam-me deixar aqui algumas ideias canhestras. Seja o que for que venha a decidir-se nas conversações entre o governo e a federação de transportadores, não se decidirá, certamente, aumentar as tarifas dos chapas. Por outras palavras: só poderá decidir-se nada se decidir em termos de aumento. O Estado está agora refém de uma má decisão, de uma precipitação, o de ter suposto que as pessoas aguentariam mais um peso à Sisífo: o seu destino é o de não aumentar as tarifas. Se o fizer, se as aumentar, se as deixar aumentar, expõe-se ao alargamento da zona sísmica social já existente em Maputo e à perda drástica de legimitidade nas margens das eleições. Naturalmente que os transportadores têm todo o interesse em incrementar os seus lucros e por isso estão em posição aparente de vantagem. Mas também eles são agora reféns do povo: se embarcam em aumentos, o povo embarca em terramotos sociais. Finalmente: o Estado, que aprendeu a tornar-se refém dos transportadores privados e que por isso tem que arcar com ónus do problema, parece ainda não se ter lembrado de reactivar a empresa de transportes públicos, empresa cuja frota ainda não requisitou quando o povo vive dificuldades. Se o Estado abdica disso e se deixa tudo ao bom-senso de um acordo razoável com os transportadores, abdica do seu povo. Se abdica do seu povo, pagará uma cara factura política. Neste momento, de nada adianta estar a atribuir aos marginais, aos arruaceiros, as causas de um problema, de um sismo social que nada tem a ver com marginais. Ou melhor dito: tem a ver sim, tem a ver com os marginais, com os marginalizados do bem-estar, com os excluídos de um sistema social que os produz e reproduz diariamente.
23 comentários:
obrigado pelas adendas que vai dando em relacao a situacao que se vive em Maputo.
Aproveito pela presente lhe aprese ntar um novo blog http://www.aminhavozz.blogspot.com/ da jornalista Zenaida Machado.
Um abraco
Ouri Pota
"De uma simples manifestação popular contra o agravamento da tarifa dos “chapa”, os acontecimentos cedo evoluíram para um estágio de violência, destruição e saque, ao extremo de a dado momento não haver lugar nenhum que fosse seguro para a circulação." jornal de noticias
Parece que o "jornal de noticias" nao percebeu nada. As coisas nao evoluiram para estagio algum de violencia. A violencia esta ai, todos os dias, so nao vê quem nao a quer ver. Infelizmente, nòs, seres humanos so olhamos para o "sofrimento espetaculo" o resto nao interessa. Todas as manifestaçoes de sofrimento, sinais de descontentamento, sao invisiveis, incolores e inodoros. como observar? esfriemos os animos e procuremos honestamente as causas do problema, para bem da naçao.
sera que o descontentamento dos cidadaos resume-se unica e exclusivamente ao aumento do preço do pao e dos transportes colectivos? Ou o aumento do preço do pão e dos transportes foram o mobil, que deu visibilidade à violencia latente no seio do "pacato" cidadao moçambicano? i.a.
Prezado Professor!
Estamos gratos por mais uma prestacao patriotica a nacao na diaspora: refiro-me a diaspora provincial e internacional.
Para os mocambicanos fora de Maputo o seu blog foi a unica fonte fiel e fidedigna do que acontencia na nossa capital!
Em nome desses anonimos e pacatos cidadaos goataria de lhe apresentar aqui e agora o meu TRIBUTO PATRIOTICO, pois so assim, com CIDADAOS da sua envergadura poderemos pedra a pedra contruir um Mocambique genuino!
Um abrcao,
Manuel de Araujo
CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA REPUBLICA A PROPOSITO DA REVOLTA POPULAR EM MAPUTO!
Sua Excia Senhor Presidente da Republica,
Excia,
Dirijo-me a si, na sua qualidade do mais alto magistrado da nacao!
Excia,
Um acontecimento sem precedentes registou-se ontem na capital do pais. Pela primeira vez depois da independencia nacional a populacao de Maputo saiu a rua com um unico proposito- dizer de forma clara e inequivoca de que ja esta farto das instituicoes estatais e que pelo menos desta vez, iria resolver os seus problemas, usando as suas proprias maos! Trazendo para si, a solucao dos seus problemas! E para surpresa de todos, RESOLVEU!
Excia, como deve se recordar os manuais da teoria do estado, dizem que o estado nasceu quando o povo decidiu passar parte da sua soberania para uma entidade propria, em troca de bens publicos -seguranca, estradas, justica entre outras. E que tal entidade exerceria o poder e a soberania 'emprestada' em nome desse povo, estabelecendo assim uma especie de contrato social, com direitos e deveres de ambas as partes!
So que no nosso caso Excia, parece que o contrato social se rompeu, ou esta em vias de se romper. Uma das partes, o povo, cansou-se da ineficiencia da outra. Cansou-se e parece que quer recuperar, se nao toda, pelo menos uma parte dos poderes 'emprestados'. So que Excia, a historia mostra-nos que quando o poder cai na rua, as consequencias podem ser catastroficas, porque muitas as vezes ao inves de usar a razao, o povo pode decidir baseado em emocoes, com consequencias catastroficas para ele proprio e para o estado.
Excia, dizia eu, que um acontecimento sem precedentes se registou ontem. Um acontecimento que a seu ver pode parecer minusculo, uma pequena ranhura no edificio da democracia. Mas essa ranhura pode ser apenas a ponta do iceberg! Oxala estejamos enganados.
Este acontecimento deve ser analisado de forma franca e fria pela sociedade mocambicana. Pela classe academica, empresarial e politica, porque pode vir a ter consequencias graves para a legitimidade e sobevivencia do estado mocambicano.
Uma coisa e a populacao de um bairro fazer justica pelas proprias maos, aticando um pneu na rua, ou no corpo de um suspeito ladrao ou assassino. Outra coisa, e a nosso ver, a populacao de varios bairros, quase que de forma espontanea sair das ruas e dizer nao a uma medida social.
Criou-se um precedente. E o 'recuo' do governo ou de quem quer que tenha tomado a decisao, mostrou inequivocamente e feliz ou infelizmente, que a solucao, por mais racional ou irracional que pareca , FUNCIONA!
Ora funcionando entao, a logica dita que pode vir a ser re-activada! E ao ser reactivada, quando as circumstancias assim o obrigarem, estara consumada a des-legitimizacao do estado, que infelizmente iniciou a anos, mas que ontem atingiu um ponto sem retorno!
Excia,
Os sinais de uma possivel convulsao social nao sao de hoje. A justica pelas proprias maos, a nao participacao nos actos eleitorais ou seja o elevado numero de abstencoes em momentos eleitorais, o crescimento da criminalidade, os niveis de corrupcao endemica, a fraca produtividade, sao sinais inequivocos de uma sociedade amordacada que clama sem ser ouvida. Ou por outra, de uma sociedade que no minimo nao tem mecanismos para ser ouvida e influenciar decisoes. E isso e grave Excia.
Como deve saber Excia, nao e por acaso que as tampas das panelas tem furos. Furos esses que permitem que parte da energia proveniente do calor se va libertando aos poucos. Infelizmente, parece que a tampa da nossa panela social tem tais furos entupidos. E cabe a si, entanto que magistrado mais alto da nacao e por imperativo constitucional, tomar conta e ordenar a limpeza de tais 'furos sociais' para que a forca, a energia se va libertando de forma ordeira.
A nosso ver, este aspecto deve ser analisado com algum cuidado. Recordemo-nos dos varios estudos sobre a situacao social e a possibilidade de erupcao de conflitos violentos em Mocambique, feitos por entidades quer nacionais quer internacionais(DfID, Swuiss Peace e outros).
Excia,
Gostaria de chamar a sua atencao para um outro ponto. O grau de violencia das manifestacoes, que nao pouparam as suas vitimas fossem elas agentes do estado ou privados. Ou seja a panela estava tao quente (e a populacao tao 'aborrecida') que nao lhe interessavam as consequencias dos seus actos. Foram partidas montras, partidos vidros de carros publicos e particulares, e mesmo um posto de abastecimento de combustivel nao foi poupado! E como mandam as regras de qualquer estado que se pretende de direito, a responsabilidade por estes danos cabe ao estado, pois e o estado que detem o monopolio da volencia e tem o dever de garantir a seguranca quer dos bens como dos individuos. E ontem o esatdo falhou nessa garantia.
Mas para mim, acima de tudo isto ficou, uma mensagem clara e indelevel para a sociedade Mocambicana e quica para a comunidade internacional. O velocimetro que estamos a usar para medir a nossa velocidade nacional; o termometro que estamos a usar para medir a temperatura do nosso corpo nacional, nao e nosso e nem foi feito para seres humanos da nossa especie! A medida para os nossos problemas, o juiz do nosso progresso social nao e, e nao deve ser o Banco Mundial!
Explico-me Excia,
Os disturbios acontecem um dia depois de o presidente do Banco Mundial em pessoa, ter visitado o pais (Maputo, Sofala e Inhambane)e ter dado nao apenas uma nota positiva ao governo, mas sim uma nota de despensa!
Estao Excia, como e que se explica que depois de despensar com nota de luxo, menos de 24 horas passadas temos a convulsao que temos?
Para mim Excia, o povo, esse 'animal' soberano chumbou nao apenas a despensa dos senhores do mundo como dos seus colaboradores nacionais, que V. Excia representa, dizendo com voz propria e bem audivel-BASTA!
Reflictamos pois mocambicanos sobre os caminhos a seguir! Tenhamos a coragem e destreza necessaria para longe de emocoes momentaneas ou Mandraianas, dicutirmos a sombra da mafurreira ou da mangueira o pais real- o nosso pais real e nao o pais deles. Sim, o pais real, e nao o ficticio ou das aritimeticas de Bretton Woods.
Ja dissemos em varios foruns para quem nos quis ouvir que 'crescimento economico nao e igual a desenvolvimento'!
Nao permitamos que o nosso estado se des-legitimize ao ponto de nao servir para resolver os problemas mais elementares da sobrevivencia humana! O povo soberano falou, falta sabermos se os detentores do poder, a classe academica, empresarial e sobretudo a politica tem ouvidos para ouvir! Falta saber se havera destreza necessaria para diagnosticar o mal pela raiz ou entao, se uma vez mais, esconderemos a cabeca deixando o rabo de fora, dizendo que o 'povo foi instrumentalizado', que o povo foi 'usado' que as manifestacos foram 'organizadas' por forcas externas, os tais e eternos 'inimigos do povo e da nacao mocambicana'. Afinal 'Quem e o inimigo?
Excia,
Chega de Quenias, chega de Chades, chega de Liberias, chega de Serra Leoas, Eritreias, Congos!
Defendamos a nossa sobrevivencia entanto que NACAO mocambicana! O senhor, como o mais alto magistrado da nacao, tem uma palavra a dizer na forma como e gerida a 'coisa publica'! O seu silencio em momentos de convulsao social como esta preocupa-nos!
Nao nos esquecamos nunca de que a soberania reside no povo e nao na comunidade internacional ou entao nas instituicoes de Bretton Woods, por mais uteis que sejam a nossa sobrevivencia!
Aguardamos o seu pronunciamento e quica o cachimbo da paz social!
Sabemos que recentemente fez anos. Tambem sabemos que acaba de celebrar tres anos do seu mandato. Seria de mau tom terminarmos esta carta sem lhe desejarmos parabens e 'bom apetite' no consumo da prenda que o povo de Maputo lhe ofereceu ontem!
E mais nao disse!
Manuel de Araujo
Posted by MANUEL DE ARAÚJO
É quanto a mim uma análise muito deficiente essa apresentada no editorial do Savana.
Obrigado, Ouri, irei futuramente falar desse novo blogue. Obrigado ao anónimo. Manuel, já tinha colocado em adenda a sua carta.
Não é o editorial do "Savana", Nelson, mas do "Notícias"...
O Nelson esta mesmo distraido. As vezes tenho dito que o Jornal Noticias consegue ser mais parcial do que o boletim da Frelimo" Ngoma".
Este artigo nao e tao ingenuo como nos pode parecer a primeira vista, revela em si, a posicao do pensamento ideologico do poder.
Acredita editor que entre nos esta tudo bem, e que as dificuldades de trasnporte e da carencia de vida das populacoes e um processoo... processso.. processo, que um dia tudo vai melhorar, mas que as forcas externas, com objevtios obscuros querem derrubar o governo para impor os seus ideias.
Existe sim uma mao extrena na goverancao, interesses bscuros, que nao quer ver que o Estado ser mais interventivo nos assuntos sociais, relega para o mercado a oferta de servicos basicos, provavelmente com interesse de se substitur ao estado oferecendo viaturas paraticulares( vide quem sao os proprietarios das maiores frotas de chapas).
Veja-se quem sao os donos do futuro hospital privado, das Universidades privadas, etc...
No meu modesto enteder ha uma externa que pretende remeter o povo a escravidao para melhor governar.
O que me interessa dizer e que o jornal noticias assume um discurso do lado errado, este e um tipico discurso da esquerda, mas o patrao do Noticias tem vicios da direita, trata-se de um vicio de racipcionio, actulaize-se senhor editor do Noticias.
Muzima
Parabens pelo valiosissimo trabalho,digamos que na esteira do malogrado Carlos Cardoso.
Na memoria dos mais velhos tudo faz lembrar o sinistro 7 de Setembro em que o povo se manifestou contra os renitentes colonos...mas o povo nao chegou desta vez,a violencia de outrora e ainda bem pois nesse tempo o inimigo era visivel e identificavel,hoje apenas os valores materiais sao visiveis e identificaveis mas convem a quem de direito nao menosprezar a simplicidade ,humildade e miseria do povo ,pois ja ha bastante tempo que jovens musicos num discurso hip hop veem anunciando que o povo nao e tao estupido assim g profam ,azagaia etc
Sempre ouvi dizer que nos jovens sentimos o cheiro do futuro ,podemos ler as linhas com que iremos cozer amanha esta patria hoje hipotecada por gente sem escrupulos e de apetite voraz e insaciavel...que a voz dos jovens se faca ouvir cada vez mais alto pois e deles o presente e o futuro. saudacoes democraticas
Quis escrever Notícias. Distracção mesmo. Vive-se tão misturado como acabo de dizer(escrever) no meu mundo.
Parabéns querido Professor!
Atingiste o bonito nº de 100.000 leitores em menos de 2 anos!
Mereces pelo teu trabalho pela tua luta!
Agora vou confessar-te que tou com uma pontinha de inveja. Fui a tua leitora 100.001
Força! Nós continuaremos contigo.
Parabéns!
100.000 bem antes do aniversário que se não estou distraido só chega em Abril.
Vale a pena continuar.
Veja até onde vai a criatividade das pessoas
"Desta vez o Governo viu que a paciência dos moçambicanos tem limites,
mortos, feridos e danos incalculáveis, se quiser ver o pior
que aumente o preço da CERVEJA..."
[fonte: SMS]
Caro Sociólogo:
Obrigado pelas adendas que, de certa forma, me manteram a mim e à minha família informados.
Sim, de facto gasolina é com "s", e de facto o senhor pode escrever como quiser... ehhehe!
Só para avisar que há gaZolina nas bombas em frente ao clube Marítimo, na Marginal!
Cumprimentos!
hehehe, com ou sem Z, também há gaZolina na Bomba Petromoc da Vladmir Lenine.
Não sei como pude ficar tanto tempo sem saber da existencia deste blog. Sou visitante assíduo desde ontem. Parabéns professor! 100 mil é uma bela recompensa pela sua dedicação. Que venham os 200 mil agora :)
Queria perguntar ao sociologo quais os cenarios possiveis a medio prazo para este nosso pais depois que o povo ter tomado nas maos a resolucao dos seus problemas,visto o governo estar a anos luz da realidade e das prioridades...exemplo o Presidente da Republica esta neste momento a sobrevoar Mabote e Machanga depois das populacoes ja estarem mais do que secas, tanto no estomago como na pele e ate as aguas ja estarem a baixar...deixando para depois a verdadeira calamidade social que se vive em Maputo_...diga professor de sua sapiencia por favor
Atencao que nao encontrei gasolina em seis bombas e que, na sexta,encontrei os ultimos vestigios.
O que se passa?
Entretanto, grande eparte dos trabalhadores a residir na Matola nao compareceu ao servico em Maputo e vice-versa.
E o silencio continua, nao vemos solucoes algumas por parte deste Governo, sem mesmo, por exemplo, anunciando o reforco imediato do transporte publico. Ha mecanismos para o efeito. So nao ha vontade.
Trata-se de um verdadeiro estado de "desgoverno" E atencao, vem ai a subida do preco do pao, Sabado, nao e?
problema esta nos outros, esta fora de nos outros - foram os outros que detemrnaram a subida dos precos dos combustiveis e, portanto, nada a fazer; foram os outros que provocaram os disturbios e, portanto, toca a bater; foram os outros que destruiram o servico publico de transportes e, portanto, toca a aguentar.
Ate quando?
Prezado Professor Serra!
Muitos parabéns pelo número de cem mil visitantes de todo o mundo em tão pouco tempo! Os números falam por si. Só posso aplaudir. Parabéns também por um espaço sempre actual e sempre interessante. Admiro a coragem do Professor, as informações de credibilidade e a cultura democrática aqui. Espero que o Professor continue a informar-nos por muito e muito tempo.
Abraços
Oxalá
Sr.,
Parabéns pela informação correcta sobre a falta da gasolina na cidade. É impressionante como veículos irresponsáveis vêm divulgando rumores sem mesmo confirmar com fontes fidedignas.
É claro que não se trata de uma greve das gasolineiras. Trabalho numa delas e confirmo. Infelizmente não podemos ir à TV falar isso, por precaução.
O fornecimento, conforme disse o Ministro, está-se a normalizar a partir desta tarde.
parabens professor! parece que ha muita discusao em quase todas a esquinas sobre revolta popular. estamos todos traumatizados. e agradeco este blog por ser mais aberto a varias opinioes. os bloguista chapa100 e bayano valy fazem uma analise interessante sobre estas manifestacoes nos seus blogues, ainda bem que ja temos varios opinion makers que poem a boca no trombone.
A diaspora internacional tambem agradece ao professor! Foi a unica fonte de informacao actualizada sobre o que ia ocorrendo em Maputo e Matola. O numero de leitores e suficientemente elucidativo do significado deste blog. Esta de parabens o Professor. A luta continua!
Anda uma mensagem a circular afirmando que amanhã irá haver uma manifestação dos chapeiros...confirma-se?
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