Vimos, no número anterior, que as causas dos problemas sociais são transferidos não para entidades sociais, mas para entidades meta-sociais.
Dessa maneira, a legião de médicos tradicionais do país cumpre uma dupla função: técnica-cultural e ideológica.
Técnica-cultural, de forma directa, por se constituir como organizadora e reprodutora do conjunto das práticas de detecção, de terapia e de sanções que correspondem às crenças sobre a origem da infelicidade, da doença ou da morte, no sentido usado por Marc Augé, citado no primeiro número.
Ideológica, de forma indirecta, por se constituir como ocultadora das relações sociais, legitimando ad infinitum a ordem e o pensamento dominantes, transferindo para seres extra-humanos a responsabilidade de actos humanos. Mesmo quando estamos perante acusados concretos, eles apenas são o receptáculo amorfo de entidades que os transcendem porque extra-humanas.
Ideológica, de forma indirecta, por se constituir como ocultadora das relações sociais, legitimando ad infinitum a ordem e o pensamento dominantes, transferindo para seres extra-humanos a responsabilidade de actos humanos. Mesmo quando estamos perante acusados concretos, eles apenas são o receptáculo amorfo de entidades que os transcendem porque extra-humanas.
Por isso os médicos tradicionais são culturamente necessários (organizam as causas dos fenómenos) e politicamente úteis (ocultam teoricamente as reais causas desses fenómenos).
(fim)
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