Povo no poder - eis o título de uma nova canção do rapper moçambicano Azagaia (de seu nome Edson da Luz), a propósito da revolta popular de Maputo, disponível a partir da meia-noite de hoje no portal da cotonete.
Conto ter ainda esta tarde acesso à letra, para aqui a disponibilizar.
Leia ou recorde uma entrevista que Edson me deu, aqui.
Leia o que critiquei nos críticos dele, aqui.
Oiça e veja as mentiras da verdade, aqui.
1.ª adenda às 15:48: Eis o que encontrei escrito - num blogue que não conhecia - a propósito do contexto no qual se desenrola a revolta popular de 5 de fevereiro: "Para entender melhor o impacto desse aumento na vida do trabalhador médio, dou alguns números. Uma empregada doméstica ganha $40USD. Um segurança (equivalente aos nossos porteiros) ganha entre $40 e $70. Considere que o normal é que não se pague vale-transportes. Cada passagem custava antes do aumento $0,20. Para uma doméstica que pega dois chapas para chegar ao trabalho, $16 são gastos mensalmente em transporte (40% do orçamento). Após o aumento a passagem custaria $0.30. $24 mensais. 60% do orçamento. Naturalmente o impacto é menor para as pessoas de maior renda. Mas se considerarmos que o salário minimo aqui é de $65, vemos que a quantidade de pessoas seriamente impactadas pelo reajuste é bastante grande."
3.ª adenda às 16:42: um leitor fez uma breve análise para chegar à conclusão de que existe cabritismo rodoviário (vejam o comentário nesta postagem para conferirem um portal que ele indicou): "Eu fiz uma breve análise. 45,15 USD foi o preço médio do barril de petróleo Brent negociado em Nova Iorque no mês de Fevereiro 2005, segundo o Wall Street Journal. 89,50 USD é o preço do barril no dia 8 de Fevereiro de 2008, o que representa um aumento de 98, 2% em três anos. Os mesmos três anos, em que os tarifas dos chapas não foram aumentadas. O desenvolvimento dos preços de combustíveis (igual se Diesel ou Gasolina) em Moçambique reflecte esta tendência. Um estudo do Banco Mundial sobre a mobilidade urbana em vários capitais de Africa descobriu, que os custos pelos combustíveis dos chapas/ou matutos fazem entre 20,58% (por diesel em Nairobi e 27,78% (gasolina em Harare). Por chapas com uma capacidade maior de 18 passageiros este percentagem varia entre 22,72% (em Nairobi) e 21,25% (em Harare). Se assumimos estruturas de custos operacionais semelhantes para os chapas de Maputo (os donos de chapas falam sempre sobre a subida do preço do petróleo no mercado internacional) a subida máxima das tarifas do transportes semi-colectivos de passageiros pode ser entre 20,21% e 27,28% (em dependência com aumento de 98, 2% por barril de petróleo Brent). Mas a CONFEDERAÇÃO das Associações dos Transportadores Rodoviários (FEMATRO) exige um aumento ou subsidio entre 33% e 50%. Acho um caso de cabritismo rodoviário!"
4.ª adenda às 17:07: um leitor, o MS, enviou-me via email o seguinte texto: "O Estado não precisa de subsidiar transportes, precisa sim de uma política de transportes. Nada de aumentar impostos que o ‘nosso povo’ paga sozinho para comprar Mercedes brancos ou pretos com regularidade, ou ainda meios de comunicação social que não prestam serviço público quando mais é necessário. Mais, um dos factores que contribui grandemente para o elevado custo de operações de viaturas, incluindo os transportes, é o deplorável estado das nossas estradas. As estradas matam nossos carros, é preciso arranjá-las com qualidade para que os carros tenham menos custos de reparação. Por quê quando é para os deputados reduzem as taxas de importação de viaturas e pagam viaturas de afectação pessoal para os ‘dirigentes’, não o fazendo com as coisas para o ‘nosso povo’? Abrir fronteiras para produtos que temos localmente, não só reduz impostos como mata os pequenos produtores, e elimina a possibilidade de a nossa indústria crescer, matando o país. Por quê não reduzir taxas de importação de peças sobressalentes e viaturas para transporte, que ajudaria a crescer o país. A ‘confiança política’ mais uma vez acaba de provar que precisamos de técnicos capazes de desenhar e implementar políticas e estratégias que beneficiam o país e os seus cidadãos, longe da ladainha da fagocitação regional, queria dizer integração e da famosa direccao política. Maximianio."
5.ª adenda às 17:47: veja aqui a cobertura feita pelo semanário "Savana" da revolta do dia 5 com o título "O estado da Nação Excelência!" O meu obrigado à redacção do jornal pelo envio do texto.
6.ª adenda às 18:59: um dos meus informantes deu-me conta do seguinte: hoje, entre as 12 e as 13 horas, no mercado Adelina, um grupo de jovens tentou apoderar-se de todo o pão dos vendedores, houve pancadaria e pneus queimados. O mercado dá para as avenidas de Angola e Acordos de Lusaka, a agitação foi maior do lado desta última avenida.
7.ª adenda às 22:30: Azagaia escreveu uma carta aos "manos e manas", confira aqui no portal da cotonete. E, já agora, importe a letra da sua nova canção, chamada "Povo no poder".
15 comentários:
Na terra (des)amada houve aqueles que tiveram a coragem de chamar marginais a mulheres, adolescentes e crianças. Agora falta os fabricantes de teias de aranha racional para nos dizerem que primeiro têm de construir a teia leve o tempo que for necessário e só depois dessa santa tarefa irão saber se de facto houve ou não tumultos e quais as sagradas questões de método que devem ser pensadas para se apurar se realmente houve ou não reboliço aí nos bairros.
Aguardo azagaia.
Xi mana Sara vc tem desperto na cabeça então vc não sabe que não houve nada lá era apenas eco de Magoanine que ainda não tinha apagado? Vc precisa saber intelectual nao gosta disso primeiro precisa saber conceito de conceito e depois espremer bem a ver se sai realidade.
Impressionante quando com pequenas contas percebemos logo a razao da revolta.
(CGH)
esfinge estes intelectuais, vivem noutro planeta. O planeta que eles criticavam quando eram jovens como o Azagaia, quando sonhavam com um mundo com menos desigualdades sociais ja não existe. Hoje na pujança da idade madura, os sonhadores de ontem, intelectuais de hoje, são seres racionais. organizaram a vida deles, para eles, as pessoas, a sociedade, sao apenas, coisas, objectos de trabalho, como é a maquina de costura para a mudista, o chapa para o motorista. as pessoas e a sociedade aqui no nosso pais sao instrumentos que garantem o salario deles e faz com que eles sejam conhecidos no estrangeiro. intelectuais made in Mozambique. é bom para o orgulho nacional. mas o povão, não come, nao vest, não se desloca no orgulho. saco vazio nao fica em pé.
Caro anónimo, uma sociedade é feita de pessoas, cada um tem o seu lugar, e o nosso problema reside ai, a falta de respeito que temos uns pelos outros, se todos fosse-mos para a rua e nos puséssemos de pedras nas mãos virávamos selvagens, recuava-mos no tempo, faríamos do nosso pais mais um triste ex de África, pq ninguém pensa de pedra na mão, e por muito que lhe custe meu caro, as sociedades constroem-se desde os primórdios pq ha gente que pensa e da a cara, gente que trabalha, gente que constrói, gente que sonha, gente que aprende com os erros do passado, gente que luta por um ideal de cabeça fria, gente que quer acabar com a pobreza e que a única maneira que tem é analisar o que se passa, alertando, porque existem forças maiores que nós aqui e todo o Moçambicano o sabe! Com o devido respeito, é exactamente essa atitude que não traz a união do povo, porque infelizmente temos uma maioria analfabeta e com fome, e essas pessoas muitas vezes reconhecem as suas limitações e aceitam lideres de opiniao, alguém que os guie sem terem que passar por mais guerras! Foi exactamente com essa atitude que se construíram grandes nações, é a debater ideias frente a frente, é questionando atitudes publicamente que podemos reprimir caminhos errados… chega de guerra, isso só vai beneficiar os países ricos, ou ainda não o sabe? È preciso, cada vez mais que os professores, alunos, empresários, comerciantes(etc), se juntem e falem dos problemas abertamente, exijam o mínimo de patriotismo deste governo e dos que virão a seguir. Porque o que nos falta meu caro é patriotismo, pq corrupção e saque há em todo o mundo, o roubo acontece pq o vemos descaradamente e ninguém ninguém se junta para mudar o que seja. O povo tem fome e desespera porque se sente sozinho, porque acredito que o senhor não teve nas manifestações, e diga-me o que o senhor fez para mudar a situação… leu o jornal, veio aqui comentar, e mais?
Concordo xamuáli mas precisa saber estes intelectuais sabem bem que este planeta existe seu problema é apenas justificá-lo e justificar tudo aquilo que os justifica e até são jovens problema não é idade problema é manter podridão da vida para eles terem limpeza na cabeca. Mudar ordem das coisas só no almoço entre bife e seminário internacional.
Durante os ultimos dias estou observando com muita tristeza o que se passa em Mocambiue a partir de Angola que e onde trabalho.
Apesar das razoes para as manifestacoes serem justas temos de ver as coisas sem populismos e sensacionalismos.
Mocambique e um pais pobre e logo as pessoas sao pobres,os salarios sao baixos mas o povo em geral tambem e comodista e pouco empreendedor.
pobreza existe e sempre vai existir quer queiramos quer nao mas o problema do nosso povo parte da educacao.
Com uma taxa de 70% de analfabetos ou com pouco estudo nao iremos para lado nenhum
O estasdo pouco fez por isso e povo tambem nunca se interessou,sempre houve mais preocupacao em festas de cerveja,musica e dormir a sombra da bananeira a espera que caia algo do ceu
E muito bonito dizer que o problema e dos outros dos que tem dinheiro,casas,lojas,negocios mas ninguem se preocupa como ele atingiram o nivel de ter isso nem td mundo e ladrao e nem todos enriqueceram a roubar,e muito bonito atirar pedras partir vidros incendiar coisas e masi bonito e apoiar essas manifestacoes e por causa disso que os pobres nunca vao deixar de serem pobres porque as suas ideias sao pobres vamos destruir o que e dos outros para ficarem como nos e assim vamos dormir felizes.
Quanto ao Governo nada a dizer mais uma vez passaram um belo atestado de incompetencia pela forma como lidaram com a situacao e a policia nem se fala so sao eficazes a maltratarem cidadaos honestos e complicar a vida de quem trabalha
Isso, caríssima esfinge, não vamos ouvir os poucos intelectuais que nos restam, e partamos todos para a ignorância, vamos partir o pais todo, vamos todos de pedras nas mão partir, aquilo que os nossos pais lutaram um dia para conquistar com sangue, vamos partir o pouco que nos resta.
Tu caríssima estas definitivamente a ler os livros errados, e a fechar os olhos ao que se esta a passar no resto do nosso continente – AFRICA. É urgente mudar esta atitude, é urgente a união! Os mais fortes estão de olho em nós, para eles a nossa destabilização é lucro, além do carvão, das pedras preciosas, do gás parece parece que também temos petróleo, e tu querida és tão inteligente que ofuscas com a tua luz… o conhecido efeito da cegueira pela falta de conhecimento. Os mais fortes usam a inteligência, não a força bruta.
Sem dúvida que a educação é importante pois explorado que estudou sabe melhor da exploração que o explorado analfabeto. O problema não é esse, o problema é que os programas estão concebidos para recebermos "informação" e não pensarmos. Formamos candidatos a elites o que importa é o que existe e não o que pode existir. Bebe-se pelo copo que há, não pelo copo que poderia existir e que daria para muitas mais pessoas beberem.
mana SF sua luz me ilumina como vela de aço não vou derreter com tanta luz.
Isto começa a cheira-me a pregação, estearina a mais, ala chegou a hora de arejar.
Inde mana tb já vi donde está vir vento da união.
Alguém aqui sabe dizer quem são os grandes manda chuvas empresariais dos chamados "chapas"?
(um curioso?
esfinge um dia a verdade vira ao de cima, um dia... vamos ficar a conhecer os interesses que se escondem sobre o nome de investigação cientifica... vamos, vamos. nao vão poder disfarçar toda a vida. Quem sao esses meninos que a revoluçao fez doutores e que agora cospem no prato, sem vergonha nenhuma, em nome de quê? pureza cientifica? estabelcem muito boas relaçoes com os empresarios, com a cooperação (que fingem criticar, mas é ela que financia as viagens deles ao estrangeiro) com os politicos cà da casa, têm familia no governo. como podem criticar o governo com os seus mega projetos? trabalham para a ciência? os iluminados! estao a gozar com quem transpira feio para por um pedaço de pao em cima da mesa para a familia. caro SF é verdade que uma sociedade é feita de pessoas, cada um tem o seu lugar, mesmo as sociedades tradicionais têm os seus pensadores. Qual é a diferença, entre esses pensadores e os nossos actuais pensadores? caro SF, hoje em dia, quem nao tem amigos no governo, no empresariato,na comunicação, na academia, desiste de sonhar com uma vida melhor. Quem não tem uma retaguarda no estrangeiro, desiste de sonhar em por tres refeiçoes na mesa para a familia! aquele que nao tem uma retaguarda pode alimentar-se de delirios verbais? existe um pensamento independente neste pais? Talvez aqui neste diario. Pode ter a certeza caro SF, que aquilo que voce chama de africa um dia vai explodir. o povo nao é violento porque nao gosta da violencia. o povo torna-se violento. a fome, a humilhaçao, a injustiça, o roubo à vista desarmada, são de mais. eu sou um priveligiado, assumo que sou um previligiado, so os priveligiados tem acesso à internete. mas existe um limite para tudo. a ambiçao esta a cegar os nossos jovens pensadores. de tal maneira que querem impor as leis deles. o que conta sao eles e a sua familia, que esta bem protegida, que tem pao na mesa, todos os dias e nao se desloca de chapa. nao hà paciencia. Que Deus nos livre. Vamos eperar até quando? O Povo nao é vandalo. o povo nao é burro. embora os politicos e alguns academicos talvez pensem assim,a escola é importante, mas não é a unica fonte de educaçao.nao vou inumerar intelectuias africanos, que estudaram em boas universidades na europa e que se tornaram verdadeiros ditadores. deixo isso por sua conta SF A coisa mete medo...isto esta muito feio.
Isto passa também pela democratização das instituções do Estado.Os funcionários tem que ter certezas naquilo que estão a fazer.Deve-lhes ser permetido que coloquem as suas ideias e sejam tomadas em conta, porque afinal são anos de trabalho e de estudo.Fica-se com a sensação que os melhores momentos de abertura e liberdade de expressão foram vividos entre 1992 e 2004.O então presidente engoliu vários sapos em prol da democracia.Lembro-me do UM DE MAIO de má memória.....os manifestantes tinham razão, mas não haviam soluções, deixa-los falar, libertarem-se para acalmar os espiritos.A manifestação de Maputo foi violenta, mas se calhar ela já acontece em outros pontos do país: negligencia premeditada (TT;MANICA;SOFALA), resistencia passiva (ZB/NP),sabotagem de bens públicos( a linha da EDM em 2007 para Namaacha foi cortada e não roubaram nada).O Partido tem 2 milhões de membros, o Dlakama talvez 1 milhão, os outros 500 mil,e ainda restam 16 mil e quinhentos moçambicanos que não estão nem com um nem com outro.E agora?
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