02 agosto 2009

Escolas reproduzem desigualdades sociais?

O bloguista Victor Simões criou um grupo de debate no meu bricolando o social e a análise, colocando uma pergunta fundamental, a saber: será que podemos considerar as instituições escolares como reprodutoras de desigualdades sociais?
Minha pergunta: não querem os leitores deste diário participar no debate?

13 comentários:

Viriato Dias disse...

Interessa-me sim este tema e porquê não? Ás vezes, confesso, o professor Serra advinha aquilo que me vai a alma. Será aquilo que chamam de sexto sentido? Vem este intróito porque ontem, durante a madrugada dentro, estive a meditar sobre o papel das escolas na educação do povo. E por irónia do destino estive a ler um livro de António Guterres, "A Pensar em Portugal", e dele, uma passagem muito semblante à nossa realidade em Moçambique. Cito: " Não toleremos mais um sistema educativo que reproduz desigualdades de geração para geração. Que não prepara os jovens, nem para o desafio da competitividade do mundo moderno, nem para o pleno exercício da cidadania."

E tem razão António Guterres. O nosso sistema de educação para além de criar desigualdades sociais entre as pessoas é, também, um sistema pensado num nosso umbigo, pois não reflecte as necessidades do país. Há trita e poucos anos que o nosso sistema educacional está virado a atribuição de diplomas e a bertura de mais e mais estabelecimentos de ensino, ignorando o saber fazer, como por exemplo, como é que se explica que em Tete não haja uma fábrica de leite? De queijo? de calçados? De mantas? Como é que se explica que na Zambézia e no país em geral falta óleo, sabão? Como é que se explica que em Manica não haja uma fábrica de sumo? Enfim, há qualquer coisa que está a falhar nos nossos laboratórios.

E, Guterres, acrescenta: 2Não é possível aos portugueses triunfar na vida nem a Portugal triunfar no Mundo quando 70% da nossa população adulta não é capaz de identificar o prazo de resposta num simples anúncio de emprego ou quando se perdem meses, às vezes anos, para construir uma empresa ou aprovar projectos."

Eis o meu comentário!!!

Um abraço

Jornadas Educacionais disse...

Professor
Já entrei no debate. Espero puder dar minha contribuição como especialista em educação.

António Cipriano (Banthu Ciprix)

Jornadas Educacionais disse...

Viriato

Mas porquê não inverter a pergunta: o que podemos fazer para que a escola seja mais democrática, dado o fato constatado também por pesquisas empíricas de ela ser uma instituição reprodutora das desigualdades sociais?

A escola é todo desnecessária, segundo afirma Ilich? Penso que não, pois vivemos num mundo burguês e é necessário o domínio dos códigos da escrita, não somente para a inserção, como também para a compreensão e crítica do sistema. Penso que nesse aspecto Ilich se perdeu. A Escola burguesa possui alguns aspectos positivos que vão além da mera reprodução das desigualdades sociais.

Abraços

Rildo Rafael disse...

Professor

Uma interessante pergunta para debate de ideias

Pierre Bourdieu e Passeron debrucaram muito sobre este assunto.

Sim a escola reproduz a desigualdade social. Como bem afirma o filósofo Severino Ngwenha "os projectos educacionais em Moçaambique tendem a ser muito eleitoralista, preocupados apenas com o número de escolas ou salas de aulas, número de professores" e não com a qualidade do ensino no geral

Não podemos hoje conceber um currículo dissociado da realidade ou ainda pensar no educando como um ser que estivesse num círculo existencial hermeneútico dissociado do seu contexto social, cultural, politico e economico, ou seja, como um ser abstracto.

veja a dificuldade que os estudantes universitarios tem para lidar com o computador, eles enfrentam muitos problemas, pois grande parte dos cursos não oferecem aulas de informatica, sobretudo para estudantes dos primeiros anos, mas os docentes exigem que os estudantes digitem os trabalhos (Quantos estudantes possuem estes computadores. Quantos estudantes sabem realmente lidar com os computadores. Quem não se lembra das mil e uma desculpas que os estudantes arranjavam para justificar aos docentes "meu trabalho desapareceu no USB, meus espíritos não se dão com a tecnologia, etc" (precisamos urgentemente de pensar melhor a nossa educação para a tecnologia, isto é, saber usar a tecnologia)

Com a língua inglesa (Inglês) surge uma outra situação (muitos cursos leccionados não oferecem a lingua inglesa como cadeira importante, mesmo com a famosa integração regional. Resultados os estudantes não tem acesso a livros actualizados e tambem não poderão facilmente continuar com estudos ex. Mestrados em países anglofonos porque nao dominam a lingua inglesa, podem ter dificuldade de integração no mercado de trabalho porque não dominam a língua inglesa). Para não falar do acesso ao mercado de trabalho, hoje se exige que os profissionais tenham formação em M&A e gestão, a escola deveria doptar os indivíduos deste instrumentos para poderem singrar no mercado (Qual Universidade se preocupa com esta questão? Resultado, os profissionais de outros países, as pessoas com posses para ter estes cursos fora do âmbito escolar, terão mais chances de se integrar no mercado de trabalho,

Os que tem possibilidades de ter o curso de informatica e de inglês fora do ambito escolar (universidades, escola) de certeza que terão vantagens comparativas no acesso ao computador, livros actualizados e integração no mercado de trabalho. Portanto o papel da escola aqui, de certeza estará a perpetuar a desigualdade social. Mesmo que pensemos em abrir universidades semi-publicas, com cursos pós-laborais como a (UEM, UIZAMBEZE, etc) e Privadas (UNI PIAGET, ESCTM, UNIST) para reduzir as assimetrias, quantos de nós dispõem de capacidades financeiras para suportar o curso e adquirir livros!!!! Resultado as pessoas com posses e que irão frequentar cursos e logicamente irão estar integrados e as pessoas sem posses continuarão a sonhar fazer esses cursos.

Rildo Rafael

Viriato Dias disse...

Caro Jornadas educacionais,

Sem te aperceberes, talvez, acabaste por fazer um eco as palavras de John Kenney "o que é que nós devemos fazer para o país e não o inverso" e saiste muito bem, confesso!

O Rildo Rafael fez uma abordagem actual e justa sobre o sector de educação em Moçambique e as suas vicissutudes, ou seja, virtudes e defeitos, e fê-lo com conhecimento de causa. Depois de debitado a sua explanação neste Diário, refiro-me a aloucução do Rildo Rafael, caro Jornadas Científicas, as minhas palavras pouco podem acrescentar à beleza e à grandeza do comentário do visado.

Apenas vou rematar uma solução defendida pela Cérmen Guaita que é citada pelo João Ruivo, no Ensino Magazine de Agosto, que diz o seguinte: "A chave da educação reside na nossa capacidade de ajudar os nossos filhos e educandos a ser felizes e capazes de fazer felizes todos os que os rodeiam. As ferramentas com que se educa são, a maior das vezes, o amor e o senso comum."


Um abraço

Foquiço disse...

Só debatendo é que podemos tornar "tácteis os objectos sociais". Sim, que haja debate. Na verdade, as categorias dos escolados existe e é tratada como tal, subvalorizando, frquentemente, o trabalho do camponês/operário (não escolado). Ao buscar perceber um pouco sobre o conceito de soberania, descobri que o mesmo vem sofrendo uma transformação... e esta deve-se em parte (na óptica do pensador) pela redução/substituição dos produtos palpáveis "hardwares" face aos não palpáveis "softwares"... ora vejamos que estes ultimos consistem mais em mente que em matéria, e os seus produtores acabam sendo os que aparecem no topo.
Questões: as desiguldades aqui apontadas não se limitam as facilidades/dificuldades de acesso ao ensino? não acontecem dentro da escola (ou apenas dentro dela)?Estas desigualdades podem ou nao ser amortecidas pela elevação da auto-estima/pela valorizaçazão dos produtos que cada um cultiva?

Jornadas Educacionais disse...

Caro Viriato
Prezado Rildo

Estamos num ambiente de debate de ideias. Agradeço pelas considerações, mas também exorto a que proponhas mais soluções e também discordes dos meus argumentos.

Sou filósofo e educador e tenho ensaiado escritos sobre o direito à educação em Moçambique. É com base nesse pouco conhecimento da realidade educaciona do país que passo a dialogar com o Rildo Rafael.

Caro Rildo, certamente que Bourdieu ofereceu ferramentas teóricas para a compreensão do funcionamento da escola. Eu ainda temo que o discurso da pós-modernidade ofusque o problema das desigualdades sócio-educacionais denunciadas por aquele pensador francês, também expostas no livro "escritos da educação".

Porém, ao falares do domínio das tecnologias, em parte concordo que as Universidades, fazendo eco ao pensamento de Bourdieu, cobram um conhecimento (domínio da informática) que é possuido apenas por crianças que vieram de famílias econômica e culturalmente beneficiadas.

Porém, penso que para a inversão do problema, temos de começar pela base e não pelo topo: a educação básica que é direito humano fundamental. O ponto de partida das crianças é diferente e a escola básica trata todas as crianças como se fossem iguais. Democratizar a escola, torná-la acessível aos filhos da camada popular não se resolve com a afirmação teórica de dar iguais oportunidades de acesso como está escrito na nossa constituição.

Penso que os nossos legisladores deveriam ir mais adiante: dar iguais oportunidades de aprendizagem. Sob ponto de vista da sociedade da informação e do conhecimento, a nossa luta deveria ser pela real inclusão digital e não pelos ensaios que se tem feito em Moçambique, encenando uma pretensa inclusão digital, apenas para se justificar o gasto de alguns fundos. Se desde a escola básica, as nossas crianças fossem introduzidas nesse mundo da informática, penso que o problema seria menor. É nesse sentido que eu defendo a escola pública de qualidade em que a educação seja tomada como direito do cidadão e dever do Estado em oferecê-la. Mas a nossa constituição afirma que a educação é direito e dever do cidadão. Aqui reside, segundo o meu entender, a chave do problema: conforme interpreto, cada um que procure formas de se educar, pois é seu dever e não do Estado. Por consequência, quem possui condições econômicas, certamente, buscará melhores escolas onde as ferramentas tecnológicas se fazem presentes. Aos filhos dos pobres, resta-lhes ver o comboio da história passar.

Mas sobre o inglês: não corremos o risco de sofrer mais uma colonização cultural? Sem desmerecer a questão, quantos livros são traduzidos e/ou publicados em Moçambique? Quantas teses e dissertações de moçambicanos apodrecem nas bibliotecas? Não nos falta uma política cultura séria? Temos todos de aceitar que devamos ler os livros em inglês num país cujo idioma oficial é português?

Abraços

Ciprix

Viriato Dias disse...

Caro Jornadas educacionais e não, científicas, como erradamente escrevi num dos comentários.

1. Para já é vitupério seu chamar-se a si de filosofo e mais alguma coisa, ainda que tenha ideias brilhantes para um sector que, de facto, está sem leme - o da educação. Para equilibrar a balança, creio, devia omitir estes e outros títulos. De musculaturas científicas temos todos, mesmo um simples andrajoso.

2. O que se dicute aqui é até que ponto a escola reproduzem desiguldades sociais e não o sistema. Comentários meus sobre o facto em questão, poderá consultar no meu primeiro comentário, que também é o primeiro desta postagem.

3. A reforma das mentalidades é um processo lento. Não há milagres de curto prazo. Por vezes, é preciso cometer erros para reencontrar novos caminhos. Mesmo em Portugal esta questão de política adequada para o pelouro da educação é ainda uma miragem. O povo quer comida para depois pensar.

4. De facto, as questões do Rildo Rafael são as que mais tendem equipara-se a realidade do país, é preciso acabar-se com as assimetrias. Para tal, é necessário que o sistema de educação seja no mínimo transparente, estimulador, que trabalhe em estreita ligação com o tecido social, com as empresas, com a sociedade em geral.

5. E mais, que o ministério da educação procure acabar com a ideia de formar é ter mais escolas, mais salas de aulas, e deve dar mais atenção aos professores, aos alunos, as condições dos equipamentos, etc. Se o ensino técnico funcionassem em pleno não teríamos no país tanta pobreza como agora. HOJE NINGUÉM QUER SER ALFAIATE, PEDREIRO, CANALIZADOR, TORNEIRO, CARPINTEIRO, ENFIM, TODOS QUEREMOS SER DOUTORES, ARTISTAS, FAMOSOS.

6. Eu tenho o hábito de, entre dois caminhos, escolher sempre o menos percorrido, por isso estou a fazer os estudos superirores numa área que o país muito precisa (património cultural e arte), mas para uns, é uma lástima, como se tem verificado com o tipo de mensagens que recebo.

Um abraço

Jornadas Educacionais disse...

Viriato

Não estamos perante um problema de interpretação? A ser assim, penso que o debate de ideias sai prejudicado.

Abraços

Jornadas Educacionais disse...

Acrescentando:

Viriato

Não me senti ofendido. Porém, por questões de princípios, vendo os caminhos em que você colocou a minha fala e, com base na história cultural, eu opto por retirar-me desse debate, pedindo, desde já, desculpas pela intromissão. Acompanherei no silêncio o desenrolar das conversas.

Abraços

victor simoes disse...

Caríssimos, desde já o meu agradecimento ao Prof.Carlos Serra pela divulgação da questão, assim como a vossa participação neste debate!
Efectivamente, este tema não é de simples discussão, quando se pretendem arranjar soluções, para tornar a escola melhor, mais acessível e sobretudo mais inclusiva.
Que as escolas contribuem para reproduzir as desigualdades sociais, parece ser ponto assente e que concordamos.
Não nos esqueçamos, que os professores também contribuem para a exclusão, quem não é o professor que pela propria condição de partida do aluno, não tem preferências? Já pensaram, que este combate começa dentro de nós mesmos? Relativamente à situação Moçambicana, não conheço a realidade afundo, mas tenho uma ideia sobre a situação! Alguma coisa tem que ser feita, e todos os governos ( em todo o mundo , deveriam investir mais em educação e sobretudo torná-la verdadeiramente gratuita e acessível a todos sem excepção.
A questão da infoexclusão é uma realidade, que em Portugal se está a combater, este governo disponibilizou computadores para todos os estudantes do ensino básico ao secundário.
Com os programas e-escola e e-escolinha, que visam a massificação da utilização de computadores e de Internet em Banda Larga e o combate à exclusão digital.
A penetração de banda larga em Portugal, fixa e móvel, atingiu o valor de 37,8%, estes dados revelam a tendência crescente da adesão dos portugueses aos serviços de acesso à Internet . Em apenas um ano, este tipo de acessos cresceu 63%. Estes resultados refletem as políticas de disseminação do Plano Tecnológico e que, segundo um relatório recentemente divulgado pela IDC, fizeram de Portugal o país da Europa Ocidental onde se verificou o maior crescimento na venda de computadores pessoais no ano de 2008. Portugal é o primeiro país do mundo onde todas as crianças do Ensino Básico têm acesso a um computador.
Poderemos aferir os resultados destas medidas daqui a alguns anos!

PS: Estão também convidados a passarem e a participarem no blogue colectivo "Suciologicus", em http://suciologicus.blogspot.com

Neste momento o tema é o seguinte:
RELAÇÕES QUE SUBSISTEM ENTRE SOCIEDADE, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO NO ACTUAL CONTEXTO DE GLOBALIZAÇÃO

Um abraço a todos

Rildo Rafael disse...

Caro Jornadas Educacionais

Seria dificil propor tantas solucoes para um problema que se calhar ainda nao foi identificado. Prefiro optar pela tentativa de compreensao.


Quando se refere ao discurso do pos-modernidade. O problema das desigualdades não esgota no seio do discurso da pos-modernidade dedse Lyotad. As metas narrativas concebidas no projecto iluminista nao ofuscam e nem ofuscarao a problematica das desigualdades socias ate sustentam o argumento do acesso a tecnologia

Ao referir que os estudantes no ensino superior tem dificuldades para lidar com a tecnologia, repare que viand nao referi da educacao tecnologica, producao de tecnologias. Este facto pode ajudar a imaginar a tamanha dificuldade que “a base” enfrentam, ao assumirmos que que estao no ensino superior percorreram da base. Meu caro a questao das desigualdades sociais vai muito alem da constituicao, isto é importante para iniciarmos a descussao. Acha que em todos esses paises que tenham uma constituicao nao ocorra desigualdades sociais!!! As desigualdades sociais sao realidades omnipresentes.



Sobre o Ingles nao acredito que poderemos sofrer uma nova colonizacao pelo facto de estarmos a ler livros. O problema da leitura de livros em ingles nao deve ser visto pelo facto de sermos falantes do portugues. Como diz bem Robert Reich deve existir um “esgotamrento do compromisso nacional”, ou seja, temos que penasar em termos nacionais e internacionais num mundo cada vez mais globalizado. A lingua ultrapassa fronteiras. Hoje muitos americanos aprendem a falar portugues e ate leêm Paulina Chiziane e entao filosofo

“ O que “e que a globalização comporta como responsabilidade da escola?

Abracos

Rildo Rafael

Jornadas Educacionais disse...

Caro Rildo
Pelo andar da conversa, parece-me que mais concordamos que discordamos, embora os nossos pontos de partida sejam diferentes.

Sobre a pós-modernidade, se não deixei claro, transcrevo o que afirmei "Eu ainda temo que o discurso da pós-modernidade ofusque o problema das desigualdades sócio-educacionais".

É um temor, a partir de experiências de encontros com os defensores da perspetiva dos estudos culturais na educação. Eles não aceitam o termo desigualdades, mas sim, diferenças.

Não é que o problema das diferenças seja menor: possui sua relevância. Porém, numa dessas conversas com alguns colegas do campo da história, eu sublinhei que para o caso da África, talvez o problema das desigualdades já levantado pela esquerda não pode ser considerado ultrapassado, em favor do discurso sobre as diferenças.

Penso que o domínio das tecnologias não corresponde, exatamente, à educação teconológica e muito menos à educação para a produção: inciar, desde a escola básica, no domínio das ferramentas tecnológicas,faz parte da inclusão digital na sociedade da informação e do conhecimento.

O fato de boa parte ou parte dos alunos do ensino superior não saberem lidar com as novas tecnologias não é reflexo da exclusão digital a que muitos moçambicanos estão votados? Já percorreu as cidades capitais fora de Maputo para se aperceber dos problemas de exclusão digital que graça o nosso país?

Desigualdades e Constituição: penso que a comparação que fazes, no mínimo é problemática. O fato de esses países terem a Constituição e também haver desigualdades sociais (sic)não legitima que excluamos os nossos concidadãos, porque em outros países é assim.

Se prestar atenção, o texto fala do Direito à educação conforme ela é entendida na Constituição de Moçambique. Em outros países, sobretudo daqueles que tenho conhecimento, se preferires, em suas respetivas Constituições, a Educação é concebida como DIREITO DO CIDADÃO e DEVER do ESTADO. É um respaldo legal, no mínimo, em que o cidadão pode-se valer para cobrar do Estado caso este não ofereça uma vaga na escola pública para que o cidaão possa estudar, sobretudo nas séries iniciais da educação básica.

Em Moçambique, a constituição, se a linguagem me permite, é preversa. Nela é afirmado que A EDUCAÇÃO É DIREITO E DEVER DO CIDADÃO. Penso que o espaço não cabe o prolongamento de uma análise minuciosa.

Qual a relevância dessa alusão ao Direito à educação? Tem há ver com as desigualdades sócio-educacionais a que você fez alusão, cujo reflexo está nas possibilidades de aprender o uso do computador fora da escola e da Universidade.

Ora, considerando que a educação é direito humano fundamental e que além do acesso, também tem de ser observado na aprendizagem, um Estado que assume legalmente que é seu dever oferecê-la, dando a todos o direito de se apropriar do conhecimento produzido pela humanidade, há bases legais para se discutir e cobrar do Estado a inclusão digital via escola. Mas como em Moçambique a busca pela educação é dever do cidadão, pergunto-me: com que bases reivindicar do Estado uma escola pública e de qualidade social?

Sobre o Inglês: acredito que está havendo uma mistura entre o domínio de uma língua estrangeira no mundo globalizado e a intoxicação por essa língua perpretada pelas nossas Universidades. Fico pasmado que um professor indique, para um curso de graduação, toda a literatura em Inglês, num país que se fala português. Aqui, sim, é a servidão voluntária.

Os norte-americanos que você cita não estão lendo bibliografias em Português, mas sim, aprendendo outra língua como parte do que se tem chamado de cultura geral.

As desigualdades escolares, com certeza, reflexo das desigualdades sócio-econômcias são um fato. Lutar contra elas, no campo escolar, através da democratização do acesso e da valorização da cultura popular na escola, é um desafio a todos os que realmente se interessam pela emancipação do homem e mulheres moçambicano(a)s.

Abraços

Ciprix