Recordo que manifestações do mesmo tipo realizaram-se recentemente nos Camarões, no Burkina Faso e no nosso país.
Prevejo que o fenómeno se vai generalizar no nosso continente.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
A Rádio Televisão Portuguesa tem hoje a seguinte notícia: "O Hospital de Santa Maria, em Portugal, tem mais médicos do que Moçambique, disse hoje o ministro da Saúde moçambicano, Ivo Garrido, para dar uma dimensão dos problemas do sector existentes no país."
O Ali Cossing escreveu para o jornal "Notícias" de hoje mostrando o seu profundo desagrado com a música em curso na praça: "Senão vejamos: as temáticas das músicas jovens moçambicanas são basicamente de curtição (bebedeira) e mulheres. Os nossos rappers quando têm que falar de mulheres fazem-no somente numa perspectiva das mais depreciativas possíveis (prostituta para li, catorzinha para aqui, dou-te dali, etc), quando têm que falar deles próprios fazem-nos do tipo “eu sou melhor (curtidor) que tu, a coroa é nossa, vocês não são de nada, eu tenho aquele(s) carro, aquela(s) dama(s), inclusive a tua, enfim somos os tais”. As músicas de alguns dos nossos rap, não passam disso." Mas então o que fazer, que música produzir e ouvir? Resposta do autor da carta: "Escrevam jovens raps e pandzista mas escrevam coisas produtivas e contribuam (e vocês têm potencial e alguns até formação para isso) com o vosso som para desenvolvimento deste país cantando músicas como, “O país da Marrabenta” (Gpro Fam) embora ache que estas músicas tenham caído de pára-quedas para estes jovens, que para além destas músicas continuam iguais aos outros gritam e nada dizem senão aquela promiscuidade, escrevam como Azagaia (força pela coragem). Escrevo este artigo antes de ter o feedback do resultado da sondagem da STV, mas adianto a resposta (Não)."
Vou terminar esta série, quando muitas agências noticiosas internacionais dão conta de que Morgan Tsvangirai e o MDC clamam por vitória esmagadora nas eleições realizadas ontem, quadro que Robert Mugabe e a ZANU-PF acham sem sentido, pois estão convictos de que venceram folgadamente. A Comissão Nacional de Eleições do Zimbábué pode começar a divulgar os resultados ainda hoje. Entretanto, é possível considerar, entre outros, três cenários pós-eleitorais, com possibilidades, a saber:
De acordo com o Guardian online de hoje, os resultados oficiais das eleições de ontem no Zimbábuè ainda não começaram a ser divulgados, mas Morgan Tsvangirai e o MDC (da oposição) disseram que obtiveram uma vitória esmagadora sobre Robert Mugabe e a ZANU-PF, mesmo em zonas rurais, de acordo com a contagem feita pelos seus agentes. Entretanto, a polícia proibiu a oposição de declarar publicamente a vitória. O secretário-geral do MDC, Tendai Biti, afirmou que o MDC ficaria dentro da lei, mas que não podia falar do que o povo faria caso os resultados oficiais mostrassem números diferentes. O jornal governamental Herald escreveu que Robert Mugabe ganharia por 57% dos votos.
De acordo com a Reuters, observadores africanos afirmaram ter descoberto evidências de fraude nas eleições do Zimbábuè hoje realizadas. Se quer ler em português, use este tradutor aqui.
Se quer saber um pouco das coisas e dos negócios em Moçambique, espreite os cabeçalhos das notícias do Africa Intelligence a partir da primeira notícia no canto superior esquerdo do dia de hoje, onde se fala de Thandai Mavhunga e de Miguel Nhaca Guebuza.
Parecia haver um aparente eclipse da cidade de Maputo no tocante aos linchamentos, face à grande visibilidade do fenómeno na zona centro (Chimoio e Beira). Mas agora aconteceu um linchamento na periferia da cidade. Assim, de acordo com o "Notícias" de hoje, um presumível assaltante foi linchado na noite de quinta-feira junto à Estrada Nacional Número 1, zona do Zimpeto, perto do desvio para o bairro de Khongolote. De acordo com o jornal, as causas são desconhecidas, "mas ao que tudo indica uma potencial vítima que circulava pela zona gritou pedindo socorro quando o suposto bandido interceptou-a para lhe retirar alguns bens. Em resposta, os residentes das imediações saíram e detiveram o indivíduo que, ao que se pensa, é estranho na zona. A isso seguiu-se uma acção de “castigo” severo com recurso a paus, varões de ferro, pedra e outros materiais até o indivíduo perder a vida. O corpo do linchado, que aparentava 25 anos, permanecia no local do crime pelo menos até ao fim da tarde de ontem, apesar de o linchamento ter ocorrido à noite."
Escrevi há dias aqui sobre a homenagem póstuma a Tomás Nduda lá por terras de Muidumbe, província de Cabo Delgado. Referi que mãe e irmã viviam com dificuldade, 40 anos depois da morte dele. Mas agora o jornalista Pedro Nacuo escreveu sobre isso e mostra-nos, num admirável e pungente texto, um quadro bem claro do que ali se passou, um quadro que é, afinal, o das distâncias sociais flagrantes existentes neste país. Eis extractos do que Pedro escreveu: "É que as grandes coisas que nos engolem, muitas vezes nos fazem esquecer os detalhes que as fazem. Enquanto aquela nomenclatura não se habituar a dizer que é de Muidumbe, levar para lá os seus filhos, sobrinhos e netos, ninguém, por mais que venhamos a ter um Estado muito rico, que se lembrará daquela terra. Enquanto as casas dos ilustres se localizarem em bairros luxuosos de Nampula, Maputo e outras paragens além-fronteiras, da outra vez que vierem por qualquer motivo, voltarão a dormir em tendas, na sua própria terra! (...) Foram as grandes coisas que falharam para que as pequenas não fossem acauteladas. (...) Tudo o que era grande foi feito, mas se esqueceu que a cerimónia era a primeira em que se dormia num lugar por causa da morte de Tomás Nduda. Então, a casa hospedeira devia ser onde a viúva vive. Colocaram-se os dísticos, os tanques de água, as tendas gigantes em casas que não tinham nada a ver com Tomás Nduda. A casa da sua viúva, onde se encontravam os filhos, continuou lá no fim da aldeia: sem latrina, comida, água, sem nada, para acolher os outros familiares. A festa ficou para a aldeia, menos a casa dos infortunados. Os familiares que ficaram boquiabertos, até que o incansável e atento administrador, Rodrigo Purruque, corrigiu a tendência. Pouco tarde, é verdade!"
Na sua habitual crónica semanal no semanário "Savana", Afonso dos Santos escreveu esta semana sobre os críticos dos críticos. Começou assim: "Os críticos dos críticos gostam de ostentar a sua fidelidade canina ao serviço da política governamental, e empenham-se com fervor na propaganda a favor dos interesses dos grupos sociais que obtêm privilégios graças a essa política. Eles próprios – os críticos dos críticos – também pertencem a esses grupos. Os críticos dos críticos assumem como sua tarefa principal a de latir e tentar morder todos aqueles que criticam as nefastas consequências da divina actuação governamental. Para poupar palavras e letras, os críticos dos críticos passarão a ser aqui chamados cêcês. Alguns dos cêcês poderiam até ser chamados cêsiólogos. Os cêcês – principalmente os do tipo cêsiólogo – procuram utilizar a sua esperteza absoluta com o objectivo de fabricarem argumentos para justificarem a corrupção como meio para a criação da riqueza absoluta e para o crescimento acelerado da sua filha adorada, que se chama “pobreza absoluta”. Em certos casos, costuma ser utilizado o rótulo “combate à pobreza”, para designar essa acção de criação da riqueza absoluta." (itálicos no original)
Prossigo a série com o título em epígrafe, que tem como êmbolo o pacifismo do povo moçambicano defendido a todo o transe por Edson Macuácua, responsável da área da Mobilização e Propaganda do partido Frelimo e que, na condição de porta-voz da bancada parlamentar desse partido, interveio há dias na Assembleia da República, dizendo o que pode ler aqui. Entretanto, o semanário "O País" entrevistou Lourenço do Rosário, reitor da Universidade Politécnica e presidente do Fórum do Mecanismo Africano de Revisão de Pares. Da longa entrevista, extracto o seguinte:
Obrigado, kanimambo aos leitores que, cada vez em maior número, um pouco de todo o mundo, me enviam sugestões, referências de portais, comentários via email, etc. Isso é uma prova de como este diário, próximo do seu segundo aniversário a 18 de Abril e com bem mais leitores do que quando assinalei o primeiro, se tornou um ponto de referência nacional e internacional para leitura e reflexão. Nem sempre publico as sugestões ou as referências (procuro assegurar uma certa linha temática), mas podeis crer que nada do que me enviais se perde, porque, pouco a pouco, o diário de um sociólogo reflecte as vossas preocupações. Bem hajam.
Siga os acontecimentos políticos - concretamente as eleições - no Zimbábuè pelos mapas da Google aqui.
Amanhã são as eleições no Zimbábuè. Entretanto, o presidente Mugabe, que com 84 anos concorre a um sexto mandado após muitos anos de poder, disse há dias que jamais entregaria o poder à oposição. Agora, falando aqui perto de nós, no Nyanga, num volte-face espectacular e segundo o correspondente em Harare do Quenia Today, disse que aceitaria a derrota caso perdesse. E propôs o seguinte à oposição: se vocês ganharem, eu aceito. Se nós ganharmos, vocês devem aceitar. Tudo isso para evitar a violência pós-eleitoral.
Depois do presidente da República, Armando Guebuza, do presidente da Assembleia da República, Eduardo Mulembwè, e do ex-ministro dio Interior, Manuel António, terem olhado para as manifestações populares de 5 de Fevereiro de forma realista, surgiram alguns pesos-médios do partido Frelimo a tentar inverter a marcha.
Segundo o mediafax, "A Renamo, maior partido da oposição em Moçambique, reagiu ao anúncio da exoneração do Ministro da Defesa Nacional, MDN, Tobias Dai. com um apelo de demissão em bloco do Governo e à convocação de novas eleições antes do final do presente ano. Em contacto com o mediafax, o porta-voz da Renamo, Fernando Mazanga, considerou a queda do MDN, dias depois da exoneração do Chefe e Vice-Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, FADM, aliado ao afastamento de um Ministro dos Negócios Estrangeiros (que aconteceu há cerca de três semanas), como sinais evidentes de que o Governo está desestabilizado, por isso a “melhor saída seria mesmo que o resto dos ministros que ainda não foram mexidos, apresentarem a sua demissão em bloco, de modo a dar espaço a que o Presidente da República, Armando Guebuza, convoque eleições gerais antecipadas”.
Em trabalho de Amândio Macuácua, o "Notícias" de hoje reporta a intervenção na Assembleia da República de Edson Macuácua, deputado da Frelimo e secretário para a área da Mobilização e Propaganda desse partido. Assim, "Num outro passo da sua intervenção no Parlamento, o deputado da bancada do partido que suporta o Governo, Edson Macuácua, disse que os moçambicanos têm vindo a acompanhar “com justificada preocupação atitudes de evidente irresponsabilidade política e desonestidade intelectual ao se pretender atribuir ao povo moçambicano a responsabilidade pelos distúrbios protagonizados por indivíduos que teimam em aceitar que a paz que vivemos constitui um valor intrínseco aos moçambicanos, uma conquista irreversível e um precioso recurso a preservar”. “A Frelimo condena o uso de discursos belicistas, o incitamento à violência, a manipulação da pobreza para instigar a violência A este propósito, gostaríamos de acentuar que os valores da moçambicanidade e o destino comum dos moçambicanos constituem linhas orientadoras para o exercício responsável da actividade política no nosso país. Não podemos, pois, deixar de denunciar atitudes que amiúde visem explorar as ainda prevalecentes manifestações de pobreza, particularmente as insuficiências de vária ordem que afectam o dia-a-dia do nosso povo, para despoletar práticas de desordem incluindo o holiganismo gratuito de destruição e saque de propriedades alheias para daí reclamar comportamento não pacífico do povo moçambicano”. Disse que uma leitura atenta da história só pode conduzir a uma a conclusão de que o povo moçambicano é um povo pacífico."
"Um cidadão tido pelos seus parentes como demente foi esta terça-feira espancado até a morte por desconhecidos na cidade do Dondo. Joaquim Domingos José tinha 17 anos de idade e foi morto ao ser encontrado na posse de meia dúzia de bananas, aparentemente roubadas. O comandante distrital da PRM no Dondo confirmou a ocorrência como um crime de homicídio voluntário que a corporação vai averiguar até ao seu esclarecimento. Com mais este incidente a província de Sofala soma 10 casos de mortes de supostos ladrões por populares." - notícia transmitida pela Rádio Comunitária do Dondo e que me chegou há momentos via Arune Valy, jornalista da Rádio Moçambique na Beira.
A nova e bela lista telefónica da zona sul do país tem a seguinte distribuição de páginas de telefones fixos por província: Maputo: 294; Gaza: 16; Inhambane: 38.
Na última página do semanário "Savana" existe sempre uma coluna de saudável ironia que se chama "Na hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Deliciem-se com a "hora do fecho" desta semana:
Vamos lá prosseguir esta série com o título em epígrafe.
Um camião com dez jovens de idades entre 15 e 17 anos foi interceptado no posto de fiscalização de Lindela, província de Inhambane, sob suspeita de tráfico de menores para a África do Sul. Os jovens, dos quais apenas seis tinham documentos de identificação, são oriundos de Chibabava, província de Sofala (Rádio Moçambique, noticiário das 19:30). Entretanto, leia e/ou recorde aqui.
O presidente Robert Mugabe do Zimbábuè, 84 anos, concorrendo para mais um mandato presidencial, anunciou hoje pela segunda vez no espaço de uma semana que não entregará o poder à oposição seja qual for o resultado das eleições do próximo sábado. O candidato Morgan Tsvangirai, do MDC, está à frente de Mugabe nas sondagens de opinião (Rádio Moçambique, noticiário das 19:30).


O jornalista Eliseu Bento está preocupado com as eleições sábado próximo no Zimbábuè: "Precisamente por isso, gostaríamos de deixar aqui expressos os nossos grandes receios sobre o que poderá acontecer logo após o anúncio dos resultados. Não teremos aqui um novo Quénia? Esperemos sinceramente que não, até porque Moçambique e os moçambicanos seriam dos principais atingidos."
O "Notícias" de hoje tem esta notícia : "A representante da Administração do Estado na Beira, Cremilda Sabino, está deste ontem a efectuar visitas de trabalho a instituições ligadas aos Serviços de Educação, Juventude e Tecnologia da Cidade e a algumas escolas. Durante três dias, ela vai se inteirar e/ou avaliar o funcionamento da máquina governativa ligada às áreas em referência."
Prossigo a série com o título em epígrafe.
Disse-me o Ricardo - meu correspondente em Paris - que a imprensa internacional concentra as suas eleições sobre os candidatos às eleições de sábado no Zimbábuè, marginalizando quase sempre quem vive no rés-do-chão da vida, o povo. Por isso mandou-me a referência do portal que a seguir indico (com um trabalho datado de hoje) e cuja leitura, em inglês, recomendo. Já agora, num ângulo diferente e seguindo a sugestão de um leitor, recomendo vivamente que estude este outro portal aqui. Se quer ler em português, use este tradutor aqui.