Vou terminar esta série, quando muitas agências noticiosas internacionais dão conta de que Morgan Tsvangirai e o MDC clamam por vitória esmagadora nas eleições realizadas ontem, quadro que Robert Mugabe e a ZANU-PF acham sem sentido, pois estão convictos de que venceram folgadamente. A Comissão Nacional de Eleições do Zimbábué pode começar a divulgar os resultados ainda hoje. Entretanto, é possível considerar, entre outros, três cenários pós-eleitorais, com possibilidades, a saber:
1. A Comissão Nacional de Eleições declara Mugabe e a ZANU-PF como vencedores (hipótese mais do que provável). Pode, inclusivamente, colocar Mugabe com uma margem de votos confortavelmente acima dos 51%. Quatro possibilidades: 1.1. Começam manifestações populares, com múltiplos efeitos imprevisíveis; 1.2. Face ao forte aparato militar e policial, as manifestações são proteladas ou evitadas, mas a situação social deteriora-se; 1.3. A deterioração da situação social gera, a médio prazo, um golpe de Estado palaciano, Mugabe é suavemente afastado (motivo oficial: doença, por exemplo) e substituído por um reformador, a situação melhora; 1.4. O agravamento da situação gera uma partilha de poder à Quénia, um negociador do tipo Kofi Annan (que jogou um papel crucial a esse nível no Quénia) entra em cena.
2. A Comissão Nacional de Eleições proclama Morgan Tsvangirai e o MDC como vencedores (hipótese remota). As lideranças do exército e da polícia fazem um golpe de Estado e o país entra em estado de sítio com um regime militar declarado. Três possibilidades: 2.1. Mugabe é mantido, o regime endurece, a situação social agrava-se; 2.2. A médio prazo, Mugabe é substituído por um reformador projectado pelos comandantes militares e policiais com o apoio da ala moderada e tecnocrática da ZANU-PF; 2.3. Partilha de poder à Quénia, com um negociador tipo Kofi Annan também presente, tal como no primeiro cenário.
3. A vitória de Morgan Tsvangirai e do MDC é considerada finalmente razoável e as forças-chave estrategicamente caladas da ZANU-PF aceitam a realidade (hipótese quase apórica). Os vencedores fazem acertos de partilha governamental com a ZANU-PF.
Mas seja qual for o cenário, seja qual for a possibilidade - sem dúvida que mais alguns cenários e possibilidades podem ser considerados -, tendo especialmente em conta a situação gerada no Quénia, creio que as eleições no Zimbábuè colocam definitivamente para discussão em África (como veículo de ou entrave à democracia) quer os nossos modelos eleitorais quer a sua monitoria.
Não podemos, de forma alguma, desdenhar dos efeitos das eleições no Quénia e no Zimbabuè nas nossas próximas eleições, especialmente nas presidenciais e legislativas.
Adenda: em qualquer altura posso modificar o que aqui escrevi, face ao que vou estudando, colocando a vermelho as emendas e/ou os acréscimos. Gostaria que os leitores pudessem comentar os cenários e as possibilidades apresentadas.
1.ª adenda às 18:03: os primeiros resultados eleitorais em meios urbanos dão vantagem a Morgan Tsvangirai e ao MDC (Rádio Moçambique, noticiário das 18 horas).
2.ª adenda às 19:35: o docente Ali Jamal, do Instituto Superior de Relações Internacionais, está na Rádio Moçambique neste momento, registei dele o seguinte: são eleições acompanhadas de muita intimidação, de muita ameaça por parte das forças de segurança. O Estado não está a garantir a isenção, não é um Estado de direito, há sistemática intervenção dos ramos militar e paramilitar. O governo é causador dos problemas que o povo do país está a enfrentar. Não acredito que o povo do Zimbábuè vá votar em Robert Mugabe. Há uma grande força de mudança ligada à oposição. Mesmo nas zonas rurais existe muita contestação a Mugabe. Temos de esperar um cenário de desobediência civil, que pode caminhar para uma confrontação com as forças da ordem. Não sei se teremos uma situação parecida com o Quénia, mas teremos desobediência. As forças da ordem estão preparadas para reprimir a favor do regime no poder. Corajoso docente, este (Rádio Moçambique, noticiário das 19:30).
3.ª adenda às 21:45: dois observadores da SADC recusaram-se a assinar um relatório preliminar da organização que afirma terem sido "pacíficas e credíveis" as eleições realizadas sábado no Zimbábuè. Confira aqui.
4.ª adenda às 23:00: agências noticiosas começam a divulgar que foi declarado o estado de emergência no Zimbábuè. Confira por exemplo aqui.
5.ª adenda à meia-noite e cinco de 31/2/08: aludindo à tensão que se vive especialmente em Harare na expectativa dos resultados eleitorais, o jornalista do "Notícias", Lázaro Manhiça, apresenta hoje um relato do que entende passar-se no Zimbábuè. Confira aqui.
6.ª adenda às 9:29 de 31/2/08: cerca de 490 mil quadros qualificados abandonaram o Zimbábuè desde 1980. Confira aqui. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, por me ter enviado a referência do portal.
7.ª adenda às 10:06 de 31/2/08: siga os resultados não oficiais das eleições no Zimbábuè através deste portal aqui.
3 comentários:
The challenger Simba Makoni.
He may lack the votes to win by himself. However, in a possible coalition with Morgan Tsvangirai, Simba Makoni could draw away important personalities in the ZANU-PF, easing a transition to multi-party democracy.
Robert Mugabe, well aware of the danger, has branded Simba Makoni a 'traitor' for daring to challenge him.
It is probable that Zimbabwe's Simba Makoni was encouraged by its neighbours, particularly South Africa and Botswana, to challenge Robert Mugabe.
A good hypothesis...
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