"Dêem-lhe todas as satisfações económicas de maneira que não faça mais nada senão dormir, devorar pastéis e esforçar-se por prolongar a história universal: cumulem-no de todos os bens da terra e mergulhem-no em felicidade até à raíz dos cabelos: à superfície de tal felicidade como à tona da água virão rebentar bolhas pequeninas" (Dostoievski, No meu subterrâneo)
Vamos lá então prosseguir mais um bocadinho esta série sobre o zicoísmo, zicoísmo que é a liturgia dos instintos, o pop da sexualidade imediata.
Escrevi, no número anterior, que o zicoísmo podia ser considerado um sistema, um sistema irradiador de sinais, sinais ao mesmo tempo sexuais, descerebralizadores e analgésicos.
Mas - eis um ponto importante - a música é feita para pensar? Creio que, regra geral, não, a música é fundamentalmente coisa da alma, nutriente dos sentidos, alimento das emoções. Não é, o mais das vezes, feita para ser pensada, mas para ser sentida (todavia, existe um tipo de música que conjuga os sentidos e o pensamento, a emoção e a razão, é como se a emoção pensada e fazendo pensar; mas não falarei disso agora).
O zicoísmo é, então, feito para o nosso campo emocional. Mais concretamente: para o nosso campo baixo-ventral, caninamente considerado em Nakudjula Hi Doggystile. Deve por isso ser condenado, por exemplo enquanto exercício pornográfico? Compete a cada um de vós a decisão. Aqui não estou a tentar analisar o sistema zicoísta enquanto campo moral, mas enquanto campo emissor de sinais sexuais.
Todavia, o zicoísmo é bem mais do que um sistema musical de erotismo funcional destinado a emocionar, é bem mais do que um sistema centrado exclusivamente em Zico ou em outros zicoístas. Por quê? Porque salta fora do seu perímetro lúdico, porque se institui como modelo de consumo, como eixo social. É emitido, mas também recebido. Há quem o consuma, quem o partilhe, quem dele precise. A zicodependência precisa, portanto, ser analisada. Lembre-se do quanto Maboazuda foi e é ainda consumida.
Nota: a qualquer momento posso rescrever coisas aqui, o que, a suceder, assinalarei a vermelho.
1 comentário:
explicar o crescente consumo é simples. As pessoas gostam de pornografia. ver aquelas formas da mulher. mas cada um gosta de ver isso sozinho. quando a coisa aparece em público, as mesmas pessoas reclamam. Os sites mais visitados na internet são os pornográficos. daí a maior chance das pornografias e errotismo de zico serem altamente consumidos.
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