Eis um extracto do que o ex-reitor da Universidade Eduardo Mondlane, Brazão Mazula, disse recentemente no Niassa (sua província de origem) no decorrer de uma conferência, na qual esteva presente o governador da província, Arnaldo Bimbe, natural do Gaza: "Senhor Governador (...) Ouvi dizer que, no seio das elites políticas re administrativas da província, privilegiam-se algumas posições de destaque para uma determinada tribo, não admitindo, de forma alguma, pessoas de outras tribos. Esta situação é preocupante. Esta é uma província com 4 grupos étnicos (makuwa, yao, nyanja e angoni) e outros de origem portuguesa ou estrangeira que se tornaram moçambicanos, diferentemente dos 3 grupos (....) Chega-se ao ponto de marginalizar o indivíduo da mesma tribo que se relacione com a pessoa de tribo diferente ou que a acolha em sua casa. Há gestos de apadrinhamento a alguém, por ser da mesmo distrito, da mesma tribo ou região. Quando uma determinada posição promete vantagens económicas, a curto ou médio prazo, vai-se buscar alguém da mesma região, província ou tribo afins, a pretexto de que, dentro da província, não há competências compatíveis, mesmo existindo (...) Existe também aqui a expressão de "vientes", atribuída aos nacionais provenientes doutras províncias e colocados em vários sectores de actividade. Eles são vistos como estrangeiros que tiram oportunidades de singrar na vida e de usufruir dos benefícios económicos" (semanário "Magazine Independente", edição desta semana, p. 6).
Esta intervenção torna sempre actual a problemática étnica tratada e descodificada num livro que escrevi há alguns anos atrás, cuja primeira edição data de 1997 e a segunda de 2003: Combates pela mentalidade sociológica (Imprensa Universitária: Maputo, 2003, 2.ª ed.). Adquiram-no e certifiquem-se.
4 comentários:
Bom, como explicar... sem complexos.
O Sr. Brazão Mazula, ex-reitor da Universidade Eduardo Mondlane, não é certamente um qualquer.
Forçosamente tem que ter peso, intelectual, no mínimo.
Não o conheço, não sei a sua maneira de pensar.
Mas, quando um homem que ocupou um cargo de Reitor da UEM, que já bebeu água da capital, faz as declarações citadas, meus Srs., não vale a pena meter a cabeça debaixo da areia.
É GRAVE.
Caro umbhalane, não vejo aqui o problema do que questina Mazula. Ele não devia colocar estas perguntas para ele mesmo não ser chamado tribalista? Ou eu leio mal o texto? Vejo aqui ele a combater o mal. Um exemplo, perguntar ao Filipe Paunde a base de nomeacão de Augusto Ferro a administrador de Rapale, não é justo?
Capital Maputo e órgãos centrais deviam se considerar como Vaticano na Italia.
Voltei ao texto de onde retirei o seguinte:
"Ouvi dizer que, no seio das elites políticas e administrativas da província, privilegiam-se algumas posições de destaque para uma determinada tribo, não admitindo, de forma alguma, pessoas de outras tribos". Então Brazão Mazula "ouviu dizer". Com quem ouviu dizer? Porque é que quem lhe disse o fez? Procurou ele verificar(com rigor que se exige à um ex-reitor) ao que lhe disseram ou partiu pura e simplesmente para o governador e começou "a jogar chumbo" nele? Contra o tribalismo estamos todos(?) mas cuidado se exige-se especialmente de gente como Mazula pelas razões que Umbhalane bem apresenta. Ou é evidente demais o tribalismo em Niassa ou então Mazula se deixou levar pela emoção. Eu que não quero me fiar em "ouvi dizer" prefiro não decidir.
Vejam a lista publicada pelo Magazine Independente, que faz a listagem das "pessoas mais importantes do Niassa". Não se vê ali o predomínio de nenhuma tribo. Há naquela lista pessoas de todos os cantos do país. Estou com Nelson. Brazão Mazula deveria ter elaborado mais nesta sua acusação. De outro modo podemos ser levados a pensar que ele advoga que no Niassa "só deviam comer os naturais de Niassa". Neste caso, todos os naturais do Niassa que ocupam posições de relevo em Cabo Delgado, Nampula, Zambezia, Tete, Manica, sofala, Inhambane, Cidade de Maputo, Maputo Província, deveriam ser expulsas de volta à sua província de origem?
Se denunciar tribalismos e racismos é bom, recomendável e positivo, levantar falsos fantasmas é bastante mau. Pode ser perigoso para o país.
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