07 fevereiro 2008

TPM de luxo na rua para transporte normal de pessoas

Um jornalista acaba de me informar que foram vistos há momentos dois autocarros de luxo (com ar-condicionado) dos TPM a servir de transporte normal para as pessoas, um na zona do Ponto Final, o outro em direcção à Matola.
Leia ou recorde o meu "A espada de Dâmocles" aqui.
1.ª adenda às 20:13: uma importante novidade esta, sem dúvida. Tardiamente embora, aí temos um Estado agora social, tal como pedi que fosse na entrevista de há dias na STV.
2.ª adenda às 23:10: segundo o "O Paísonline", a Federação Moçambicana dos Transportadores Rododiários anunciou esta tarde que o governo vai subsidiar os transportadores. A ideia "dos transportadores é manter as actuais tarifas de 5.00 e 7.50MT, mas com o Estado a subsidiar os remanescestes 2.50MT por passageiro de modo a totalizar os preços acordados (e depois suspensos) de 7,50 e 10.00 MT." Os chapas regressam amanhã às ruas. O jornal não apresenta a posição governamental.

8 comentários:

Nelson disse...

Esta e outras medidas que serão tomadas virão provar que não estavam esgotadas todas alternativas. A subida dos preços foi uma decisão precipitadamente tomada sem se ter considerado todos os intervenientes.

Luma Rosa disse...

Estou preocupada com tudo que acontece em Maputo. Tenho amigos por aí! Estarei por aqui atenta!

Anónimo disse...

Professor,
o PaísOnline informa que terá sido obtido um acordo de principio entre os transportadores e o governo.
Será que com este "acordo" se pode chegar a uma relativa paz?

Carlos Serra disse...

A minha resposta é a seguinte:
1) Constou-me isso, tenho tentado averiguar, mas a RM nada disse, um jornalista que contactei nada sabia.
2) A pergunta é complexa e eu nao disponho de dados.
3) Se o acordo visar, por exemplo, uma política de subsídios ou de isenção fiscal, pode ser eventualmenteinteressante caso não afecte os utentes dos chapas.
4) Leia o meu "A espada de Dãmocles".

Luis Cezerilo disse...

Professor Carlos Serra envio-lhe algumas reflexoes:

Ao primeiro sinal da palavra ética o que salta à atenção comum do cidadão é um chamamento para que ele, ao ponderar o seu sentido mais frequente e ordinário, procure ascender a uma postura de vida e de comportamento que por princípio o colocaria no caminho do Bem, seja de natureza espiritual, seja um Bem para a humanidade ou, simplesmente, uma disposição por parte daquele que é qualificado com atributos ditos éticos. Esse sujeito, ao assumir um comportamento baseado nesses princípios, tenderia para o tão propalado bem comum da sociedade em que vive.
Bastaria, para isso, apenas seguir o referencial da Lei, com o ideal de igualar-se à sua pura forma e introjectar o seu paradigma universal. Mas ao mesmo tempo em que esta concepção do senso comum é compartilhada como sendo a que melhor conduz o indivíduo a um modo de vida responsável e justo, concedendo-lhe o direito a uma espécie de liberdade assistida por fora e vigiada por dentro relativa ao grau de liberdade que a própria sociedade poderia suportar sem ser ameaçada em sua constituição, instaura-se, na mesma proporção, a contraparte de um assujeitamento subtil e inaudito. O que provoca tanto o desvio quanto o desejo de se conformar com as situações na esperança de recompensas ou ganhos, ao modo moralmente útil de ser.
O modo que agrega o indivíduo ao corpo da sociedade, por meio de uma relação dicotómica de boa ou má vontade para com o corpo de leis - o qual devolve ao indivíduo o troco em forma de recompensas ou castigos -, remonta já ao nascimento do Estado. Mas não é apenas o Estado arcaico que cultiva esse tipo de código. Pertence a própria natureza do Estado esse modo de codificar seus membros pela relação de obediência e transgressão. É por isso que o Estado é um grande estimulador e reprodutor das paixões tristes, como diz Espinosa. É por medo dos castigos e esperança das recompensas que o indivíduo submete-se a um poder que o separa da sua própria capacidade de agir e pensar livremente, desejando sua própria servidão. Ainda que aquele modo se alimente - por pura crença - de investimentos subjectivos de um indivíduo habituado ao esforço quotidiano de sobrevivência, dissimulando concórdias e inviabilizando relações reais de solidariedade ou, também, por pura conveniência utilitária e objectiva de investimentos de desejo de poder nem um pouco desinteressados (ao contrário do que invoca o sujeito legislador de Kant) desvela-se assim como seu contraponto um comportamento de um tipo de vida inteiramente subserviente, tragado por um círculo vicioso, como num buraco negro, sempre realimentado pela repetição da perda da capacidade de criar as próprias condições existenciais.
É assim que tombamos. Por morder a isca dos “nossos” interesses, interesses de um “Eu”. Caímos cativos de uma moral que impõe dever a uma instância exterior como o Estado, o Bem, a Lei ou, em uma palavra, a valores de uma época que, apesar de serem criados por uma determinada sociedade historicamente formada, são publicados e estabelecidos como universais e perenes. Enfim, transcendentes ao tempo e ao espaço nos quais emergiram.
Expressos por discursos que pretendem representar e justificar os chamados “bons costumes”, auto-qualificados de científicos, cultuados como verdades em si ou formas puras do saber, esses valores bloqueiam e separam o indivíduo de sua capacidade imanente de pensar e agir por ordem própria, desqualificando os seus saberes locais e singulares como meras crenças ou opiniões e destituíndo-os de suas potencias autónomas no dizer de David Hume. É dessa maneira que indivíduos tornados fracos, por paixões de medo e esperança passam a clamar por uma ordem heterónoma que os salvaria do caos, da impotência e da miséria, tal como no exemplo extremo do nazismo. Como diz Wilhelm Reich, os alemães não foram simplesmente enganados, eles desejaram o nazismo.

Luis Cezerilo

Anónimo disse...

Grande Malhangas!

Anónimo disse...

O problema não é o aumento dos chapas e do pão. O problema são os salários miseráveis da maioria dos moçambicanos. O problema são os rendimentos fabulosos da elite chegada ao poder em Moçambique.
Em Moçambique não há uma classe média que sustente o Estado politica e financeiramente ou seja não há uma redistruibuição equitativa da riqueza. Há os que vivem de um lado e do outro, os que sobrevivem e foram estes últimos que estão a fazer sentir a sua voz. Em 32 anos de independência a grande maioria da população não obteve nada de substancial, antes pelo contrário pois se fizermos projecções de desenvolvimento a partir de 1973 verificariamos que o nosso nível de desenvolvimento social e humano seria muito maior. Só não vê quem não quer.
O que se passou foi só o prenúncio do que está a minar e abalar a sociedade moçambicana, um pequeno abalo sísmico (como diria o prf Serra) que poderá despoletar um verdadeiro tsunami com graves consequências sociais, económicas e políticas que poderão, em último caso, acabar com as fronteiras coloniais impostas e com a identidade moçambicana também imposta pelo colonialismo e termos não um mas vários países agrupados mais pelas etnias do que pela unidade do "Rovuma ao Maputo". Falta ao país um verdadeiro líder com o carisma de S. Machel que se identificava e aproximava do que na verdade faz um país: o seu povo.
Tudo isto serviu para o povo perceber que pode ir mais longe e que estas acções serviram de "treino" para o futuro se entretanto nada for feito para de facto, aumentar o poder aquisitivo da população.
Lembrem-se que no oceano as grandes ondas, destruidoras, começam sempre numa pequena ondinha.

Carlos Serra disse...

Obrigado em primeiro lugar ao Dr. Cezerilo, lá longe, no Brasil, obrigado tb aos outros. Leiam a nova adenda.Continuo a reflectir.