10 janeiro 2009

O que "é" o lobolo? (7)

Mais um pouco desta série, cuja continuidade estava atrasada.
No número anterior escrevi o seguinte: deixem-me avançar com esta hipótese: não é a mulher enquanto tal, a mulher natural, que está em causa, mas a mulher social enquanto repositório de três potenciais:
1. Potencial de gestação
2. Potencial laboral
3. Potencial de reprodução do simbólico
Esse três potenciais aparecem dissolvidos em dois tipos de discursos:
1. O discurso integrador através dos espíritos dos antepassados
2. O discurso reprodutor através da estabilidade familiar
Quando estudamos todo o complexo ritual que escora o lobolo, o cultural e o simbólico surgem com grande visibilidade e força, como se encontrassem neles próprios a sua razão de ser. A aliança entre famílias, regulada através da cedência onerosa de uma mulher, surge como a chave formal de acesso ao fenómeno.
Porém, o que está verdadeiramente em causa são, em meu entender, os três potenciais acima propostos, potenciais que aparecem dissolvidos, amortecidos, como que suavizados nos e pelos dois discursos indicados.
No lobolo não é a mulher em si (repito) que tem valor, não é ela em si que aparece veiculada no lobolo, na sua superfície comercial, financeira. O que nela tem valor (cada vez mais oneroso), o que por ela se negoceia, é o conjunto dos três potenciais sugeridos, independentemente do amor, da fidelidade, da aliança, do respeito, etc. Não é a mulher-noiva em si que tem um preço. O que tem preço é liga triádica dos três potenciais.
(continua)

3 comentários:

Anónimo disse...

> ao potencial reprodutivo acrescentaria, prazer: "potencial reprodutivo + prazer".

> nos casais do meio rural o sexo é praticado com abundância, não só visando a perpetuação do clã, mas também, fortemente, por prazer (daí que a prenhez não limite o sexo).

> mas, obviamente que com o lobolo se pretende (simbolicamente ou não)a propriedade,(1)da fêmea/ reprodutora; (2) da fêmea/ meio de produção: em síntese, uma compensação aos pais (donos) pela cedência de direitos de propriedade. Em todas as sociedades continua a haver uma franja da população com esta visão, mais "básica".

> nas nossas sociedades matriarcais (em que o noivo se instala e presta serviços na casa dos sogros) há muitas vezes exigência dos pais da noiva para que a filha engravide dentro dum período relativamente curto: casar para reprocriar. Se tal não acontecer o noivo é "descartado".

> conheci um pai que preocupado com o facto da filha não engravidar passados alguns meses de "acasalamento" foi com o genro cortar uma àrvore que destinaram a lenha para a casa do genro, com o alerta seguinte do pai da noiva: "se quando esta lenha acabar minha filha não estiver grávida, vais embora".

> Ao que parece, o genro levou a sério a ameaça... e, a jovém engradivou.

FM

Anónimo disse...

enqunto que no casamento ocidental o dinheiro vai para a Agência matrimonial e o aluguer de carros

Anónimo disse...

Mas tambem eh um acordo simplificado de ced^encia do membro de uma familia a outra. Que eh mesma coisa celebracao de casamento.