01 setembro 2007

Estou contigo, Joaquim Madeira, porque tu és honesto!


"Porque caí sobre os corruptos, acabei tendo problemas com alguns colegas. Alguns, ao saberem da minha saída, organizaram uma festa, e eu soube disso. Estes foram os corruptos que escaparam à minha vassourada, razão pela qual se sentem aliviados." - Joaquim Madeira
I
Permitam-me colocar aqui extractos de um importante entrevista concedida ao "Notícias" pelo ex-procurador-geral da República, Joaquim Madeira:
"Na nossa sociedade multipartidária, quando o criminoso está ligado ao partido da oposição, diz-se que você está a perseguir a oposição. Quando o criminoso está ligado ao partido governamental, você está a defender o poder. Não é possível agradar a gregos e troianos."
"Por dever profissional, você tem que dizer ou fazer algumas coisas, mas por algumas conveniência ou não diz ou tem que dizer de outra maneira. É uma vida um tanto ou quanto complicada."
"Por causa da corrupção demiti e expulsei colegas. Nos outros sítios, em vez de serem demitidos ou corridos, transferem-se. Verifica-se uma dança de transferência de corruptos de um lado para o outro. Isso não é nada e, felizmente, no meu sector nunca permiti isso. Porque caí sobre os corruptos, acabei tendo problemas com alguns colegas. Alguns, ao saberem da minha saída, organizaram uma festa, e eu soube disso. Estes foram os corruptos que escaparam à minha vassourada, razão pela qual se sentem aliviados."
"Um dia vou escrever as verdadeiras mazelas do nosso sistema judicial."
"Mas a minha maior consolação veio dos jovens que estão a entrar para a magistratura. Das conversas que fui mantendo com eles sempre diziam que preferem o MP e não ser juízes. Sentia que para além de me admirarem, mostravam confiança no meu projecto de melhorar o sistema judicial. São jovens que não são levados pelo aliciamento de dinheiro, que querem entregar a sua vida à pátria, dar o seu melhor. Aí, sim, encontrei a maior consolação do meu trabalho."
II
Um dia, em contexto e por razões que agora não interessam, Madeira pediu-me desculpas pelo fato de eu estar atrapalhado com gente que, num certo foro, estava sempre de olho no dinheiro para a execução de um determinado trabalho. Não mais esquecerei o seu rosto.
Compreendo perfeitamente Joaquim Madeira. E acredito completamente na festa que - tal como contou Madeira - foi organizada quando se soube que deixara de ser Procurador-Geral da República.
E volto a repetir: Madeira é um homem honesto. Muito honesto.
Estou contigo, Madeira, porque tu és honesto.

13 comentários:

Reflectindo disse...

Segundo o meu ponto de vista, Joaquim Madeira disse-nos muito do que precisamos. Do resto depende de nós porque afinal temos também poder que quando não o exercemos diluimos o dos outros como o dum procurador-geral da república.

Carlos Serra disse...

Madeira esteve sempre ostensivamente manietado.

Reflectindo disse...

Prof Serra, é exactamente isso que Madeira percebo e percebi sempre. A questão que coloco a respeito do nosso poder, é que nós nunca fazemos pressão ao poder político atravez do voto por exemplo contra a corrupcão a criminalidade e má governacão, algo que ajudaria a pessoas honestas como Madeira. E o que ganhamos no fim? NADA.

A verdade que se deu agora é aquilo que o Mabunda disse ou eu penso que ele disse no seu artigo de opinião: Joaquim Madeira já estava a desvendar o segredo, já incomodava ao poder, com os seus dizeres doutra maneira.

Hoje, penso eu que podemos desculpar Mulembwe e Madeira por "naïvity" ou seja "ingenuidade". Pensavam antes que fariam o que podiam e queriam no servir à sociedade mocambicana, mas a verdade foi outra. Madeira já nos revela isso publicamente, algo que Mulembwe evitou até agora, embora saiba da dívida que tem ao povo mocambicano.

O que eu pessoalmente não quero concordar são as futuras desculpas de um Paulino. Desde já Augusto Paulino não nos explicou do porquê devia haver um processo autónomo no caso Carlos Cardoso. Desta vez, ele foi oferecido este cargo de PGR e ele não pode nos dizer que não tinha como o recusar, se as ambicões pessoais não estavam acima do servir à nacão. Para mim, ele teve toda possibilidade de dizer ao Presidente Guebuza o que estava na sua alma e ao que jurou.

E nós, penso eu, o melhor que podemos é enquanto tivermos a possibilidade de votar, termos que demitir e admitir governos por isto e por aquilo.

Carlos Serra disse...

O problema de como influenciar e determinar a direcção dos votos é e será sempre complexo. A abstenção nas últimas eleições presidenciais e legislativas é preocupante. Vamos a ver as próximas.

Reflectindo disse...

Caro Prof Serra, eu quero entender esse problema de abstencões, e creio que muitos querem entendê-lo, só que de facto falhamos nós próprios porque não assumimos a cidadania.

Para mim, é muito preocupante que nos círculos eleitorais com mais pessoas educadas ou alfabetizadas haja mais abstencões ou se vote mais pelo mesmo problema. Falo agora da Cidade de Maputo que me parece ter que ser a última a encontrar alternativa, mesmo quando for para autarquias.

Fico ainda mais preocupado quando leio afirmacões não ponderadas nem assessoradas, afugendando ainda o eleitor como a de pacto entre a a Renamo e a Frelimo, do Dhlakama. Mocambicanos querem governantes servidor do povo como Daviz Simango na Beira e não pactos.

Eu penso que temos que ser conscientes que eleicões influenciam dão tb poder à nossa procuradoria-geral

Carlos Serra disse...

O grande problema está em conhecer, no geral e no particular, as condições e os fenómenos que determinam ou condicionams os votos. Eu tentei isso no meu livro sobre as eleições autárquicas de 1998. Talvez venha a repetir a experiência proximamente.

Anónimo disse...

Porque nao voto?

1. Que diferenca o voto fara na minha vida? talvey alguma.

2. Porque aturar longas bichas quando se sabe que ja ha um vencedor antecipado?

3. Os casos de viciacao de resultados eleitorais nunca foram esclarecidos, entao porque votar? para alguem anular com a viciacao?

As minhas perguntas podem parecer redicualas, e muitos podem vir aqui evocar o "nacioalismo ou patriotismo". Mas eu questiono, naciolismo sobre oque? para alimentar a ganancia de um bando de pardais? O meu Nacionalismo mostro-o quando mesmo perdendo aplaudo os nossos Mambas, sinto-me ofendido com a seleccao do basquete a ser treinada por um olheiro, falo e orgulho-me das maravilhas do meu pais, quando dou a mao ao meu proximo....etc.

Carlos Serra disse...

Nenhum das suas 3 perguntas pode ser excluída de qualquer investigação sobre abstenção.

Reflectindo disse...

Boas e interessantes perguntas do anónimo. Porém, nascem mais perguntas:

- Quem pode alterar o cenário eleitoral actual?

As abestencões mudam ou aceleram cenário eleitoral em Mocambique?

A quem beneficia a abstencão?

Abracos

Carlos Serra disse...

Uma eventual modificação da actual lei eleitoral teria de começar pela AR. Em relação às novas questões colocadas: a abstenção é regra regral um indicador de crítica, activa ou passiva. Mas desde que um partido vencedor atinja as metas previstas do sistema eleitoral que é o nosso, "passa" sempre independentemente do coeficiente de crítica existente na abstenção. Por palavras perversas, a abstenção é indiferente a quem ganha...Olhe:em 2004 Guebuza foi o vencedor em eleições marcadas por 63% de abstenções, com os dois maiores círculos eleitorais,Zambézia e Nampula, registando níveis acima dos 72%. Por outras palavras, a abstenção verificada não impediu Guebuza de se tornar Presidente, nem a Frelimo de ter a maioria dos assentos da AR.

Anónimo disse...

Exclente debate! Devo dizer que concordo com todos e creio que a outra via para minimizar as abstençoes é a mudança da forma como são eleitos os deputados a AR. actualmente votamos em listas de A ou B e não nas pessoas, e assim temos poucas possibilidades de os responsabilizar. Creio que a fraca responsabilização dos deputados estiumula as suas prolongadas sonecas durante as sessões que são apenas interropidas por breves nomentos de aplausos e isso não entusiasma ninguem a votar.

Eu gostaria de eleger pelo meu circulo eleitoral o/a senhor/a X ou Y e não a lista, pois aí estaria claro de quem estou efectivamente a enviar como meu representante e facilmente o responsabilizaria.

Jorge Saiete

Carlos Serra disse...

Boa coisa aqui colocou para reflectirmos, Saiete.

Reflectindo disse...

Volto à questão. Será que é útil validar eleicões com participacão de menos de 50%?

Penso que já deviamo-nos interrogado sobre isto, mas parece-me que se evita. Nas eleicões autárquicas de 1998 a participacão foi inferior a 15 % (?). As eleicões foram validadas. As eleicões gerais de 2004, a participacäo foi abaixo de 40%, e nas províncias mais populosas foi menos de 30%. Estranhamente, nenhum dos partidos políticos se lembra deste facto quando se discute sobre a lei eleitoral. Como a abstencão poderá ser crítica ou sancão nas eleicões mocambicanas desta forma? Sibindy em particular se lembra nos dias dos resultados e equece-se horas depois.