04 agosto 2009

Dez mandamentos venais na arte de confusionar o adversário (4)

Agora o término da série.
(9) SANTIDADE: exibir o nosso brazão, os nossos títulos, os nossos atributos nobiliárquicos, profissionais, académicos, a nossa força iconal, tudo isso dá muitas vezes um resultado aparatoso, circense. Quanto mais estranhos e vertidos em língua estrangeira, melhor. Usar expressões latinas (mesmo se fora do contexto; aliás, quanto mais for do contexto melhor), recorrer a anglicismos ("A mulher será tema de um workshop"), tudo isso é vital na luta com o adversário, sem perder de vista (e de sabor) o imperativo de sanduichar bem a coisa com termos da nossas línguas natais, grafados à inglesa a partir de parâmetros que só os deuses conhecem.
(10) PROVOCAÇÃO: o décimo mandamento pode ser o aglutinado de todos os outros, uma espécie de síntese de todos os outros. Pode resumir-se à provocação deliberada do outro, a levá-lo a irritar-se, a sentir úlceras gástricas, a segregar anti-corpos, a sentir-se seriamente ofendido. Bastam apenas alguns motes: "Sabe, o senhor jamais mudará!" E tudo pode terminar com uma frase de ouro, sacrossanta, de régulo, do género: "Tenho dito!"
(fim)

3 comentários:

micas disse...

Estou ou penso estar certa, ao achar que todos os leitores verão em cada um destes mandamentos os plíticos da nossa praça( seja lá onde ela fôr)

No entanto Professor acho que o 10º mandamento não será o úncio a provocar úlceras gástricas, azia, etc.

Aliás tanto quanto julgo saber esse é o mal mais comum entre políticos. E se estivermos em período eleitoral, tanto pior.

Tanto kompensan se vende!!!!!

Anónimo disse...

Caro Micas, Só os políticos? Esses mandamentos tão saborosamente expressos pelo Professor não são usados profusamente na academia? Nos bloguistas? Nos comentadores? De certa maneira, ao arremessar a primeira pedra para os políticos, o amigo Micas já está a observar alguns destes mandamentos (leva-los a irritarem-se, a segragarem suco gástrico...)

micas disse...

Caro anónimo

1ª pedra? Olhe que não, olhe que não ( onde será que já ouvi isto?)

Se os políticos se irritassem com algumas das ditas "pedras" que eu e outros tantos lhe atiramos....talvez parassem para nos escutar, para pensar