Quase diariamente uma parte da nossa imprensa dá conta da "violência doméstica". E esta violência apresenta-se como algo tão indiscutível, tão natural, tão biológico, que o fundamental não é considerar as condições sociais em que a violência surge, mas mostrar a dramaticidade do fenómeno, o seu aspecto psicológico, lutar para que os violentos domésticos sejam menos violentos, menos maus. Reparem nesta descrição emblemática:
"Dos 196 casos registados em Janeiro, 78 foram reportados por mulheres, 59 por homens e 46 casos referem-se à violência contra crianças. Dados fornecidos pela Coordenadora do Programa de Atendimento da Mulher e Criança Vítimas de Violência Doméstica, Maria Sopinho, especificam que do grupo de 78 mulheres violentadas, 19 foram expulas de casa pelos seus maridos. Do total dos casos reportados por homens três foram expulsos de casa pelas suas mulheres. Quanto à violência contra a criança, a fonte explica que dos 46 casos, oito referem-se à violência sexual a que as vítimas foram submetidas."Falamos de violentos, dos maus e dos bons, mas poderíamos falar de batatas, de tomates ou de amêjoas. Tudo é natural, nada é socialmente produzido e socialmente explicável. Não importa o sistema social no qual a violência é produzida e reproduzida, o que importa é dar conta disso e saber como suster os violentos a nível de remédios determinados. Montes de organizações não-governamentais ganham a vida a estudar e a descrever essas coisas naturalizadas.
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2 comentários:
A violência doméstica é muito vulgar nos tempos que correm e, durante a minha pesquisa de campo, fui confrontado com imensos casos de abuso em casais do mesmo sexo. Um estudo da Universidade do Minho dá conta da violência doméstica em Portugal, pelo menos ao nível dos casais heterossexuais. No caso dos casais do mesmo sexo, ela parece estar fortemente associada ao estilo de vida sexualmente promíscuo e ao ciúme. No caso moçambicano, é provável que o abuso possa ser explicado por outros factores culturais. Estou deveras contente por ter este contacto com a terra onde nasci e, assim espero, com outros moçambicanos. Obrigado.
Obrigado pelos comentários. O meu problema reside, sempre, em não ver nestes estudos locais qualquer relação com variáveis fundamentais.
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