Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
16 setembro 2007
Auto-nomeados guardiões da honradez
Na sua habitual crónica no semanário "domingo" de hoje ("Carta a muitos amigos", p. 8), Sérgio Vieira faz um veemente apelo "à dignidade patriótica na luta contra a corrupção". Se há provas de corrupção, que elas sejam exibidas nas instâncias jurídicas. Se não há, que se calem os "auto nomeados guardiões da honradez". Defende que é necessário terminar com a errada tese de que ser preto significa ser corrupto. Que há dez anos, por exemplo, encontrava numa agência bancária "mamanas de capulana" que iam "depositar algumas dezenas de milhões de meticais (antigos), fruto de galinhas e manjares servidos nas suas barracas e da cerveja", mamanas que "podiam não exteriorizar sinais de riqueza, mas certamente qualquer delas dispunha de contas muito mais chorudas do que a minha, que me considerava como bem pago, pela minha categoria". Finalmente, é fundamental saber que "a esmagadora maioria do nosso Povo, dos membros da Frelimo e dos demais partidos não provém das fileiras dos gatunos".
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19 comentários:
Mano Vieira devia ser maningue beatificado.
De nada serve vc gozar, minha senhora. A história é dos vencedores que trabalham com o suor do seu rosto. Tenho dito.
A propósito, Sérgio Vieira não fazia parte do grupo Mulémbuè, que em 1992, que prometera denunciar os corruptos?
Denunciar quais corruptos? Os da imprensa sensacionalista? Sempre há a mania de pensar que nós os pretos somos todos corruptos. Tenho dito.
Por acaso alguem tem uma referencia, nacional, sobre a definicao de corrupto??? Agradecia que me facultasse.
Creio que o Vieira ate pode ter razao. Porque se jogo de influencias, abuso do poder, comissoes em troca de favores, usurpacao de bens de estado para fins pessoais ou partidarios, etc..etc....nao se enquadra em nenhum definicao de corrupcao no contexto Mocambicano,entao nao ha corruptos.
Tivane....sim, nao somos todos corruptos. Nisso estamos de acordo.
SAO SO UNS..HEHEHHEEHEH
Que não todos corruptos ou seja lá o que chamemos ao fenómeno que odeiamos, por exemplo aquilo que mozinovador menciona - jogo de influencias, abuso do poder, comissoes em troca de favores, usurpacao de bens de estado para fins pessoais ou partidarios - isso, todos nós sabemos.
Contudo, há algo a observar no discurso do Sérgio Vieira. Porquê ele está tentado racializar o fenómeno corrupcão? Ele está a procura de solidariedade de quem? Minha como "preto" ou nossa?
Pergunta quase crónica do Coronel: “Deterão Moçambique e a África o monopólio da corrupção?”
Resposta óbvia: claro que não, nos países desenvolvidos também há sofisticados sistemas de corrupção… Bem, mas também há sistemas de segurança social que mitigam os efeitos sobre os menos favorecidos.
Conclusão do Coronel: Se até nos países desenvolvidos há corrupção, porque não havemos de lhes seguir o exemplo? Quanto à segurança social… até aumentámos recentemente a pensão de velhice para 130Mt/Mês.
O Coronel conhece bem a podridão, a chafurdice do enriquecimento sem justa causa. Começa é a não ter tempo, paciência, ou a perder a noção da importância de uma reflexão mais cuidada sobre o que semanalmente escreve: pensa alto, enfeita os seus textos com “bold” manda recados e abraços a torto e a direito e está preenchido o espaço de meia página de opinião.
Florêncio
____
PS – Sobre os depósitos de milhões das mamanas, há dez anos.
O Coronel, que foi MINISTRO Governador do Banco Central, o único Governador (antes e depois dele – sem dúvida figura “sui generis”) com estatuto de Ministro = Governador do BM com assento no Conselho de Ministros, uma aberração do socialimo de então, devia saber que a inflação acumulada acaba por criar a ilusão de que todos somos milionários.
Todos passamos a ter milhões, mas com cada vez menos poder de compra, fundamentalmente, em consequência do Estado consumir mais do que arrecada (resultado da corrupção e incompetência que nele imperam) e emitir moeda sem contrapartida na produção de bens e serviços na economia nacional.
Foi por essa razão - para reduzir o número de milionários de “pé descalço” - que o Banco Central decidiu retirar três dígitos à nossa moeda: quem tinha 1.000.000Mt passou a ter apenas 1.000Mt.
Será que o Coronel, ex- Ministro Governador do BM, acha mesmo que esta medida do Banco Central resulta de uma evolução positiva da economia, que tudo vai bem?
Sim, três fenómenos a reter: (1)Racialização do social, (2) Evicção populista da corrupção (aliás até há quem na terra teorize a necessidade de se eliminar o termo das nossas preocupações nacionais) e (3)demagogia no atinente à fortuna das nossas mulheres. Fora, claro, os habituais abraços.
Proponho que procuremos o seguinte documento: Lei nº 6/2004, de 17 de Junho (BR nº 24, I série, Suplemento).
Isso!
Ok..Reflectindo, apenas para ajudar um pouco mais na tua sugestao, aqui vai o LINK para o documento a que te referes
:
http://www.forumanticorrupcao.gov.mz/docs/BR-MecanComplCombCorr.pdf
Passagem interessante da estrategia ani corrupcao:
Ela (a corrupcao) geralmente manifesta-se em:
- extorsão ou roubo de elevadas somas de recursos públicos por funcionários
seniores do Estado, geralmente membros de e/ou associados com a elite
política ou administrativa;
Obrigado mozinovador pelo completo.
É um documento importante embora tudo o que seja lei não seja fácil de interpretar para quem não é jurista. Eu não sou jurista, mas muitas vezes insisto (opinião pessoal) que o importante na interpretacão duma lei é procurar ir ao encontro dos objectivos da criacão dessa mesma lei. e, se ela não ao encontro, deve rectificar.
Por exemplo, por que objectivo se criou esta lei? Que se discutia por muito tempo na Assembleia da república onde o Sérgio Vieira era deputado? etc, etc.
Em relacão ao Sérgio Vieira, é segundo a minha opinião, dos poucos membros da Frelimo que demonstra não gostar da corrupcão. Lembremo-nos de como se pronunciou no IX Congresso da Frelimo. Portanto, para mim é estranho que ele venha esta semana a racializar a corrupcão e a até convidar todos os partidos políticos para um silêncio ao fenómeno.
Vejo aqui uma táctica eleitoral. Fazer da corrupcão uma bagatela nas campanhas eleitorais. Quem falar dela é um mercenário do ocidente; está ao servico dos brancos, dos estrangeiros.
Se o próprio Sérgio Vieira tem teoria de conspiracão e publica-a eu também a tenho.
Portanto, digo que já ando muito desconfiado com as recentes exoneracões. Exonerou-se um procurador-geral que conhece os casos que já têm barbas brancas na PGR, e, nomeou-se um novo que precisa de tempo para conhecê-los - é uma boa desculpa;
Exoneraram-se os procuradores-gerais adjuntos, os que lidavam com os problemas (os casos quentes). Segundo a Constituicão da República, se ela se seguir com rigor, não se vislumbra que sejam nomeados novos assim de imediato. O processo é longo, passando pela Assembleia da República. E lá, talvez em Outubro, com certeza procurar-se-ão as desculpas de sempre e se dirá a oposicão (bode expiatório) é que faz atrasar a nomeacão de novos procuradores-gerais adjuntos.
ESPERO QUE NADA DISTO ACONTECA!
Refletindo,
Do 9º Congresso, recordo o sorriso de felicidade de Sérgio Vieira, que na altura povou nossos periódicos, honrado por ser fotografado em fraterna cavaqueira com um camarada candidato ao CC conhecido como benemérito adjudicador de cachimbos, canetas e outras coisas mais, com que gosta de presentear PR´s ? Quem é ele, SV, para não bajular personagem tão proba, tão mãos largas para Sexas e pró partido … em contrapartida das mais diversas isenções governamentais, que saiem dos bolsos de todos nós? O que chamará SV a esta troca de favores?
Obrigado, anónimo (o último) pela dica.
E assim vamos dialogando...
Continuando o diálogo,
A referência ao 9º Congresso (do último anónimo), transporta-me para a “Antropologia da acumulação de capital no pós-independência” a que o Professor várias vezes se tem referido como trabalho que interessaria fazer um dia.
O Decreto 16/75, veio contemplar a possibilidade do Estado intervir nas unidades económicas abandonadas, sujeitas a sabotagem, etc.
Em consequência, foram nomeados camaradas para comissões administrativas em empresas de todos os sectores de actividade. Foi o início do processo de acumulação do pós independência, substancialmente fortalecido mais tarde com a criação das Empresas Estatais e preenchimento dos seus órgãos sociais: o cabritismo no sector empresarial controlado pelo Estado começou bem cedo: mal a porta se entreabriu!
Mas esta fase teve uma outra particularidade: a paralela evolução dos, financeiramente insignificantes pequenos e médios comerciantes, maioritariamente de origem asiática, para grossistas, com forte peso na importação, exportação, comercialização e distribuição de bens e serviços. Uma ascensão facilitada pelo clima propício à promiscuidade que encontraram – e souberam aproveitar – ao nível dos gestores de unidades económicas e financeiras e dos órgãos políticos e administrativos do país.
Grande parte dos nossos gestores, quadros e governantes de então, não entenderam, ou fizeram-se desentendidos, que as “esmolas” que recebiam por seus favores não eram inocentes. Não souberam dizer não: Caíram na rede e não mais se libertaram. Muitos trocaram a dignidade por património: opções de vida!
Conhecendo minuciosamente os cantos á casa, foi esta camada social de “dadores e receptores” que, já no pós-Samora, mais se aproveitou do processo de privatizações do sector empresarial do Estado. Associaram-se a gestores de empresas, quadros do partido e aparelho de Estado, para terem acesso - em parcerias formais ou sob “acordos de cavalheiros”, para não dar nas vistas - a patrimónios em condições de privilégio.
Em grande parte, ainda hoje, o nosso tecido empresarial – e as mansões e condomínios de luxo, como as do “filantropo do cachimbo” e de muitos gestores, quadros e dirigentes – são o reflexo dessa realidade: convivem, seguem o exemplo do samaritano SV, abraçam-se. Tudo numa boa!
Florêncio
PS Como é público, o 9º Congresso da Frelimo, tal como os outros, foi fortemente apoiado por “filantropos” da nossa praça – a troco, como foi dito pelo último anónimo, de isenções do Governo, fundamentalmente, de taxas e impostos sobre importações, representando o somatório de tais benesses várias vezes o montante das “altruístas contribuições”.
Na verdade, com tal promiscuidade entre Partido e Governo, tem sido o erário público – que somos todos nós – a: (i) pagar as festanças dos Congressos; (ii) encher os bolsos dos “filantropos”, que adiantam 100 para receber 1000; (iii) privar de melhores condições, os postos de saúde, as escolas rurais, os mais fragilizados.
O Coronel, que bem conhece estes esquemas e é parte do cenário, como classificará tanto engenho? Não vê o sorriso condescendente, trocista, nos olhos dos “filantropos”?
Aí estão dados fundamentais para toda uma história por fazer...
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