10 junho 2008

Linche-se Mart!

Não há muito tempo ainda, Mart Nooij, treinador holandês da nossa selecção de futebol, pago a 15 mil dólares por mês, era o salvador. As colunas desportivas do nosso jornal eram claramente martianas. Tudo parecia indicar que o futuro estava à porta do presente, que o céu era, finalmente, moçambicano.
Depois, começámos a perder. Com a derrota face à Costa do Marfim por 0/1, começou o sobressalto. Com a segunda derrota consecutiva, desta vez em casa, face ao modesto Botsuana, por 1/2, com uma equipa recheada de estrelas - incluindo Dominguez, considerado o melhor jogador na África do Sul -, o caldo entornou, o sismo rebentou. No fim do jogo, choveram garrafas para o estádio e, agora, aflita, penalizadora, tendo na manga o Salvado-r (cheio de títulos, prata da casa, fazendo brilho no Atlético Muçulmano) a Federação Moçambicana de Futebol convidou Mart a demitir-se, o que este, claro, não aceitou (sabe bem que isso implicaria pagar-se-lhe grossa indemnização), argumentando que, matematicamente, ainda nos podemos qualificar para o Can e para o Mundial de 2010. De Mart o salvador, passou-se a Mart o culpado, o bode expiatório, o candidato a linchamento. Sempre fascinante, aqui ou não importa onde, esta apetência pela purificação, pelo sangue novo, pela morte do velho.
Amamos os resultados em cima, rápidos, cheios de luz. Mas não estou certo sobre se estamos a trabalhar em baixo, nas jovens camadas de jogadores, naqueles que nascem nos Bebecs dos bairros populares.
E, finalmente, em tom de suave ironia: não seria bom, também, apostar em vovôs mais milagreiros, com patas de macaco mais decisivas, encontráveis nos alfobres famosos de Inhambane ou de Manica?

3 comentários:

Anónimo disse...

A derrota dos mambas(?) não pode ser vista de animo leve e fora do contexto da nossa realidade.
Quanto a mim é uma crise global a nível do nosso desporto, desde o futebol, basquete, atletismo, andebol etc, etc. Desde a independencia nacional o unico fenomeno de relevo que tivemos foi a Lourdes Mutola, fruto do destino, não da produção de talentos.
Vamos ser sinceros: O A.Semedo quando afirma quer o nosso futebol é de baixo nível, está falando a verdade. Tenho visto os jogos da selecção, tirando um e outro jogador, particularmente os defesas que actuam fora do país e o Dominguez, o resto dos jogadores são de nível mediocre a suficiente ( Haverá algum jogando nos grandes clubes da Europa?). No Moçambola o o que se faz de melhor é maltratar a bola. Nosso campeonato é mediócre, a qualidade dos jogadores, embora tecnicamente dotados, deixa muito a desejar, as selecções sub 17, sub 21, sub 23 são elminadas nos torneios logo no primeiro jogo. é caso para dizer: Nosso futebol não terá futuro nos próximos anos. No atletismo IDEM: os recordes nacionais batidos no tempo colonial e nos anos imediatamente a seguir a independencia perduram até hoje, 33 anos depois! Os tempos e as marcas que se fazem estão abaixo das de 1972/73. Entretanto o país nunca esteve tão bem servido de bachareis, licenciados e doutorados em educação fisica e desportos! o que que andam a fazer ? O estado gasta tanto a forma-los mas não trazem nenhuma mais valia. Serão lixo?
Então nos perguntemos: o que está mal? Como saír desta situação vergonhosa? Como é que nos tempos o país produziu talentos como o matateu,eusébio, coluna, hilário, vicente, campeões do então espaço portugues em basqute, hoquei em patins, atletismo, etc. Para onde foi a matéria prima? o que mudou desde então?Díficil de reponder. É matéria de estudo para os inúmeros doutores que temos, entretanto adianto algumas reflexões:
O argumento de que os campos de futebol,viraram dumba nengues é válido mas não explica tudo. Em muitos paises, devido ao crescimento urbano verificou-se o mesmo fenómeno, só que para contrapor, nasceram academias nos clubes que pegam miudos de 10 a 12 anos e a par de uma educação escolar e moral rigorosa começam a ser " limados " por técnicos super competentes. Nas escolas existem professores de educação fisica que de facto dão aulas, ensinam aos alunos os rudimentos dos principais desportos, desde como chutar e dominar uma bola de futebol, como jogar basquete, volei,
andebol, rudimentos de sprint, meio fundo, fundo, lanaçamentos de peso, dardo e saltos. O que sucede hoje é que o professor atira uma bola para o campo( quando existe) e desaparece! esta é a realidade, creiam e pasmem! A disciplina de Educação Fisica é a parente pobre dos programas do Ministerio da Educação, ninguem lhe dá o real valor e depois reclamamos.
A Federação pode contratar o Carlos queiros, o Alex FERGUSON E ETC. NENHUM DELES TERÁ SUCESSO. OCASIONALMENTE GANHAREMOS UM E OUTRO JOGO POR SORTE E NÃO POR ENGENHO E EMPENHO. COMEÇEMOS DESDE JÁ A MUDAR AS COISAS A NÍVEL DOS PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO FISICA NAS ESCOLAS E OBRIGANDO OS CLUBES A TEREM ESCOLAS DE JOGADORES COM TÉCNICOS CREDENCIADOS E SE POSSÍVEL PAGOS PELO ESTADO( AO INVES DE GASTAR 15.000 DOLARES PARA UM UNICO TREINADOR COM JOGADORES DE POUCA VALIA).ACREDITO QUE DENTRO DE 10 A 15 ANOS PODEREMOS SER UMA POTENCIA EM AFRICA. TEMOS QUE SER PACIENTES E PREPARAR O FUTURO, NADA DE IMEDIATISMOS. ACRESESCENTO QUE É NECESSÁRIO OLHARMOS TAMBÉM PARA A QUALIDADE DE DIRIGENTES DESPORTIVOS QUE TEMOS- O SER DIRIGENTE DESPORTIVO É UMA ACÇÃO FILANTRÓPICA PARA GENTE QUE ENTENDE DE DESPORTO, O QUE SUCEDE É QUE AO INVÉS DE SERVIREM, SERVEM-SE DO POUCO QUE HÁ E AINDA POR CIMA DEIXAM AS INFRAESTRUTURAS QUE HERDAMOS DOS COLONOS COMPLETAMENTE DEGRADADAS JÁ QUE CONSTRUIR NOVOS COMPLEXOS DESPORTIVOS É UMA MIRAGEM. SEM OVOS NÃO HA OMOLETES. SEM JOGADORES BEM FORMADOS NAS CAMADAS JUVENIS, SEM ARBITROS MORALMENTE SÃOS, SEM DIRIGENTES ABNEGADOS E CONHECEDORES, SEM DOUTORES DE FACTO E SEM INFRAESTRUTURAS O NOSSO DESPORTO ESTÁ CONDENADO!

Carlos Serra disse...

Fez bem em recolocar aqui o comentario. Espero que o leiem.

Nelson disse...

Uma bela duma intervenção. Subscrevo