12 março 2008

O que faz correr Guebuza? (3) (fim)


Na novela romântica A Nova Heloísa, de Jean-Jacques Rousseau, o herói Saint-Preux foi do campo para a cidade e aqui entrou no meteorismo da modernidade, onde tudo mudava sem cessar. E o herói disse: "Eu não sei, a cada dia, o que vou amar no dia seguinte".
É um bocado o que está a suceder na vida política da nossa modernidade, na pedalada guebuziana para combater a pobreza absoluta, na febre das exportações, na antevisão do petróleo, no futuro dos biocombustíveis, na ameaça da subida dos preços do petróleo e dos cereais, na angústia agora de cada ministro pensando na brevidade de vida ministerial tal como nas rosas de Malherbe, mas também na angústia de cada director antevendo que mudança de ministro é mudança de director.
O projecto de modernidade acelerada de Guebuza, o seu rolo compressor choca com as nervuras do social, com a sua cadência antropológica, com a complexidade dos seus veios. Com uma vida social intensa, oscilando sem parar entre o nacional e internacional, o presidente tatua as suas expectativas com o ritmo do futuro, no preciso momento em que a vida está no presente, atrelada ao passado, à alma das coisas sensatas.
Vivemos como que na vertigem de vida de uma bolsa de valores, no frenesim fluido de uma fábrica de cadência rápida.
Sob a batuta sismológica de Guebuza, somos condenados a converter imediatamente este presente ao futuro.
Mas, ensanduichados entre doadores e aspirações populares, entre uma burguesia que tenta consolidar-se no import-export e um povo que tenta sobreviver, entre um imperialismo que nos magoa e uma nação que tenta ser ela, resta ainda, intacto - creio -, o sonho da luta de libertação nacional e social. Acredito que Guebuza guarda ainda esse sonho. E os sonhos nunca são lentos.

16 comentários:

Anónimo disse...

É curiosa a declaração do novo Ministro ds Transportes aos jornalistas, citada pelo jornal NOTÍCIAS de Maputo:
- “É preciso resolver os grandes problemas dos transportes públicos, rodoviários e aéreos, mas ainda não tenho ideia do que vou fazer. Ainda é muito cedo”, disse.
Fernando

micas disse...

Bonito texto Professor.

Mas oh gente da minha terra!!!!! onde pára a esperança, a vontade e coragem para a luta?

Força, porque... a luta continua.

Anónimo disse...

a ser verdade o que o professor Serra transcreve do blog do Duma, fico estupefacto pela forma como os 4 ministros foram destituídos. Correr não é chegar.... .
Aprecio a forma como o Professor tenta entender e explicar a actual governação. Não concordo muito com a perespectiva de continuação do sonho samoriano com a ancora do chissanismo. São épocas e situações completamente diferentes. O actual presidente quis imprimir um estilo próprio, uma dinamica intrinsica. Acho que uma das diferenças com o primeiro presidente é que este era extrovertido , expontaneo e o actual introvertido, circunscreto. Acho que o presidente tem muito boas intenções, quer de facto diminuir a pobreza e desenvolver o pais. Nesse caminho alguns erros estão sendo cometidos, sendo um deles, a exclusão social, politica e economica dos cidadaos que não gravitem em torno dos "camaradas".
Ninguem é perfeito, o importante é ouvir,ponderar e corregir o que não vai bem, o que espero sinceramente que aconteça para bem de todos nós.

Carlos Serra disse...

1. Ainda bem que não concorda...Apenas tentei, imageticamente, captar o espírito da época que vivemos.
2. Sobre a posição do novo ministro: a nova ministra da Justiça disse algo igual. Como se ambos quisessem dizer: nada de correria...

AGRY disse...

O bisturi linguístico com que dissecou de forma soberba o corpo social e politico da sociedade moçambicana oferece, também, meios de análise e de rejeição, uma espécie de anti-corpos sociais, que permitem rechaçar futuras agressões ao tecido social enfermo que aspira, com toda a legitimidade, romper o circulo vicioso para onde foi arremessado.
A terapêutica que propõe, é um antídoto para o fatalismo ancorado na pobreza e no subdesenvolvimento, escamoteado por muitos, com o recurso a técnicas do foro da arte circense aplicadas à interpretação da sismologia social.
Finalmente, informo-o que vou roubar-lhe uma cópia desta postagem para a depositar num outro espaço bem perto de mim.
Abraço
Agry

Nelson disse...

Guebuza sonhou. Diagnosticou problematicamente as "enfermidades" de Moçambique e sonhou. Buscou causas em "lugares" errados, "incompetentizou" os seus antecessores, "desmeritizou" seus feitos enfim, sonhou com um futuro(próximo) melhor e partindo para discursos prometedores fez o povo acreditar no seu sonho, fez o povo sonhar junto. Formou o seu governo com base no diagnóstico, com a ideia das"incompetências" anteriores, previlegiando a lealdade partidária(gente com mesmo sonho?) em detrimento de competências técnicas. Estabeleceu para os membros do seu governo e para si mesmo metas bem alta, "inatingivelmente" altas, mesmo sem ter certeza de que todos sonhavam com ele e ou entendiam bem o seu sonho. As expectativas do povo cresceram e quanto maior for a expectativa maior a frustração. Volvidos 3 anos de governação Guebuza está frustrado. O seu sonho não é realizável. Pelo menos não como o concebeu. Não com as pessoas que escolheu, não no tempo que determinou. Quem são então os culpados? Há que achar bode expiatórios. Os "sabotadores" do sonho. Olhando para o pouco tempo que resta, as eleições que se avizinham, mais do que frustrado Guebuza está até desesperado. Há que achar um "penso rápido" uma "pain killer", uma fórmula mágica. Há que tentar sorte numa última cartada.

Anónimo disse...

Quem com ferro mata, com ferro morre.

Porque espantar-se com as demissoes supresas e sem aviso previo? Meus senhores, isto eh cultura deste Governo. Por isso..paciencia.

Sera que o Sr Munguambe ficara magoado pela demissao surpresa? SERA???? ENTAO, PERGUNTEM-NO EM QUE CONDICOES ELE ANDOU DEMITINDO GENTE NO SEU MINISTERIO?

Anónimo disse...

Porquê não demitimos o Guebas nas urnas? Falando verdade, este nem foi eleito pelo por uma percentagem aceitável da população, talvez menos de 5%.
Reparem que o FRELIMO prepara a vitória lá mesmo na CNE e STAE. Ou seja a vitória sai da forja que são essas instituições.

Um facto meio estranho, ia ao buscar o meu filho na Escola 16 de Junho, ai na Av. Vladmir Lenine. Lá funciona um posto de recenciamento. Vi, no mesmo recinto figuras influentes da FRELIMO (Fernado Sumbana, Ministro do Turismo, Albado Silva, Marido da Primeira Ministra e outros)reunido num canto, exactamente dentro recinto onde funciona o posto de recenciamdento. O que estariam este a fazer lá? Brigada de inspecção? Renião do Partido? A CNE ou STAE sabia da presença deles lá? Ou a Direcção da Escola? Não estariam no processo da forja dos votos???????

Anónimo disse...

Enquanto o governo pensar que se podem resolver os problemas deste país com rapidez e se derem prazos para a erradicação dos males ,não chegaremos a lado nenhum.
Tem de se ter a coragem de olhar o país com sériedade e traçar estratégias sérias,racionais e com competencia a médio e longo prazo.
Acho que o mais urgente é olhar-se para a educação com ambição,com realismo ,para se perceber que este país não está a preparar nem o presente nem o futuro.
O nível do ensino e em todas as vertentes ,o cenário é bastante mau.
Pobre a nivel de programas,pobre a nível do professorado,corrupto que baste ,o que permite a passagem de classe a alunos sem preparação,etc.
O futuro está comprometido,pois não temos quadros para levarem com capacidade o desenvolvimento deste país.
Um plano marshal a nível da formação é imperativo para não comprometermos ainda mais o futuro.
Hà quem diga que as coisas só mudarão quando a velha guarda se reformar...
...mas então ,onde estão os cranios para os substituir e implementar a mudança.
APOSTEMOS NA FORMAÇÃO POIS É DELA QUE SURGIRÃO OS NOVOS DIRIGENTES, QUE SE EVIDENCIARÂO PELA CAPACIDADE;PELA INTELIGENCIA;PELA FORMAÇÂO!!!

Anónimo disse...

Será que o país está assim porque não temos gente capaz de governar melhor?

Duvido...

Para mim as razÕes são outras...

Discutamos os critérios usados na escolha de ministros e dirigentes a vários níveis...talvez aí encontremos a LUZ de muitos dos problemas.

Moçambique já tem gente com preparação académica, vontade de trabalhar e know how suficiente para governar melhor do que se governa hoje...

A Frelimo é que pode não estar VENDO...ou não QUER VER...ou CONVÉM NÃO VER....

Anónimo disse...

Matematicamente, o preço de chapa é uma função do Preço do combustivel, amortização dos veículos, custos de operação e a margem de lucro dos donos dos chapas. No preço do combustivel influenciam o preço internacional do petroleo, a taxa de cambio, a margem de lucro das gasolineiras, o peso dos impostos, etc. Nas amortizações influem o preço internacional dos veículos, o peso dos impostos e direitos de importação, o estado das vias públicas, etc. Nos custos de operação influem os custos das peças e dos serviços de manutenção, etc.
Mas na discussão do problema do chapa só tem responsabilizado mais os donos dos chapas, a FEMATRO e o Ministerio de Transportes. Mas há muitos factores e actores que estão foram do seu controlo!

Anónimo disse...

...não está em causa que haja gente capaz de governar melhor...aliás, atendendo ao que é a realidade, não será muito dificil...
Desculpem-me a ironia,mas não resisti!
O que eu quis dizer é que se concentra quase toda a atenção no imediato caótico ,e não fazemos uso da visão de paralax...
O presente dos nossos recursos académicos,tecnológicos,de pesquisa etc, é indubitávelmente pouco e fraco,e isso devia preocupar-nos muito!
Não estou a denegrir os que se encontram inseridos neste leque que citei,de maneira nenhuma,antes pelo contrário.
Tenho muito orgulho que tenhamos quadros capazes,mas a realidade não é muito animadora.
È pouca face ao desafios que temos pela frente.
De nada servem as estratégias governativas, politicas, se não houverem CABEÇAS que as implementem correctamente.

Anónimo disse...

SAMORA vs GUEBUZA
 Samora e Guebuza assumiram a Presidência da Republica em condições históricas completamente diferentes, logo, os seus desempenhos não são comparáveis.

Vejamos:

1. SAMORA: Conquistada a independência nacional, a maior parte dos países africanos entendeu que só o Partido Único seria capaz de realizar a Unidade Nacional, e que seria normal o partido único dominar o Estado; caberia ao partido organizar as instituições políticas e administrativas do Estado.

 O Artigo 3, da I Constituição da Republica Popular de Moçambique não deixa dúvidas, cito:

“A Republica Popular de Moçambique é orientada pela linha política definida pela FRELIMO, que é a força dirigente do Estado e da Sociedade. A FRELIMO traça a orientação política básica do Estado e dirige e supervisa a acção dos órgãos estatais a fim de assegurar a conformidade da política do Estado com os interesses do Povo”.

 Samora governou de 1974 a 1986 neste quadro Constitucional – como um soberano, com poderes absolutos: Presidente do Partido, Presidente da Republica, Chefe do Governo, Guia espiritual (só assim se entende o culto da personalidade, perseguição religiosa e imposição de padrões de estética e moral).

 Com todos estes poderes, à data da morte de Samora, o PIB era bem pior do que à data da independência.

> Por essa razão, em termos de avaliação da eficiência governativa, Chissano e Guebuza beneficiaram da caótica situação económica deixada por Samora.

> O crescimento económico anual de 7 ou 8% a partir da introdução do PRE em 1987, que “encanta” os parceiros internacionais, teve como Base o valor do desastroso PIB de 1986.

2.GUEBUZA: Assumiu o poder com uma nova Constituição: democracia pluralista, multipartidarismo, abertura à economia de mercado.

 Por muita tentação que Guebuza possa ter – e vontade parece não lhe faltar – não pode dar-se ao luxo dos devaneios e utopias ou “sismologias” a que Samora se podia dar (e que tudo indica acabaram por estar na origem do seu assassinato).

> O tempo mudou, depois de 33 anos de independência o povo quer resultados, quer políticas económicas que atraiam investimento e gerem emprego e bem-estar, sem o qual não haverá estabilidade social.

 Guebuza tem de assumir que o ESTADO representa a COLECTIVIDADE, todo o Povo, enquanto os partidos políticos (Frelimo incluida) exprimem ideologias e os interesses de Grupos Sociais que coexistem no seio da nação moçambicana.

Um abraço,
Florêncio

Anónimo disse...

Nao gostaria de me referir aos tres Ministérios recem affectados pela mudanca porque muito já foi dito acerca, vou me centrar ao do Ambiente.

infelizmente este sector nao mereceu a mesma atencao do chefe do estado no concernente a nomeacao de um Ministro tecnocrata. mas a quem interessa o enfraquecimento deste Ministério?

O estudo de impacto ambiental deve ser para grandes empreendimentos... mas a quem pertencem esses empreendimentos???
Construcao na orla marritima de casa e hoteis... que sao os donos dessas mansoes????
maneio de florestas...de quem sao as concessoes???
areas de conservacao sao maioritariamente turisticas... quem se beneficia dos valores que dai advem???

Sera porque "eles" nao querem intraves?

será o ambiente ainda considerado um entrave ao desenvolvimento?

Penso que atencao deve ser dada a este sector, sob o risco de ficarmos com uma qualidade de vida terrivelmente afectada, alias já se fazem sentir as endemias intermináveis, para nao falar de grandes problemas (erosao, ....)

Arrepio me só de pensar que daqui a mais um tempo nao poderei me deliciar de frango assado por falta de florestas, e consequencias sao conhecidas... fritos e colesterois e......


E mais nao Disse

Um abraco

Anónimo disse...

Num momento como este de grandes debates sobre a governação, não seria oportuno a sociedade civil (pelo menos ao nivel deste blog) discutir e propor um perfil de governante para o Moçambique de hoje para os níveis de(Ministro, dir Nacional, Governador, director provincial, Administrador e Secretario Permanente (de Ministerio, da provincia e do distrito))? Que critérios tem seguido para nomear estes dirigentes? Basta a confiança (Familiar, técnica, politíca,. . .)

Anónimo disse...

Ao Ultimo anonimo:

ESTES CRITERIOS JA HA MUITO FORMA ESCRITOS NOS MANUAIS DE GESTAO E LIDERANCA.

Thanks,

Nhangoa