08 setembro 2007

Os revolucionários verdes

No "linha directa" desta manhã na Rádio Moçambique, o tema foi a "revolução verde". Engenheiros e doutores por aí andaram, preocupados e sentenciosos. O locutor disse que o inimigo era a fome. Mote lançado, doutas intervenções feitas. Alguém disse que havia "pessoas que têm fome nesta terra" (sic). Alguém mais disse que vencer a fome era tarefa de todos, que cada um tinha o seu papel nesse combate, que combater a fome era um problema que a todos dizia respeito. Cometimento que devia ser homogéneo - declarou um participante, com ar grave. Um interveniente da Zambézia afirmou que os administradores distritais eram os "comandantes" (sic) do combate. As frases foram-se sucedendo, briosas e lutadoras, em meio a uma galeria de termos de luxo: pressupostos, rentabilizar, focalizar, contexto, estratégia, etc. Alguém de Manica disse que era preciso o camponês "sentir o gosto do dinheiro" (sic) para concorrer no mercado em "cadeias de produção" (sic). E assim foi passando o tempo na revolução verde. Se há fome, mais nada resta senão acabar com ela. Apenas precisamos estar unidos e avançar com os comandantes. O problema está tecnicamente identificado: é a fome. A solução está à vista: com a revolução verde venceremos. Não importam as relações sociais nas quais irão operar os revolucionários verdes. Aliás, esta é uma revolução especial: não corta com o cordão umbilical do sistema capitalista. Por isso, no augusto auditório da Rádio Moçambique, ninguém fez de advogado do diabo colocando esta perversa pergunta: homogeneamente falando, verdemente apostados, acreditamos mesmo que a verde revolução em moldes capitalistas acabará com a pobreza no país?

2 comentários:

belmiro disse...

o nosso país é bom em inventar slogans. estavamos na era da Jatropfa, depois fomos aos biodisel e agora estamos na revolução verde. SOMOS BONS.

Carlos Serra disse...

Sem dúvida.