05 novembro 2009

(89) 05/11/09


Qual é o principal problema da Renamo? Resposta drástica, ao sabor dos tempos: o principal problema da Renamo é o periódico discurso castrense. Problema por quê? Resposta não convencional: porque o neo-liberalismo exige o discurso da paz juridicamente monitorada. O discurso castrense, regressado há dias nas palavras pós-eleitorais do seu presidente, Afonso Dhlakama (e depois assumido por alguns dos seus lugares-tenentes em modalidades diversas), provocou rapidamente o choque, nacional e internacional. O tsunami político deu origem a ondas de apelos e protestos pacifistas. Um dos resultados da situação gerada é que, sejam quais forem as verdades que a Renamo possa apresentar em seu protesto contra o que considera serem irregularidades eleitorais, elas são rapidamente eclipsadas pelo pesadelo das emboscadas, pelo odor multiplicador a AK47. Politicamente não interessa se ela em razão: o que interessa é que militarmente cheira a pólvora. O fim da guerra em 1992 significou também a fabricação internacional e nacional da Renamo enquanto partido, enquanto entidade civil. Ora, periodicamente, por seu intermédio, o passado regressa, as matas fazem-se re-ouvir, os espíritos guerrilheiros reaparecem nos vivos engravatados. Sem paz não há democracia, não há negócios, não há eleições, não há combate contra a pobreza absoluta (melhor que relativa) e não há fundos do Estado para eleições. Os tempos não estão nada a favor da moçambicanização das casernas e os trunfos pacifistas são infinitos. Se Afonso Dhlakama tiver algum tempo, pode, por exemplo, consultar o "Notícias" de hoje, para, num variado banquete temático, saber que o Sr. Moisés Machavane do obscuro Partido Nacional dos Operários e Camponeses lhe aconselha calma e aliança com os vencedores, que o Observatório Eleitoral na pessoa de Brazão Mazula defende que os derrotados devem felicitar o vencedor e, finalmente, como sobremesa regressada com fanfarras, que um afirmado "homem armado" da Renamo em Marínguè trocou tiros com a polícia. No Hamlet, Shakespeare escreveu que era divertido ver o engenheiro ir pelos ares com a sua própria bomba. E, como sabeis, naquele quinhentista tempo ainda não tinham sido inventados o FMI e o BM. Mas, através da Inquisição, já se queimavam supostas bruxas e supostos bruxos.
Adenda às 7:20: talvez estas eleições tenham sido as mais ricas da nossa história em campos merecedores de pesquisa e análise. Interesses em jogo e práticas discursivas são vitais. Como sabem, neste diário de campo tenho regularmente proposto tópicos de pesquisa.
Adenda 2 às 7:41: saiba o que o meu colega Luís de Brito do IESE concluiu num estudo sobre as eleições de 28 de Outubro, aqui.
Adenda 3 às 7:44: saiba o que o delegado político da Renamo em Manica, Albino Faife, disse segundo o "Canal de Moçambique" de hoje, aqui.

7 comentários:

Anónimo disse...

O problema do nosso país é o de deixar as coisas crescerem sem nunca se tomar uma posição clara. Hoje estamos a condenar o discurso belicista da Renamo, mas ninguém condenou os discursos do Chipande, antes. Ninguém condenou a violência que foi a campanha toda. Ninguém condenou a queima de casas e a prisão de membros da oposição. Ninguém condenou o uso de meios do Estado. Ninguém condenou quando partidos da oposição foram impedidos de fazer campanha em muitos locais. Ninguém condenou quando as autoridades recusavam-se a passar atestados de residência à favor dos candidados à deputados (da oposição). E mesmo nos relatórios dos observadores, nada ou quase nada se diz em relação a isso tudo. Limitam-se a ver o resultado eleitoral em si, sem tomarem em conta o contexto donde elas surgem!
Estamos a acumular infracções sem julgamento ou devido tratamento jurídico. A nossa justiça, e em especial, a PGR, deveria tomar medidas claras contra todas estas situações, independentemente de quem as fizesse, em tempo oportuno. Ela não pode ser justiça quando é a Renamo a ameaçar. Com que legitimidade vai actuar a PGR, agora, se palavras com impacto semelhantes foram ditas antes por outros?
A justiça é a nossa parente pobre. Enquanto ela tiver olhos políticos, vai ser sempre difícil implantar e impôr respeito neste país.
Por vezes, as ameaças da Renamo apenas querem chamar atenção para problemas que já se estão a tornar insuportáveis.
Apelo a insenção no tratamento de todas estas questões. O país é de todos, e não apenas destes “vencedores”!
Torres

Abdul Karim disse...

Concordo com Brazao Mazula, acho que a frelimo, renamo e o MDM deveriam sentar-se a mesa para discutir quem 'e o Vencedor.

...Depois felicitarem-se.

Acho que a frelimo devia ser desqualificada e autorizada a concorrer apenas em 2014, por manifesta Conduta Impropria durante as eleicoes de 2009, agravado pelo facto de ser partido no poder.

Acredito tambem que Brazao Mazula conhece a seriedade da questao.

Anónimo disse...

Onde poderei encontrar/ler o pronunciamento do Brazao Mazula de que o sr. Abdul Karim se refere?

Abdul Karim disse...

Por Favor, Leia o que o Professor Escreveu.

Anónimo disse...

Obrigado pela resposta "esclarecedora", sr. Karim. Nao foi por mal que perguntei, calma

umBhalane disse...

"Concordo com Brazao Mazula, acho que a frelimo, renamo e o MDM deveriam sentar-se a mesa para discutir quem 'e o Vencedor."


Karim?!!!!!!!!!!!!!

Abdul Karim disse...

UmBhalane,

Brazao Mazula quer que se felicite o Vencedor... concordo... mas ainda ha muito a discutir... o processo nao foi Transparente....