21 novembro 2009

Espantar-me na rua (12)

Vejam lá: esta série, que desejei e desejo permanente, estava esquecida, o último número data de 27 de Dezembro do ano passado. Mas conta-gotemo-la:
1. O carro é protocolar, a excelência está no banco traseiro, o motorista estaciona e, rápido, febril, sai e vai abrir-lhe a porta. A excelência sai, mas tem o cuidado de deixar ficar com o motorista a pasta que trouxera. Logo de seguida caminha a excelência com seu ar monárquico, de coisa natural, com o motorista atrás carregando a pasta, pasta que, provavelmente, pelo magro volume visualmente apalpado, nada tem dentro. Sente-se que a excelência ama aquele micro-poder, sente-se que procura nos olhares dos outros o aplauso e a reverência. Sabem, falta estudar este tipo de micro-poderes, micro-poderes naturalizados, a cargo de excelências capazes de fazerem solenes discursos ciceroanos em púlpitos populares.
2. Um das ruelas perpendiculares à Av.ª Julius Nyerere, dando para a Av.ª Friedrich Engels, está toda esburacada, parece uma cratera nuclear (como, aliás, muitas outras da nossa Maputo). Como se chama a ruela? Rua dos Combatentes.
3. Sem dúvida que é uma chinfrineira dos diabos, esta dos sapos que estou a ouvir. "Ainda vai chover" - diz a empregada da cafeteria. "Mas como sabe, minha senhora"? - pergunto."Quando sapo canta chuva cai" - responde ela, definitiva.
(continua)

2 comentários:

Viriato Dias disse...

Sócrates e os seus ministros sobem no banco da frente ao lado do motorista, são raras vezes que o motorista abre a porta. Obama há dias, na China, cumprimentou a um soldado a "moda jovem", com aperto de mão e obro. Mas os nossos dirigentes saudosistas do tempo do comunismo, até que o motorista ou ajudante de campo lhes abra a porta, eles não saem. São intocáveis. Mal daquele que, por distração ou discuido, ingonar o prefixo "Dr" ou "Eng" leva logo um insulto pesado!

Gostei desta de sapo e chuva. As nossas estradas, dinheiro que Cambaza e outros desviaram. Coisa de Moçambique e do mundo.

Abraços

ricardo disse...

Rir e o melhor remedio...

Um jovem advogado, recém-formado, montou um luxuoso escritório num prédio de alto padrão na Avenida 25 de Setembro em Maputo e colocou na porta uma placa dourada:

'Dr. António Soares - Especialista em Direito Tributário'.

No 1º dia de trabalho, chegou bem cedo, vestindo o seu melhor fato, sentou-se atrás de sua escrivaninha, e ficou aguardando o primeiro cliente.
Meia hora depois batem à porta.
Ele pede para a pessoa entrar e sentar-se, rapidamente apanha o telefone do gancho e começa a simular uma conversa:

- Mas é claro, Sr. Mendonça, pode ficar tranquilo! Nós vamos ganhar essa causa! O juiz já deu parecer favorável!...
- Sei, sei... Como? Ah, os meus honorários? Não se preocupe! O senhor pode pagar os outros 50 mil na semana que vem!...
- É claro!... O que é isso, sem problemas!... O senhor me dá licença agora que eu tenho um outro cliente aguardando... Obrigado... Um abraço!

Bate o telefone no gancho com força e diz:
- Bom dia, o que o senhor deseja?
- Eu vim instalar o telefone...

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