17 novembro 2009

Três linchados na Beira

Enquanto isso, permitam-me sugerir-vos que adquiram e leiam dois livros sobre linchamentos (publicados respectivamente em 2008 e 2009), com os seguintes rostos de capa:

7 comentários:

ricardo disse...

Professor,

A impressão com que fico destes fenómenos, é a de que estamos a regredir cinco séculos comparativamente à História Universal Europeia, nomeadamente o para o período feudal. Ou então, estamos progredimos 6 séculos em relação ao primeiro estágio da civilização ocidental.

Chego a essa conclusão pela similitude que se estabelece entre a realidade do tempo dos senhores feudais, encastelados no seu burgo, detentores de um exército de cruzados para os proteger, de um clero para controlar o seu POVÃO e de tribunos para cobrar impostos; e os tempos atípicos que actualmente vivemos.

A ser verdade, será que teremos de esperar 6 séculos para nos aproximar do mundo moderno?

Creio que já V. enviei imagens chocantes filmadas in situ de linchamentos de pessoas acusadas de "parar com a chuva" numa zona de África, que me garantem ser a província da Zambézia.

Confirme s.f.f., caso não, irei enviá-las.

ricardo disse...

Mas por ser a Beira, há ainda um ponto por reflectir.

A pobreza induzida por um contexto que nunca foi devidamente encarado.

Um deadlock, numa urbe que defende os filhos locais como poucas.

Por exemplo, se um investidor for da FRELIMO, tudo será feito pelas correntes locais para que o mesmo vá à falência.

Se ele tiver raízes na oposição, então o governo do dia tudo fará para que o mesmo não se concretize.

Ser ou não ser, eis a questão.

Por isso, a linha de pobreza aumenta na zona progressivamente e acrescentarmos a isso o factor HIV, a pujança económica terá que pender para os mais favorecidos, que normalmente são da côr política que governa Maputo.

Existe também, uma aversão do poder central a esta realidade. É incrível a qualidade dos agentes do estado que lá são colocados. Só lá estão para humilhar e dificultar a vida aos locais.


Eu vi isso com os meus próprios olhos, e eu lamentei isso.


Eu perguntei a um beirense de gêma, porque razão o município local não avalizava a reconstrução daquelas ruínas de hotéis e outras infra-estruturas que poderiam resultar em dinheiro para os beirenses, com o turismo, conferências, etc?

A resposta, sentida, não se fez esperar: "Somos o filho de um deus menor em Moçambique porque votamos sempre contra!".

Disse

Viriato Dias disse...

Aiaia, denovo este fenómeno. Ainda não li o livro que o professor publicou, nem sei se tem a venda cá, em Portugal, mas pedi a um ex. colega meu da CIUEM para mo trazer. Gostava de ter em conta as razões deste fenómeno.

Um abrao

Unknown disse...

Não sou especialista da área e leio muito pouco sobre o assunto. Todavia, parece-me trivial que os linchamentos que ocorrem nas zonas urbanas e periféricas, tem motivações distintas das que ocorrem nas regiões rurais. Nestas, parece-me que acusações de feiticaria, de “amarrar a chuva”, e de causar outros males, têm mais relevância. Nas zonas urbanas, a suspeita ou confirmação de furto ou roubo, assassinato, estupro, etc, ganham mais visibilidade.
Qual a explicação para esta diferenciação? A primeira, parece-me que nas zonas urbanas, acusações de feitiçaria, de “amarrar a chuva”, não são suficientemente fortes para mobilizar populares a prática linchatória. De resto, nestas zonas as pessoas dedicam-me relativamente menos à actividades dependentes de ciclos naturais, como agricultura, e possuem formação escolar relativamente mais elevada.
A segunda, as populações das zonas rurais sabem que as acusações das infrações supostamente praticadas pelas suas vítimas (os linchados) não encontram lógica e nem enquadramento no sistema de justiça. Assim, o linchamento (acusacao de feiticaria, por exemplo) surge para compensar a “sede” de justiça que as leis formais não possuem, e por conseguinte, nao se lidam com ele de modo satisfatorio (aos olhos dos populares).
Concluo dizendo que os linchamentos relevam, não apenas a ignorância dos seus mobilizadores, mas também um certo grau de conflito de visões sobre a justiça, a formal e a tradicional.

ricardo disse...

Aceito a sua explicação, porque sociologicamente mais bem construída do que a minha.

Como sou uma pessoa de ideias simples, julgo que, quer num caso, como no outro, a pobreza é o caldeirão social que faz fervilhar todos os fenómenos.

E as causas da pobreza são muitas:

I-As directas:
1. Iliteracia;
2. Exclusão de social, política, económica, etc;

As indirectas:

3. As guerras;
4. Crime;

Etc.

Quem lidar competentemente com as directas, conseguirá evitar as indirectas.

Anónimo disse...

Parte-se-me o coração, dói-me a alma, fico destroçada sempre que oiço que foi cometido mais um crime destes.
Que as suas almas descansem em Paz!
Deus irá julgar os autores de tamanha crueldade contra o seu semelhante ou irmão.
Maria Helena

(Paulo Granjo) disse...

Em quantos vai a contabilidade macabra deste ano?