Qual é o principal problema da Renamo? Resposta drástica, ao sabor dos tempos: o principal problema da Renamo é o periódico discurso castrense. Problema por quê? Resposta não convencional: porque o neo-liberalismo exige o discurso da paz juridicamente monitorada. O discurso castrense, regressado há dias nas palavras pós-eleitorais do seu presidente, Afonso Dhlakama (e depois assumido por alguns dos seus lugares-tenentes em modalidades diversas), provocou rapidamente o choque, nacional e internacional. O tsunami político deu origem a ondas de apelos e protestos pacifistas. Um dos resultados da situação gerada é que, sejam quais forem as verdades que a Renamo possa apresentar em seu protesto contra o que considera serem irregularidades eleitorais, elas são rapidamente eclipsadas pelo pesadelo das emboscadas, pelo odor multiplicador a AK47. Politicamente não interessa se ela em razão: o que interessa é que militarmente cheira a pólvora. O fim da guerra em 1992 significou também a fabricação internacional e nacional da Renamo enquanto partido, enquanto entidade civil. Ora, periodicamente, por seu intermédio, o passado regressa, as matas fazem-se re-ouvir, os espíritos guerrilheiros reaparecem nos vivos engravatados. Sem paz não há democracia, não há negócios, não há eleições, não há combate contra a pobreza absoluta (melhor que relativa) e não há fundos do Estado para eleições. Os tempos não estão nada a favor da moçambicanização das casernas e os trunfos pacifistas são infinitos. Se Afonso Dhlakama tiver algum tempo, pode, por exemplo, consultar o "Notícias" de hoje, para, num variado banquete temático, saber que o Sr. Moisés Machavane do obscuro Partido Nacional dos Operários e Camponeses lhe aconselha calma e aliança com os vencedores, que o Observatório Eleitoral na pessoa de Brazão Mazula defende que os derrotados devem felicitar o vencedor e, finalmente, como sobremesa regressada com fanfarras, que um afirmado "homem armado" da Renamo em Marínguè trocou tiros com a polícia. No Hamlet, Shakespeare escreveu que era divertido ver o engenheiro ir pelos ares com a sua própria bomba. E, como sabeis, naquele quinhentista tempo ainda não tinham sido inventados o FMI e o BM. Mas, através da Inquisição, já se queimavam supostas bruxas e supostos bruxos.
Adenda às 7:20: talvez estas eleições tenham sido as mais ricas da nossa história em campos merecedores de pesquisa e análise. Interesses em jogo e práticas discursivas são vitais. Como sabem, neste diário de campo tenho regularmente proposto tópicos de pesquisa.
Adenda 2 às 7:41: saiba o que o meu colega Luís de Brito do IESE concluiu num estudo sobre as eleições de 28 de Outubro, aqui.
Adenda 3 às 7:44: saiba o que o delegado político da Renamo em Manica, Albino Faife, disse segundo o "Canal de Moçambique" de hoje, aqui.
Adenda 4 às 7:58: "(...) Luís de Brito refere no seu estudo que o processo eleitoral de 2009 merece atenção por várias razões. Primeiro, porque “decorreu num ambiente particularmente polémico devido às decisões controversas tomadas pela CNE”. Segundo, porque “como tinha acontecido nas eleições de 2004, mais de metade dos eleitores não votou”. Terceiro, porque “a administração eleitoral continua a demonstrar uma actuação parcial”. E finalmente, porque “o processo estabeleceu a hegemonia total da Frelimo na cena política moçambicana, confirmando ao mesmo tempo a decadência eleitoral da Renamo e o surgimento de uma terceira força, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) ”."
7 comentários:
O problema do nosso país é o de deixar as coisas crescerem sem nunca se tomar uma posição clara. Hoje estamos a condenar o discurso belicista da Renamo, mas ninguém condenou os discursos do Chipande, antes. Ninguém condenou a violência que foi a campanha toda. Ninguém condenou a queima de casas e a prisão de membros da oposição. Ninguém condenou o uso de meios do Estado. Ninguém condenou quando partidos da oposição foram impedidos de fazer campanha em muitos locais. Ninguém condenou quando as autoridades recusavam-se a passar atestados de residência à favor dos candidados à deputados (da oposição). E mesmo nos relatórios dos observadores, nada ou quase nada se diz em relação a isso tudo. Limitam-se a ver o resultado eleitoral em si, sem tomarem em conta o contexto donde elas surgem!
Estamos a acumular infracções sem julgamento ou devido tratamento jurídico. A nossa justiça, e em especial, a PGR, deveria tomar medidas claras contra todas estas situações, independentemente de quem as fizesse, em tempo oportuno. Ela não pode ser justiça quando é a Renamo a ameaçar. Com que legitimidade vai actuar a PGR, agora, se palavras com impacto semelhantes foram ditas antes por outros?
A justiça é a nossa parente pobre. Enquanto ela tiver olhos políticos, vai ser sempre difícil implantar e impôr respeito neste país.
Por vezes, as ameaças da Renamo apenas querem chamar atenção para problemas que já se estão a tornar insuportáveis.
Apelo a insenção no tratamento de todas estas questões. O país é de todos, e não apenas destes “vencedores”!
Torres
Concordo com Brazao Mazula, acho que a frelimo, renamo e o MDM deveriam sentar-se a mesa para discutir quem 'e o Vencedor.
...Depois felicitarem-se.
Acho que a frelimo devia ser desqualificada e autorizada a concorrer apenas em 2014, por manifesta Conduta Impropria durante as eleicoes de 2009, agravado pelo facto de ser partido no poder.
Acredito tambem que Brazao Mazula conhece a seriedade da questao.
Onde poderei encontrar/ler o pronunciamento do Brazao Mazula de que o sr. Abdul Karim se refere?
Por Favor, Leia o que o Professor Escreveu.
Obrigado pela resposta "esclarecedora", sr. Karim. Nao foi por mal que perguntei, calma
"Concordo com Brazao Mazula, acho que a frelimo, renamo e o MDM deveriam sentar-se a mesa para discutir quem 'e o Vencedor."
Karim?!!!!!!!!!!!!!
UmBhalane,
Brazao Mazula quer que se felicite o Vencedor... concordo... mas ainda ha muito a discutir... o processo nao foi Transparente....
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