08 outubro 2009

(38) 08/10/09



Ontem, no diário da campanha da Rádio Moçambique (RM) transmitido antes das 21 horas, o porta-voz de uma organização juvenil fazendo propaganda para o seu partido num bairro de uma cidade do nosso país pediu aos presentes para serem firmes e não aceitarem a presença de "galos", de "pangolins", etc. A sua organização - asseverou o jovem - é implacável (sic) nesse sentido. Com alguma frequência, tenho escutado na RM, por parte de certos propagandistas, o pedido de cuidado para com aqueles que andam a enganar (sic) o povo com as suas promessas. Será necessário estudar as mensagens que estão a ser transmitidas.
Adenda: quase todos os dias surge alguém com o MDM e Deviz Simango na mira. Saga cada vez mais fascinante, com ou sem pseudónimo. Confira aqui.
Adenda 2: sugiro a leitura de um texto do Mouzinho de Albuquerque, aqui. E, já agora, não é mau continuar a analisar (1) a estrutura dos títulos e dos cabeçalhos das notícias e (2) a proporcionalidade na propaganda que surge no "Notícias", aqui.
Adenda 3: pode acontecer que haja abelhas alérgicas a comícios. Quem sabe? Leia: "Estacionamos debaixo duma frondosa árvore, local escolhido para passar a mensagem de propaganda eleitoral. Lá em cima, segundo disseram-nos mais tarde, afinal havia muito tempo, um enxame de abelhas, que aos primeiros vivas que dei desataram a atacar toda a gente e eu fiquei completamente “inundado” de abelhas. Toda a cabeça foi atingida pelas ferroadas” - parte de um saboroso texto de campanha eleitoral escrito pelo jornalista Pedro Nacuo a propósito de ataques de cobras e abelhas a militantes da Frelimo (referência anterior neste diário, adenda 5 desta postagem, aqui) e do surgimento de um pangolim no quintal da casa de um militante do PDD, tudo isso no sul da província de Cabo Delgado. Confira aqui.
Adenda 4: julgo que seria interessante verificar se as linhas de afinidade partidária coincidem com linhas de outros tipos de afinidade (religiosa, por exemplo).
Adenda 5 às 7:25: na agenda do diário de campanha da Rádio Moçambique, uma locutora referiu-se às 7:20 a grupos de choque (sic) da OJM e da OMM em actividade política.
Adenda 7 às 7:46: uma vez mais, no “café da manhã” da Rádio Moçambique, 7:30, lá surgiram, como habitualmente, os mesmos indivíduos que, por sistema, atacam qualquer partido da oposição. Desta vez, o alvo foi o representante do Partido Nacional de Operários e Camponeses, severamente humilhado. Uma das coisas que ele disse, em pequena resposta: "Enquanto continuarem a pensar que só com a Frelimo poderemos crescer, estarão a excluir a própria democracia."
Adenda 8 às 8:24: reflectia, ainda, sobre o cerrado ataque de que dei conta na adenda anterior. Já não é só - nem principalmente - a recusa de vozes políticas diferentes, é especialmente recusar compatriotas com outras visões, com outras culturas, é uma exclusão cultural total, é um intolerância de grande risco social. Ora, tenho para mim que há não pessoas mais ou menos cultas do que outras, há, apenas, pessoas com culturas diferentes.
Adenda 9 às 9:10: no tempo de antena dedicado aos manifestos dos partidos políticos na Rádio Moçambique, um porta-voz da Renamo disse que os membros do governo não devem estar envolvidos em negócios.
Adenda 10 às 10: vitimização é um termo novo no vocabulário de certos indivíduos. Quando, em luta política, alguém protesta ou critica, o portador do novo termo diz que esse alguém está a vitimizar-se ou a auto-vitimizar-se. Uma técnica simples que consiste em responsabilizar o adversário por problemas que podem ser da autoria do acusador, um non sequitur banal.

7 comentários:

Anónimo disse...

Ontem estive vendo o Diario de Campanha na TVM e esis que surge uma tal Alianda Democratica dos Antigos Combatentes para a Democracia (cuja sigla e, se nao me engano, PADACD). Tem uma estrategia de campanha muito curiosa. Alquem reparou?

Concorre somente para as legislativas, mas mete pelo meio vivas a Frelimo e a Guebuza. Se se pode perceber o aopio a Guebuza porque nao concorrem as presidenciais, ja tive alguma dificuldade em perceber como esperam ter votios quando tinham mais cartazes da Frelimo (partido) do que de seu partido.

E motivo para dizer que esta muito interessante esta campanha. Muito mesmno.

Inacio Chire

Carlos Serra disse...

Também ouvi.

Carlos Serra disse...

Acréscimo: a laranja é o seu símbolo.

umBhalane disse...

Com pouco sumo, pelos vistos...

e azedo.

Craveira disse...

A expressão “auto-vitimizar-se” foi reintroduzida, nos últimos tempos, no dicionário político Moçambicano pelo senhor Edson Macuacua, para se referir as lamentações dos partidos da oposição. Ou seja, quando a Frelimo lamenta, não está a se “auto-vitimizar”. Que criancice!
O que chama atenção é que essa expressao já foi largamente utilizada pelos regimes de Salazar e do Apartheid. Ou seja, ela é própria de partidos e regimes políticos que tratam os opositores como inimigos, e não adversários. Normalmente a polícia tem feito parte dessa estratégia, para intimidar e desmoralizar os opositores.
Talvez consciente ou não, a Frelimo usa a mesma arma que as autoridades coloniais usavam em Moçambique, Angola, e Guiné-Bissau, durante a guerra colonial.
Isso tudo só revela que os colonizadores foram literalmente substituídos pela Frelimo.
Eu tenho uma lista de “palavras”, “expressões” e “frases” típicas desta campanha, usadas pela Frelimo, pelos partidos da oposição, e pelos respectivos apoiantes. Quando confrontada com a epoca colonial - chega-se a conclusão de que a história está a se repetir.
Craveira

Anónimo disse...

..."o porta-voz de uma organização juvenil fazendo propaganda para o seu partido num bairro de uma cidade do nosso país pediu aos presentes para serem firmes e não aceitarem a presença de "galos", de "pangolins", etc."...
Estranho comentário! será que não instiga a violência? no Ruanda a mensagem antes do início do genocídio era do género "...Não tolerar árvores altas, abater árvores altas..." e deu no que deu

é necessário medir o que se diz e pensar nas consequencias futuras.

MozFree

Chauque disse...

Anonimo2 , obrigado por recordar-nos do Ruanda que infelizmente o Genocido começou da intolerancia tribal entre irmaos do mesmo Pais,

em Moçambique, tecer Palavras deferentes ou pensar do Partido que governa logo é visto como inimigo Publico, um frustrado, descontente, e ha os que afirmao de pés juntos que existe democracia no nosso Pais, que democracia é esta que nao se pode pensar ou falar deferente?

quanto aos ovintes que todos dias insultao os convidados sao os mesmos infelizes em todos os medias, que so abrem a boca pra refrescar a lingua.

afrente é o caminho 28 de outubro, WE CAN