Acabei, afinal, tal como dei a entender na postagem anterior, por optar por um top 10. Vejamos então como organizei os eventos que considero terem sido os mais significativos de 2007 (a numeração nada tem a ver com preeminência valorativa ou cronológica) :
1. Cheias no vale do Zambeze, desalojando cerca de 200 mil pessoas. O eng.º Lopes colocou a possibilidade de as cheias terem sido tecnicamente provocadas: "Os recentes picos de cheia no Zambeze poderiam ter sido evitados e, em minha opinião, eles constituem uma nova demonstração do perigo em se enfeudar águas ao economicismo hidroeléctrico." Nenhum sério esclarecimento foi apresentado.
2. Explosões a 22 de Março no paiol militar de Malhazine, periferia da cidade de Maputo, que causaram a morte de 100 pessoas e ferimentos em mais de 500, fazendo 80 crianças órfãs, 18 viúvos e 7 viúvas. Um jornalista classificou o evento com um "extraordinário caso de negligência criminosa". Mas ninguém foi responsabilizado. Explosões que, também (felizmente sem vítimas reportadas), se registaram no antigo paiol militar da Beira.
5. Desenvolvimento da blogosfera moçambicana e do webactivismo crítico. Na realidade, em 2007 verifica-se um crescimento grande da blogosfera moçambicana, com o surgimento de blogues dos mais variados tipos e, coisa significativa, a integração de juristas e de economistas. O webactivismo crítico e a denúncia frontal de irregularidades no país consolidou-se especialmente com Egídio Vaz (temporariamente ausente do seu portal), Bayano Valy, Ivone Soares (a única mulher que pratica webpolítica em Moçambique, além de fazer webpoesia), Jorge Matine, Custódio Duma e, pela via de vários blogues, com Edson da Luz, o Azagaia do rap nacional e autor da canção A Marcha, canção que provocou de imediato a reacção crítica de vários quadrantes (tenho em conta apenas os blogues com autores plenamente identificados). Este ano ainda, este diário classificou-se, enquadrado na secção sociedade, nos top 10 dos melhores blogues em língua portuguesa do BOBs2007.
6. Intervenção correctora do Conselho Constitucional. Com efeito, várias vezes esse órgão interveio para mostrar a ilegalidade e a inconstitucionalidade de certos actos ministeriais e presidenciais, num exemplar exercício de democracia efectiva.
7. Movimentação e substituição regular de governantes. Com efeito, 2007 foi o ano de frequentes mudanças de adminstradores, governadores e ministros. A recente substituição do ministro da Agricultura é o exemplo mais recente. Na cerimónia de tomada de posse do novo ministro Soares Nhaca, o presidente da República, Armando Guebuza, disse que a questão não era andar, mas andar depressa (Rádio Moçambique). Isto, num país onde é crescente o peso dos megaprojectos (e do acento triunfalista posto no desenvolvimento da nossa economia) e o discurso salientando as benemerências dos nossos recursos naturais, em meio à insistência milenarista no combate à pobreza absoluta e, nesse contexto, nos sete milhões alocados aos distritos. Sobre o guebuzismo leia aqui e aqui.
8. Falhas graves no recenseamento de raíz para as eleições de 2008. Com efeito, o recenseamento 2007 foi o mais desorganizado e o que mais falhas gritantes teve desde 1992. Chamei-lhe recenseamento avariado. Fenómeno que pode, futuramente, contribuir para uma significativa abstenção nas eleições que se aproximam. Nem a Comissão Nacional de Eleições nem o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral se dignaram assumir a responsabilidade.
2. Explosões a 22 de Março no paiol militar de Malhazine, periferia da cidade de Maputo, que causaram a morte de 100 pessoas e ferimentos em mais de 500, fazendo 80 crianças órfãs, 18 viúvos e 7 viúvas. Um jornalista classificou o evento com um "extraordinário caso de negligência criminosa". Mas ninguém foi responsabilizado. Explosões que, também (felizmente sem vítimas reportadas), se registaram no antigo paiol militar da Beira.
3. Privatização da justiça. Em 2007 os linchamentos prosseguiram num claro exercício de inquietação popular com a criminalidade e de privatização da justiça. A abóbada dessa privatização como que se concluiu com a formação recente, na cidade da Beira, de grupos populares de vigilância, independentes do Estado.
4. Saque das nossa madeira. Em 2007 prosseguiu o saque das nossas florestas, aparecendo cada vez mais evidências do envolvimento de Moçambicanos com operadores estrangeiros (designadamente Chineses). Em Fevereiro surgiu no país a organização Amigos das Florestas, com um hino. No que me concerne, este diário foi (e continuará a ser) uma sentinela permanente a esse nível. Recordo que escrevi aqui uma carta para o presidente da República.5. Desenvolvimento da blogosfera moçambicana e do webactivismo crítico. Na realidade, em 2007 verifica-se um crescimento grande da blogosfera moçambicana, com o surgimento de blogues dos mais variados tipos e, coisa significativa, a integração de juristas e de economistas. O webactivismo crítico e a denúncia frontal de irregularidades no país consolidou-se especialmente com Egídio Vaz (temporariamente ausente do seu portal), Bayano Valy, Ivone Soares (a única mulher que pratica webpolítica em Moçambique, além de fazer webpoesia), Jorge Matine, Custódio Duma e, pela via de vários blogues, com Edson da Luz, o Azagaia do rap nacional e autor da canção A Marcha, canção que provocou de imediato a reacção crítica de vários quadrantes (tenho em conta apenas os blogues com autores plenamente identificados). Este ano ainda, este diário classificou-se, enquadrado na secção sociedade, nos top 10 dos melhores blogues em língua portuguesa do BOBs2007.
6. Intervenção correctora do Conselho Constitucional. Com efeito, várias vezes esse órgão interveio para mostrar a ilegalidade e a inconstitucionalidade de certos actos ministeriais e presidenciais, num exemplar exercício de democracia efectiva.
7. Movimentação e substituição regular de governantes. Com efeito, 2007 foi o ano de frequentes mudanças de adminstradores, governadores e ministros. A recente substituição do ministro da Agricultura é o exemplo mais recente. Na cerimónia de tomada de posse do novo ministro Soares Nhaca, o presidente da República, Armando Guebuza, disse que a questão não era andar, mas andar depressa (Rádio Moçambique). Isto, num país onde é crescente o peso dos megaprojectos (e do acento triunfalista posto no desenvolvimento da nossa economia) e o discurso salientando as benemerências dos nossos recursos naturais, em meio à insistência milenarista no combate à pobreza absoluta e, nesse contexto, nos sete milhões alocados aos distritos. Sobre o guebuzismo leia aqui e aqui.
8. Falhas graves no recenseamento de raíz para as eleições de 2008. Com efeito, o recenseamento 2007 foi o mais desorganizado e o que mais falhas gritantes teve desde 1992. Chamei-lhe recenseamento avariado. Fenómeno que pode, futuramente, contribuir para uma significativa abstenção nas eleições que se aproximam. Nem a Comissão Nacional de Eleições nem o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral se dignaram assumir a responsabilidade.
9. Crescente preocupação popular com a criminalidade (em várias instâncias públicas usei a expressão "nova era criminal") e dissolução da brigada especial da Polícia, os Mambas, depois que vários dos seus membros foram abatidos por gangsteres.
10. Melhoria da qualidade de intervenção da Renamo na Assembleia da República. Efectivamente, neste préstimo para a democracia, a Renamo/União Eleitoral deu provas de bem maior maturidade temática, técnica e argumentativa, pondo claramente em dificuldades o partido no poder, a Frelimo, apesar da desqualificação permanente por esta operada em relação ao adversário.
10. Melhoria da qualidade de intervenção da Renamo na Assembleia da República. Efectivamente, neste préstimo para a democracia, a Renamo/União Eleitoral deu provas de bem maior maturidade temática, técnica e argumentativa, pondo claramente em dificuldades o partido no poder, a Frelimo, apesar da desqualificação permanente por esta operada em relação ao adversário.
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Nota: posso regressar a esta postagem e proceder a modificações. Entretanto, aguardo os vossos comentários, as vossas críticas e as vossas sugestões.
5 comentários:
Ilustre, é muito agradável figurar da lista dos 10 eventos de 2007. Saber-me única fazendo webpolítica encoraja-me a continuar trilhando por estas veredas da política e busca contínua de justiça. Honra-me quando vejo aparecer o meu trabalho reconhecido neste Diário não só por ser um dos melhores em língia Portuguesa(pelo facto felicito mais uma vez), mas por notar seu compromisso com a imparcialidade. OI facto de eu ser da RENAMO em nenhum momento vejo criar-lhe constrangimentos para de mim falar. Fico feliz que o estigma para com os seres diferentes, não cometidos com discursos populistas que repetem sem nem sequer avaliar que auto-rebaixam-se, fico feliz que não tenha sido afectado pelo vírus da irracionalidade e discriminação do oposto.
Vai um abraço meu muito forte e votos de boas festas.
Ivone
Retribuo as boas festas.
Não conseguia aceder ao Blog. Depois, bem...o desastrado do costume.Mea culpa
Adiante
Não quero ser desmancha-prazeres! O Desportivo de Maputo não venceu
a final da Taça dos Clubes Campeões Africanos de basquetebol sénior feminino?
Vá lá, não sejam clubistas!
Esta, como qualquer selecção de eventos, transporta inevitavelmente a carga subjectiva de quem faz as escolhas.
Mas a polémica, a “briga”, quando exercida em territórios de tolerância, é sempre útil, interessante e, tantas vezes, rasgam os horizontes da nossa própria racionalidade.
Desta feita, vou comodamente aguardar a chegada dos comentários, habitualmente interessantes, que me ajudarão, certamente, a compreender melhor os eventos seleccionados
Parafraseando António Gedeão, "hoje é dia de pensar nos outros – coitadinhos – nos que padecem, de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria, de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem, de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria...
Hoje é dia de ser bom, de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças".
Um abraço
Agry
É um dado, sem dúvida, para reter a atenção, o da vitória do Desportivo...Abraço e feliz 2008!
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