26 dezembro 2007

Cabora Bassando

Estamos ainda a festejar a reversão da Hidroeléctrica de Cabora Bassa, mas o economista Eugénio Chimbutane interroga-se e cabora bassa-se sobre várias coisas a esse respeito: "Ainda sobre a HCB, veja neste LINK: HCB EM NÚMEROS. Trata-se de dados financeiros desta empresa nos últimos 5 anos. O fraco desempenho económico e financeiro da HCB começa a suscitar outras questões que merecem investigação. Como foi determinado o preço da venda da participação dos portugueses (USD 950 Milhões) à Moçambique? Será que pagámos um preço justo? Será que a HCB revertida valia tanto assim? Os números tendem a dizer que não!"

14 comentários:

Xiluva/SARA disse...

Os guardas do templo vão ficar chateados com o economista que politica. Então não é a Cabora definitivamente nossa?

Eugénio Chimbutane disse...

Sara,

Vou concluir, lá para os meados de 2008, se a HCB é ou não nossa (usando os meus critérios, claro!), para além de deixar recomendações de natureza económico-financeiras, para que a HCB (e outras empresas do género) seja verdadeiramente nossa.

Feliz 2008

Prof. Carlos Serra, obrigado pelo destaque.

Xiluva/SARA disse...

Obrigado, Eugénio, cá espero.

Anónimo disse...

 O nosso Governo optou, por razões políticas, que Cahora Bassa fosse nossa: (i) juridicamente moçambicana - já era; (ii) economicamente - passou a ser com a posse da maioria do capital.
 Há vários critérios de avaliação de empresas. O Eugénio optou pelo critério CONTABILÍSTICO, que mais não é do que a “fotografia” da empresa em dado momento. Nas datas em análise, contabilisticamente, os rácios eram os que são referidos. Todavia, falta a informação qualitativa, que nos esclareça a razão de tais rácios serem bons ou maus.
 Porém, o valor da empresa é completamente diferente se analisado numa perspectiva ECONÓMICA – da capacidade de gerar receitas com nova gestão, dos efeitos dos ajustamento periódicos das tarifas (que antes não estavam garantidos), da anulação dum enorme passivo acumulado (dívidas de capital e juro a Portugal), etc., que, certamente, virão refletidos nas contas de 2007.
 Tanto quanto julgo saber - depois de visitas cá, visitas lá – foi acordado com Portugal que o valor a negociar seria apurado utilizando o critério seguinte: Custo actual da construção de um empreendimento como Cahora Bassa, com o nível de operacionalidade em que se encontra.
 Segundo este critério, apurou-se um valor da ordem dos 1,418 mil milhões Usd. Logo, se Portugal detinha 82% do empreendimento, a sua participação passava a valer 1,163 mil milhões Usd. Os nossos 18% valiam 255 milhões de Usd.
 Comprámos 67% dos 82% detidos por Portugal, logo, ficámos com 67% + 18% = 85% (1,205 mil milhões Usd); Portugal reduziu a sua participação para 15% (255 milhões $Usd) - que poderão ser alienados futuramente, com critérios diferentes de valorização.
 Pela venda de 67% Portugal recebeu 950 Milhões Usd. Destes, 250 milhões Usd foram pagos com receitas próprias de Cahora Bassa e 700 milhões Usd financiados por um Consórcio de Bancos.
 Obviamente que o Consórcio de Bancos, que aceitou financiar esta operação, garantida com receitas da produção futura de Cahora Bassa, o fez munindo-se de garantias que satisfizessem os seus accionistas: (i) compromissos de compra dos actuais utilizadores (Africa do Sul, Zimbábwe e Moçambique); (ii) acordos de ajustamento tarifário períodico; (iii) acordos no âmbito da gestão e manutenção da capacidade produtiva do empreendimento, etc., etc.
 Naturalmente que há ainda outras contrapartidas: (i) dos pagamentos se fazerem através do banco X, Y, ou Z,; (ii) do critério das datas valor; (iii) das comissões, etc., etc., como é usual no negócio bancário.
 Globalmente, entendo ter sido um excelente negócio, pois dá-nos o controlo económico de um importante Activo, que se paga a si próprio, e assegura importantes receitas para o Estado, na forma de impostos que antes não eram devidos.

Um abraço,
Florêncio

PS – Mas, … há sempre um mas:
 Entendo que o Governo ao classificar esta operação como – segunda Independência Nacional - deveria ter tido a preocupação de nos esclarecer, de forma simples mas clara, didáctica até, os termos da mesma.
 Entendo também que o critério de escolha dos gestores para a Nossa Cahora Bassa poderia / deveria, não ter sido exclusivamente na base da cor política, pois trata-se de cargos que exigem, fundamentalmente, capacidade técnica ao nível da gestão empresarial.
 Julgo que teria sido preferível optar-se por um Concurso Público, com indicação detalhada e exigente do perfil dos candidatos (sem perguntar a cor política). Há muita gente competente - no arco iris - da política, com muito a dar ao Páis mas a quem faltam oportunidades para mostrar o que valem.

Carlos Serra disse...

Bom, aqui ficam mais dados para neles reflectirmos.

Anónimo disse...

valores HCB

importam-se de ir reparando que, segundo o Notícias de hoje (Dez 26, 2007), há já mais de 35,000 desalojados de cheias Zambeze a somar aos ainda milhares das de fevereiro/março 2007?

josé lopes

Carlos Serra disse...

Bem, Lopes...o que significam as cheias agora? Abraço a todos!

Anónimo disse...

ainda é cedo para formular opinião. No entretanto, e como infelizmente é hábito, nem a HCB nem a ARA-adjacente nos informa sobre a actual hidrologia Zambeze - sobretudo agora com o acrescento das descargas de Kariba.

zeus nos proteja

josé lopes

Carlos Serra disse...

Está bem, zeus-emos então. Abraço.

Anónimo disse...

 As cheias no Zambeze existiram sempre, com ou sem Cahora Bassa: aliás, as populações ribeirinhas, desde sempre tiveram habitação alternativa em zonas de cota mais elevada e sabem, por métodos empíricos, quando está na hora de abandonar o vale
 Com Kariba e Cahora Bassa nunca houve a pretensão de normalização o caudal do Zambeze em época de cheias. São imensas as linhas de água (dependentes de S.Pedro)que a montante e a jusante da barragem descarregam no grande rio.
 É mais fácil uma gestão eficiente dos caudais em tempo de seca, do que em ano de cheias.
 Resta-nos minimizar os efeitos com melhor informação sobre a hidrologia da região.

Florêncio

Eugénio Chimbutane disse...

Florêncio,

A sua intervenção é bastante interessante e é um grande contributo a esta minha constante reflexão a volta do assunto.

Todos estamos de acordo que o estado fechou um grande negócio, não há dúvidas. Nunca ouvi alguém por aqui a dizer o contrário. Mas esse consenso, não deixa de levantar outras questões relacionadas a este empreendimento, na tentativa de apoiar na sua melhor gestão, de modo a que este contribua de forma inequívoca e rápida para o desenvolvimento de Moçambique.

Como disse, a minha análise limita-se aos dados apresentados nas várias edições da Revista da KPMG., apesar ser um bom começo e bastante útil à nossa economia, a revista ainda tem muita margem para melhorias e inovações sob ponto de vista da qualidade e utilidade das suas análises. Vejo que preciso dedicar um post sobre os critérios e análises feitas nesta revista. Num dos posts anteriores tento mostrar como o critério volume de negócios pode não espelhar a grandeza e qualidade das várias empresas analisadas. Noutros países, a grandeza e qualidade da empresa é medida pelo seu Valor do Mercado (pressupõe um mercado de capitais desenvolvido) e as análises do desempenho tendem a privilegiar rácios relacionados com a capacidade de geração de cash flow (dinheiro) do que a rácios meramente contabilísticos. Espero voltar a esta questão dos critérios noutros posts.

Na minha óptica, as análises da revista ainda são simplistas e incompletas. Para o caso da HCB, estou a recolher os relatórios de contas dos últimos 5 anos, que permitirão fazer uma análise mais completa da sua gestão e do desempenho económico e financeiro. Contudo, os rácios e indicadores apresentados na revista, são básicos e permitem muito bem, fazer uma leitura (apesar de rápida) sobre a situação económica e financeira da empresa. Um rácio não precisa de dados qualitativos para ser classificado de bom ou mau. Por exemplo, para vários rácios, basta serem positivos para serem bons e negativos para serem maus (análise vertical) e ter uma evolução consistente ao longo dos anos (análise horizontal). Os dados qualitativos (depois de classificarmos se o desempenho é bom ou mau) ajudam a perceber a razão de ser, muitas das vezes (sobretudo as nossas empresas por aqui), o mau desempenho está associado à problemas de gestão. Espero que os relatórios de contas ajudem a esclarecer o performance dos últimos 5 anos da HCB. Mas, independentemente da explicação, a situação está má, e precisa de melhorias substanciais.

Por fim, acho que temos que investigar mais sobre o critério do cálculo do valor da venda da participação. Não fiquei convencido com o critério que apresentas. O dado sobre o valor do empreendimento a que chegas, pode ser calculado com os dados à nossa disposição, nomeadamente os USD 950 milhões e as percentagens de participação antigas e novas. Acho que existe muito mais do que a resolução de simples equações.

Em relação `as cheias, aguardemos pelos mais entendidos na matéria. Já que as cheias ocorrem sempre, como dizes, será ate hoje não teríamos encontrado solução para este problema, ou falta vontade dos tem essa missão? Tenho um sentimento de que a HCB tem mão nessas calamidades, não e possível ser ilibada dessa forma. E já agora, que tal uma “responsabilidade social” da HCB para apoiar na construção de canais de irrigação e outros mecanismos que para alem de minimizar as cheias podem contribuir no aumento da produção agrícola? O outro problema, ouvi um comentário ainda esta ano das populações que vivem nas margens do Zambeze, que as cheias são fontes de comida para a população (ou seja, conseguem viver melhor com os programas de emergência, do quem em qualquer outra época do ano) e do lado dos trabalhadores das instituições que implementam os programas de emergência ‘e uma fonte regular de rendimento (fruto de trabalho e de manobras de subtracção do bem publico, usando tácticas habituais). Portanto, as cheias interessam tanto os afectados, que abandonam todos os anos as zonas seguras e/ou de reassentamento para as zonas de risco, assim como as estruturas que gerem os programas de emergência, que tem assistido passivamente esta rotina.

Sdçs,

Eugénio Chimbutane disse...

P.S.
Estou de malas para uma viagem do fim do ano. Não poderei comentar até meados de Janeiro. Mais uma vez, feliz 2008 e até breve.

Carlos Serra disse...

Bem, mais dados...Interessante a história das cheias serem fontes de comida. Abraços a todos!

Eugénio Chimbutane disse...

Feliz 2008 a todos,

Florêncio,

Ainda não estou de volta.
Mas gostaria que esclarecesse como foram pagos os USD 250 Mil. Disseste que foram pagos pelas receitas da HCB. Como? Será que a HCB comprou-se ela própria? O dinheiro não deveria ter saído do bolso do Estado?

Um abraço