10 dezembro 2007

Mais uma vassourada guebuziana: Nhaca é o novo ministro da Agricultura

Em menos de um ano temos, na vassourada guebuziana, novo ministro da Agricultura. Chama-se Soares Nhaca, ex-vice-ministro do Trabalho, que substitui Isaías Muhate, hoje exonerado, que por sua vez substituiu Tomás Mandlate em Fevereiro.
O ex-ministro pertence à febre dos biocombustíveis no país. Mas pertence, também, a várias outras coisas. Por exemplo, (1) ao estranho incêndio no Ministério da Agricultura na cidade de Maputo em Maio, (2) a um período no qual, tendo operado muitas substituições no ministério (incluindo a do director nacional de Florestas) parece ter-se iniciado uma fiscalização mais cuidada e muito publicitada do saque da madeira no nosso país e (3) ao problema de que o seu filho apareceu há tempos indiciado de ser um dos promotores da exportação ilegal de madeira pelo porto de Nacala para a China.
Quanto a Soares Nhaca, é um ex-dirigente sindicalista, que esteve muito combativo na sindical OTM (Organização dos Tralhadores Moçambicanos). Depois que entrou para a carreira governamental calou-se. Reparem nesta notícia dada em 1996: "A manifestação do Dia do Trabalhador esteve este ano sob o lema "Não ao actual processo de privatizações; párem com as privatizações precipitadas." Das 502 unidades de produção privatizadas, boa parte encontra-se paralisada e com dívidas salariais aos trabalhadores. Devido à falta de controlo pós-privatização, muitas das empresas trocam a actividade industrial pela comercial, transformando fábricas em armazéns e até em igrejas. Mas o custo de vida, a corrupção e os desequilíbrios salariais também estiveram na ordem do dia. Soares Nhaca, secretário-geral da OTM, disse que o salário mínimo actual corresponde apenas a 29% das necessidades de uma família de cinco membros na compra de produtos de primeira necessidade, sem contar com as despesas de transporte, energia, educação, saúde e vestuário. Nhaca criticou a política de reajustamento estrutural, afirmando que os actuais niveis de crescimento são inferiores aos que se verificaram nos últimos anos da guerra, entre 1987 e 1989."
Certamente alguns leitores deste diário têm coisas bem mais interessantes a observar.

14 comentários:

Reflectindo disse...

Concordo com PP. Que tipo de azar teria Muhate se não fosse isso? Quem mais? Tobias Dai não está aí?

Tsintsiva_Tsapau_Mafurra disse...

http://grossocurto.blogspot.com/

Caro prof Serra, permita-me a intromissao, e convidava-lhe para a nossa caça ao tesouro...da informacao alternativa.

Se puder participar, ou divulgar esta corrida...

O tema é o mesmo que lhe propus há dias...

SAUDACOES
Tsin Tsi Va

Anónimo disse...

So tenho uma pergunta a fazer. E como fica nessa estoria a pessoa que anda a fazer essas nomeacoes todas? Vai parar para rever alguns dos criterios que usa ou acha que o problema esta somente nas pessoas que escolhe?

Nelson disse...

"Vai parar para rever alguns dos critérios que usa ou acha que o problema esta somente nas pessoas que escolhe?"
Mesmo que o problema esteja somente nas pessoas que escolhe, o "escolhedor" continua levando a culpa por ter escolhido pessoas com problemas, ou não ter tido a capacidade de descobrir pessoas com problemas/porblemas nas pessoas.

Anónimo disse...

o escolhedor parece que ate os mais proximos desiludio...desde os ministros aos governadores!

Enquanto se atribuirem esses cargos como forma de recompensa pelo bom desempenho na campanha eleitoral, estaremos sempre no caminho errado...

Enfim, a historia julga a todos nós, a este passo, creio que o escolhedor actual ira sair pela porta pequena...

Pensem Nisso
Tsin Tsi Va

Anónimo disse...

Eu nao creio muito que esta exoneracao tenha muito ha ver com a capacidade de Muhate.Existe algo mais por detras disso, porque nao creio que por mau desempenho de apenas dez meses ele tenha sido demitido. Existem outros incompetentes que, como o ministro dos transportes e comunicacoes e o ministro da defesa, que ainda se manteem nos seus cargos.

Os proximos dias dirao!

Anónimo disse...

Ai voltamos aos critérios...e acima de tudo "que caminhos se tecem" para se descobrir que fulano ou sicrano é o mais indicado para este ou aquele lugar...

Nelson disse...

Enquanto não entendermos os critério que norteiam a nomeação, estaremos incapacitados quanto às demissões...
Quanto a mim se competência não é indicador principal na nomeação, desempenho não será na demissão...
O ministro dos paióis é um bom exemplo...

Anónimo disse...

a questao que se coloca, e , qual o plano de governacao do presidente?tera de facto algum cometimento com o desenvolvimento do pais? se tem? tera ele capacidade? e se Soareas Nhaca, nao der conta do recado(a emenda parece-me bem pior do que o soneto),,que fazer?porque nao promoveu a vice? afinal agricultura e ou nao a prioridade desta governacao?? so tenho duvidas. Com licenca

Anónimo disse...

 Tudo indica que Muhate se extasiou com o poder e, sem dar "cavaco" … toca a demitir em bloco quadros técnicos, eventualmente com alguma influência política e, provavelmente, com aceitação na comunidade doadora de diferentes projectos do MA.
 Sou relativamente céptico quanto ao sucesso de Soares Nhaca na chefia do nosso mais importante Ministério Económico. Sim, o desenvolvimento de Moçambique passa por substâncial melhoria das condições de bem-estar da população rural. Não chega militância política: “a realidade nem sempre coincide com a beleza de modelos” mais ou menos sofisticados. São necessárias políticas económicas muito realistas. É preciso saber o que queremos e como fazermos.
 Importa repensar o slogan: “distrito como pólo de desenvolvimento”. Na realidade, o distrito, tal como tem vindo a ser abordado, nunca funcionará como pólo de desenvolvimento do meio rural, mas sim, continuará a ter um papel cada vez mais activo como “pólo de atracção da população dos meios rurais, para as zonas urbanas”, desertificando o campo.
 Sem sistemas práticos e eficientes de apoio à produção agrícola, quer na fase de aprovisionamento de factores de produção e prestação de serviços diversos; quer, depois, na fase de comercialização dos excedentes de produção, a actividade agrícola não passará de um jogo de sorte ou azar, um “totoloto” em que, como sabemos, raramente se acerta. Há muita “verboreia” nos seminários, workshops, muita gente sempre pronta a delapidar os fundos disponíveis para as mais “criativas” acções, mas, em contrapartida, são débeis os resultados. Há ONGS a mais e bom Estado a menos.
 Quem se deslocar ao interior do país verificará que – face a tão escasso apoio ao meio rural – as populações tendem a deslocar-se para os subúrbios das capitais de distrito e outras localidades, atraídas pela “luzes da ribalta”, embora mantendo, em bastantes casos, uma reduzida machamba nas zonas de origem, onde as mulheres se deslocam sazonalmente, objectivo: sobrevivência, uns sacos de mandioca, milho ou amendoim fazem muito jeito em tempo de crise.
 Não há sistemas de produção devidamente organizados, para sequeiro ou regadio. Por essa razão, como referi há tempos, hoje somos mais e produzimos menos toneladas de caju, algodão, copra, milho, amendoim, arroz, açúcar, etc., do que há 30 anos, ou seja: em termos de produtividade imitamos o carangueijo, andamos para traz.
 A maior parte dos distritos e municípios continuam com actividades económicas muito frágeis. A actividade informal, de sobrevivência, cresce em flecha. As receitas dos municípios são irrisórias, logo, as infra-estruturas não só não aumentam como se degradam por falta de conservação e manutenção.
 De uma vez por todas, importa assumirmos que o Estado tem um papel no desenvolvimento rural, tanto maior quanto mais frágil for o sector privado.
 Nos EUA e EU são conhecidos os subsídios aos produtores agrícolas, ou seja: é aceite o papel do Estado, no controlo da produção e na fixação de preços.
 Na China, soube á dias, os camponeses recebem por cada hectare cultivado o equivalente a 50 USD e têm acesso a crédito sem pagamento de juro, ou seja: a China, paga para que a população se mantenha nas zonas de produção, e, complementarmente, empresta dinheiro a custo zero. Em contrapartida, há mais produção, melhoria do bem-estar, estabilidade social, menos pressão sobre os centros urbanos. Na avaliação do custo / benefício desta política, provavelmente, o Estado sairá a ganhar.
 Nós, sem olhar a custos sociais, perfilamo-nos como candidatos a cobaias de tudo quanto venha do FMI e WB. Destruíram-nos a indústria de caju, vieram depois reconhecer e, supostamente, compensar com apoio a fabriquetas artesanais, autêntico atentado à dignidade humana, pelas condições de trabalho e critérios de pagamento, à tarefa. A verdade, nua e crua, é que passamos de maior produtor mundial para um produtor insignificante. Eliminámos os organismos autónomos do Estado que apoiavam a produção com sementes e outros factores de produção, prestação de serviços financeiros, aluguer de máquinas, etc., sem termos criado alternativas melhores.
 Bem, resta-nos dar o benefício da dúvida a Soares Nhaca e esperar que seja capaz de nos surpreender pela positiva. Oxalá.
Um abraço
Florêncio

PS – Citando António de Almeida em “Croniqueiros & Politiqueiros”: “Muitas vezes sou crítico relativamente às coisas que se passam no País, mas é apenas pela raiva de reconhecer que somos capazes de fazer melhor, tão capazes como os melhores, mas que nos deixamos arrastar por uma atitude de faz que anda mas não anda e que desagua na fatalidade, na descrença, na inveja, na calúnia, numa esperteza saloia que todos vêem, mas que fazem de conta que não percebem.”

Carlos Serra disse...

Observações cheias de proteína boa, como sempre. Abraço.

Anónimo disse...

Curioso, foi com Muhate que muita madeira foi apreendida. Sera a recompensa, tendo em conta os donos da madeira?

Anónimo disse...

Temos o direito de especular enquanto não formos informados. Equacionemos tudo. Eu suponho que Muhate não tenha sido um bom camarada porque os bons camaradas e maus profissionalmente e na governacão estão aí a curtir ministérios.

Anónimo disse...

The time will tell. Bob Marley

Hoje especulamos amanha saberemos na vida não há segredos eternos.so sairemos deste ciclo no dia que assumirmos com frontalidade que a nossa economia so pode ser elevada a outros patamares com gente capaz independentemente da sua cor partidaria, relegiosa,racial, e regional.
Maxango