17 dezembro 2007

Atenção, Estado moçambicano!

A Procana poderá ser a segunda maior fábrica de bio-etanol do mundo se começar a operar a partir do próximo ano em Massingir, província de Gaza. Um dos parceiros do projecto é a Central Mining Exploration Company (CAMEC), de origem britânica. O presidente Guebuza encorajou os investidores (o segundo é o Biolimpopo, moçambicano) a tudo fazerem para que o projecto se torne realidade.
Já aqui coloquei reservas sobre os investidores estrangeiros do projecto. Recorde aqui.
Agora, o conceituado Business Report sul-africano divulgou um trabalho no qual se mostram problemas com a CAMEC no Congo. Leiam-no (obrigado ao Ricardo de Paris pelo alerta).
Enquanto isso, a ONU diz que a produção de etanol é uma ameaça para a biodiversidade na Amazónia.

13 comentários:

Nelson disse...

Movidos pela "mentalidade empresarial" essa que é excessivamente elogiada na última edição do semanário Domingo vai-se "vendendo" o país a "todos" sob o pretexto de desenvolver o país. Lixe-se o ambiente, a biodiversidade. Lixe-se todo o resto...

Anónimo disse...

O Pesidente Empresário só pode estar envolvido nisso. Procurem ver quem são os parceiros nacionais

Slave Driver

Anónimo disse...

 A CAMEC é uma empresa cotada no AIM/Londres (Alternative Investment Market). Trata-se de uma “bolsa junior”, de um mercado altamente especulativo, com falências frequentes. Áreas preferidas: mineira e grandes extensões agrícolas; especula-se sobre o valor das reservas e capacidade produtiva.
 A CAMEC não vai investir um metical de capital próprio neste projecto.
 Na posse da Licença para uso e aproveitamento dos 30 mil hectares de regadio, a CAMEC solicitará a um consultor aceite pelo AIM (pessoa competente) que faça a avaliação da capacidade produtiva e valor futuro da área: o valor apurado será considerado um Activo livre de ónus, sobre o qual emitirá acções, que financiarão o projecto.
 Engenharias financeiras que “iludem” alguns dos nossos dirigentes. O nosso Estado, melhor dizendo, os nossos governantes, ou melhor ainda: nós, somos uns “mãos largas”.
 Por muito que alguns de nós teimemos em não acreditar, parece óbvio que tamanha Filantropia vai ter retorno para alguns bolsos de intermediários ligados ao poder. De contrário, como entender a pressa nesta concessão, antes mesmo de aprovada a prometida política do Governo para a energia com base no biodiesel.
________
 Pessoalmente, considero INQUALIFICÁVEL a cedência de 50% da capacidade de irrigação da Barragem de Massingir a um único operador, sem colocar as áreas a concurso, em prejuízo de outros investidores e de culturas alternativas, designadamente cereais e oleaginosas.
 Massingir foi um vultuoso investimento: por onde anda o plano director, a estratégia para o aproveitamento desta importante infa-estrutura?
 A ponte-açude de Macarretane, que permite irrigar cerca de 16 mil hectares (regadio do Chókwè) + Massingir, 70 mil hectares + a projectada Barragem de Mapai, possibilitariam a rega duma área superior a 250 mil hectares, ou seja, transformar Moçambique no celeiro da Africa Austral.
Um abraço,
Florêncio
________
PS  Iludimo-nos com sete mil empregos. Todos sabemos que o salário mínimo agrícola não é solução para o desenvolvimento do Homem. Seria prudente, preferível, pensar formas viáveis de parcelamento de terras e instalação de agricultores num sistema de regadio, pensado com cabeça tronco e membros.
> Quanto pagou a CAMEC por meia Barragem de Massingir?

Carlos Serra disse...

Arre, Florêncio, os seus dados assustam!!!!! Foça!

Sir Baba Sharubu disse...

Thank you, Florencio, for your very thoughtful comments indeed.

AGRY disse...

Parabéns Florêncio!
Queria apenas confirmar que, com os recursos nacionais, gera-se um investimento estrangeiro, o qual vai ser usado, como referiu muito bem Florêncio,
para explorar os trabalhadores moçambicanos. Estamos, assim, na presença de uma manobra típica que permite cavar o fosso dos países subdesenvolvidos ( em vias de desenvolvimento é um cínico eufemismo) e acentuar a bipolaridade do desenvolvimento. Nada de novo, infelizmente.
Abraço

Anónimo disse...

Abracos Florencio!! Keep up the good work.

Independentemente da veracidade ou nao, fazes uma analise convincente e que abre nossas mentes para outras analises.

PP

Anónimo disse...

Parabéns Florêncio. Tens trazido informação devidamente processada para este espaço. Força!

Obed L. Khan

Anónimo disse...

 Muito obrigado a todos pelos gentis comentários.
 Indigna-me a ligeireza, leviandade, com que se analisam os impactos económicos e, fundamentalmente, sociais, de certos projectos.
 Espanta a “ingenuidade” com que tantos dos nossos dirigentes, e tantos de nós, nos impressionamos com vistosos cartões de visita e sonantes nomes de pseudo-empresas offshore, em regra, supostamente em processo de admissão à bolsa, A, B ou C.
Abraço
Florêncio

PS  Uma sugestão: quando forem abordados por potenciais investidores estrangeiros, comecem por pedir: (i) mandato da sociedade que representam, com poderes para negociar; (ii) indicação dos Bancos com quem trabalham nos seus países de origem, para, através de um dos Bancos da nossa praça obterem informações comerciais reais. Quem assim não proceder arrisca-se a perder tempo a negociar com aventureiros.

Anónimo disse...

Disiludamo-nos Mocambique esta a virar sociedade de exploracao do homem pelo homem, so que agora de homens da mesma cor, pretos!

Anónimo disse...

A concessão de grandes extensões de terra (seja para biocombustíveis, seja para outros produtos agrícolas) quando pressuponha a sua exploração com base no uso intensivo de equipamento mecanizado, deve ser sempre ponderada.

(i) A terra é o principal activo dos moçambicano; (ii) todos os que somos originários das zonas rurais sabemos que é uma falácia a atoarda de que Moçambique tem vastíssimas extensões de terra arável inexplorada; (iii) A maioria dessa terra está a ser explorada pelos nossos pais, tios, antigos vizinhos para agricultura de substência, caça, lenha, pousio, pastagens para diversos ruminantes, etc.; (iv) o uso de agricultura mecanizada vai empurrar todas essas actividades, deixando os nossos camponeses sem meios de subsistência;

É evidente que não sou apologista da estagnação. A simples alteração da demografia vai requerer um uso mais racional da nossa terra. Acredito no entanto que a melhor solução´, para este caso, é aquela mais difícil: Promover o desenvolvimento de Moçambique na base da inclusão dos camponeses. Isto pressupõe dota-los de tecnologias cada vez melhores e sustentáveis que os possibilitem a serem eles a produzir o milho, o arroz, a cana, o tabaco, o algodão, a jatropha ou quualquer outro produto agrícola. Produzir para o auto-consumo e para o mercado.

O simples salto tecnológico da enxada de cabo curto para a charrua de tracção animal tem um potencial de eficiência e de uso racional da terra muito grande. Possibilita ainda ganhos monetários adicionais para os camponeses.

Existem muitos países que desenvolveram a sua agricultura na base da inclusão dos seus camponeses. Sem ser um grande conhecedor da área, possuo dados que me permitem afirmar que o trigo Canadiano é produzido por pequenos agricultores (eficientes); países como o Japão, a Nova Zelándia e Israel, só para dar alguns exemplos, parece terem seguido este caminho, mais difícil.

A aposta em grandes latifúndios mecanizados tem dois riscos que gostaria de registar: (i) os nossos camponeses perdem, de facto, as suas terras; (ii) como as perdem e, em compensação, não são empregues nas novas herdades mecanizadas (que por definição ocupam pouca gente) hão-de emigrar para as cidades, onde exercerão pressão incomportável sobre as infra-estruturas sociais e sobre os recursos urbanos (empregos, etc.) que já são escassos.

Obed L. Khan

Anónimo disse...

Caro Obed,
 A questão de fundo é saber se o nosso Governo quer promover: (i) uma política agrária visando o desenvolvimento do meio rural ou, (ii) se está apostado na desertificação do campo e no aumento descontrolado das zonas urbanas, com todos os problemas inerentes.
 Consciente ou inconscientemente, o Governo caminha no sentido da desertificação do campo, em consequência da: (i) escassez de infra-estruturas de apoio à actividade económica rural; (ii) cedência de grandes áreas infra-estruturadas ou na proximidade de estradas, caminhos de ferro, portos, energia, telecomunicações; (iii) afastamento compulsivo das populações, suportado em inadequadas compensações financeiras das grandes áreas licenciadas.
 Temos muita terra com potencial agrícola e pecuário, mas temos poucas infra-estruturas. Por essa razão, os investidores posicionam-se para “abocanhá-las”. Entretanto, alguns dos nossos dirigentes, por ignorância ou interesses, perfilam-se ao lado destes investidores, argumentando que não temos capacidade para o aproveitamento de tais infra-estruturas, logo, entre: (i) mantê-las improdutivas e (ii) cedê-las a quem tem capacidade técnica e financeira para a sua imediata exploração, é mais racional optar pela segunda hipótese. Visão imediatista, perigosa!
 As características das diferentes regiões agrícolas do país estão estudadas, sendo por isso possível definir as culturas mais aconselháveis para as diferentes regiões, bem como estimar a sua produtividade, utilizando diferentes tecnologias, em regime de sequeiro ou de regadio.
 É essencial sabermos determinar a dimensão economicamente viável de uma empresa agrária nas diferentes regiões agrícolas do país, em regime de sequeiro e de regadio, considerando um agregado familiar médio de 5 ou 6 membros. É preciso pensar a prazo, olhar para a frente, projectar uma unidade económica com dimensão para garantir rendimentos que assegurem a estes agregados familiares um nível de vida com dignidade, hoje, amanhã e depois – custear as despesas com alimentação, saúde, escola, estudos secundários e até superiores, etc..
 Numa perspectiva de futuro, uma unidade económica viável, que assegure sustentadamente, o desenvolvimento do Homem no seu todo, terá, certamente, que ter bastantes dezenas de hectares em sequeiro e algumas em regadio. Parte em exploração, parte em pousio, numa perspectiva de expansão. Por outro lado, é preciso entender a agricultura como SISTEMAS (extensivo, de sequeiro; ou, intensivo, de regadio) onde é imprescindível a intervenção articulada de vários agentes: Banca, fornecedores de bens e serviços diversos, compradores. Estes SISTEMAS têm de ser geridos mediante protocolos entre os intervenientes; ao Estado cabe um importante papel como facilitador.
 Se persistirmos em desprezar as nossas realidades, em ser cobaias de soluções importadas, teremos, certamente, graves problemas a prazo.
Um abraço
Florêncio.

Anónimo disse...

Caro Florêncio, eu estou convencido de que se exteriorizasses mais as tuas reflexões, isto é, procurasses que elas fossem conhecidas por um público mais amplo do que o da blogsfera, poderias influenciar políticas.

Eu creio que o que aliena a capacidade de pessoas como tu de exercer essa influência é a postura que temos adoptado em relação aos fazedores de políticas no nosso país. Quando ao interpelarmos estes indivíduos, que bem ou mal governam o nosso país, o mínimo que lhes chamamos é de ladrões que base de diálogo estabelecemos? Que predisposição para o diálogo criamos?

Estou cada vez mais convencido que este país já tem massa crítica com capacidade de participar na formulação de políticas e de opções. Na agricultura, na indústria, nas pescas e em outros aspectos importantes da vida do nosso país.

Me parece importante irmos pensando como essa participação poderia ser facilitada. Como fazer com que os imensos talentos cujas ponderadas reflexões temos visto aqui na blogsfera contribuam para a definição e formulaçao de opções agrárias? A tendência prevalecente de considerar todos os que exercem cargos públicos de desonestos ajuda? Ou contentamo-nos em murmurar enquanto um pequeno grupo de concidadãos monopoliza o privilêgio de tomar decisões que nos afectam a todos?

Entenda-se, participar não pressupõe, necessariamente, alinhar em jogadas políticas. Como é que nos outros países, onde muitos de nós estrudamos se faz isso?

Estamos a deixarmo-nos enredar em velhos ódios de toda a espécie de que nós não somos parte.

Obed L. Khan