17 março 2007

200 mil pessoas afectadas pelas cheias e a Hidroelétrica de Cahora Bassa continua a não responder ao problema levantado pelo Engº José Lopes


Mais de 200 mil pessoas foram afectadas pelas cheias no Zambeze e a Hidroeléctrica de Cahora Bassa continua sem dar resposta ao inquietante problema que foi levantado pelo Eng.º José Lopes a respeito dos picos de cheia de Fevereiro, a saber:
"Os recentes picos de cheia no Zambeze poderiam ter sido evitados e, em minha opinião, eles constituem uma nova demonstração do perigo em se enfeudar águas ao economicismo hidroeléctrico.
Comece-se por notar que, ao contrário das cheias de 1978, 1989, 1997 e 2001, neste dramático Fevereiro 2007 a contribuição dos escoamentos de Kariba em Cahora Bassa foi praticamente nula.
Na verdade, o lago de Kariba (Zimbabwe/Zâmbia) está num dos seus mais baixos níveis de sempre (17% de enchimento) o que, teoricamente, deveria representar não só o anular da sempre crítica imprevisibilidade destes megafluxos em Cahora Bassa, mas também, hélas, uma raríssima simplificação da equação hidrológica no Zambeze moçambicano.
Paradoxalmente, e muito embora a HCB continue remetida a um inaceitável e plúmbeo silêncio, eu julgo que terá sido exactamente este factor – Kariba vazia – um dos principais determinantes do que considero serem erros de gestão hidroeléctrica por parte da HCB e autoridades laterais.
Erros que, a terem existido como aqui sugiro, conduziram às dramáticas pontas de cheia deste Fevereiro 2007.
Em termos sumários,
é esta a minha linha de raciocínio.
Preocupada com 3 anos de baixíssimos níveis em Kariba, mas sempre muito ávida em maximizar proveitos, na estação 2006/7 a HCB insistiu em adoptar uma curva-guia de exploração apostando em mais 2 ou 3,000 GWh do que devia. E, iludida por uma Kariba vazia, a HCB deixou-se encher em demasia - não obstante as previsões pluviométricas emitidas em Outubro/Novembro 2006.
Sucede que, nesta ansiosa busca de dólares-extra, a HCB (Hidroeléctrica de Cahora Bassa), mesmo apesar de cada vez mais “nossa”, parece ter cometido dois graves erros de gestão hidrológica:
1. a montante, a HCB subestimou as contribuições das redes zambianas de Kafue e Luangwa; umas sub-bacias que, não tão infrequentemente como isso, representam não só mais de metade dos usuais influxos Cahora Bassa, mas também pontas de cheia que, como na rede Luangwa, chegam a superar os 10,000 m3/s como no caso de 1989.
2. a jusante, a HCB subestimou grosseiramente a importância das redes afluentes de Norte (Shire, Revuboe, etc) e de Sul (Moz/Zim). Um erro que, na zona de Mutarara / Caia, pode ter significado ignorar que, às suas já imensas descargas de 8,400 m3/s, havia que acrescentar pelo menos outro tanto destes agitados tributários.
Este desequilibrado armazenar de água em detrimento da segurança de pessoas e bens pode e deve ser evitado.
E, desde logo, eu sugiro que, para além de uma mais criteriosa e humana ponderação de riscos, à HCB passe a ser imposta a internalização dos custos de todas estas desgraças. Talvez só assim se possa começar a colocar Vida acima de GWh.
E porque eu sei que é grave, e frequentemente desonesto, extrapolar provas com base em presunções e/ou factos circunstanciais, em particular quando se está perante tamanha desgraça humana, eu daqui convido a HCB a colocar todos os seus dados na mesa - para que todos a interpretem.
josé lopes
fevereiro 2007
e ainda a meio da época chuvosa"
__________________________
Entretanto, veja esta notícia inquietante, acompanhada de mapas tiradas via satélite e aqui reproduzidos.

Sem comentários: