Anteontem coloquei aqui a foto de uma pessoa que usava como calçado metades de garrafas plásticas de água mineral (esquerda). Ora, o leitor Alberto Santos mandou-me a segunda foto aqui exibida (direita), a de uma criança que, em 2003, no Alto-Molócuè, Alta Zambézia, usava como calçado corda de casca de árvore e folhas. Será sempre fascinante ver no que parece banal o roteiro de histórias sociais naturalizadas, normalizadas, cujo interesse muitas vezes apenas reside na diferença, na mera diferença de opções de vida. Os mais optimistas falarão na criatividade racional. E, depois, estimados leitores deste sábado, não tem tudo isto o perfume anestésico do fait-divers, do folclore, do inusitado que domesticamos com o espanto prazenteiro e inócuo?
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
2 comentários:
Xi mano vc complicar tudo. As coisas sao assim: cada qual nasce em seu destino, cada qual assim vive. Problema natural que vc xamuali quer cambiar em social. Eheheheheh.
Texto excelente. O perfume anestesico...
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