Entre Abril e Julho, 638 corpos foram enterrados na vala comum do Cemitério de Lhanguene na cidade de Maputo, provenientes dos Hospital Central de Maputo e do Hospital da Machava. Leia tão triste e preocupante tema amanhã no "Savana", em trabalho do jornalista Raul Senda.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
3 comentários:
Senhor Professor,
Esteja atento, que há novidades quanto a linchamentos. Há pouco, o jornal da tarde da TVM noticiou que, na Beira, um grupo de pessoas invadiu uma esquadra, insurgindo-se contra a polícia por "estar a proteger" um criminoso detido e exigindo o respectivo linchamento.
Oh...Estarei atento, muito obrigado.
Professor,
A maioria de nós, tem dificuldade em entender a “mutação” de valores que leva a que assistamos hoje aos corpos não reclamados e enviados para a vala comum de forma tão macabra, repugnante.
Importa realçar que, a não reclamação de corpos tal como o aumento da criminalidade, é um fenómeno predominante das grandes cidades e subúrbios. Julgo mesmo poder dizer-se que, no nosso país, é em Maputo que estes dois “fenómenos” atingem proporções alarmantes, escandalosas – MESMO NAS BARBAS DOS NOSSOS GOVERNANTES, que, supostamente, são eleitos para trabalhar de modo a garantirem níveis de bem-estar dignos para TODOS.
Vale a pena ler Júlio Mendes, em “O País”, de hoje, pág. 9, na sua coluna Wa ku-chiundu – “Xiquelene: o fim da civilização”. Em condições de vida tão aviltantes, de pungente miséria humana, como as descritas, não há valores /genes que resistam: “Mutam, transformam-se”. Nestes ambientes, o drama é: ou te adaptas ao meio, ou não sobrevives, vale tudo.
Se formos capazes de, por momentos, nos transportarmos para aquelas vidas, do Xiquilene, talvez consigamos “ver” o que não vemos.
Aquela imagem nobre, da pobreza de bens materiais e “fortaleza” de valores morais, de princípios, de dignidade, de antes quebrar que torcer, encontramo-la ainda no meio rural. Não confundamos a POBREZA RURAL e seus valores, com a MISÉRIA HUMANA e os valores dos guetos suburbanos.
Um abraço,
Florêncio
PS: O abandono de doentes ou inválidos, não é um fenómeno apenas de Moçambique, ou de Maputo. Nos países do chamado primeiro mundo, assiste-se cada vez mais a abandonos em hospitais e outros centros, em grande parte dos casos, meramente, porque passaram a ser um estorvo para as novas formas de vida dos familiares. Complicado, também!
Porém, há uma diferença: lá, os familiares sabem que o Estado, embora não substitua o afecto da família, assegura condições de dignidade na doença e depois da morte; Cá, o Estado, EXIMIU-SE dessa responsabilidade. As imagens do Savana de hoje são INQUALIFICÁVEIS.
Como entender tanta facilidade na cedência de terrenos para empreendimentos imobiliários de políticos, governantes, senhores do dinheiro e tanta dificuldade em arranjar um espaço para um novo cemitério, que sirva Maputo e Matola? Seguramente: “há razões, para os nossos políticos e governantes, que a razão do cidadão comum não alcança”.
Finalmente, porque não ponderar sobre vantagens e desvantagens da construção de um crematório com todas as condições técnicas e a dignidade de um Templo. Porque não dialogar com as Instituições religiosas sobre a progressiva aceitação desta forma de, em cinzas, “devolver o corpo à terra”. Não me venham com a cantilena da escassez de recursos.
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