Deixem-me lá avançar aqui algumas hipóteses frustes, bem canhestras, para explicar o pimbismo.
1. É hoje difícil criar e tocar com um conjunto clássico, isso custa dinheiro;
2. O playback é bem mais fácil e barato;
3. As empresas produtoras e comercializadores de cds preferem coisas baratas, rápidas e bem ao gosto popular.
4. Quanto mais fácil, provocante, de intimismo rapidamente exposto e digerível, for a música, mais facilmente se vende;
5. A concepção não é exterior ao pimbismo mundial: clown, marketing de imagem vip-popular, abundante condimento rapista (o rap não exige nem imaginação nem boa voz; e a orquestração é baratíssima), produção de histórias sensacionais de amor-pronto-a-servir, apelo aos sentidos mais imediatos e vorazes.
6. A música moçambicana clássica (campesina e ligeira de há 10/20 ano) atrás corre o risco de rápida pimbação. Fanny Mpfumo pode morrer de vez.
Que tal? Vamos lá discutir.
10 comentários:
Mais uma reflexão: arquitetura do pimbismo. Lí algures as reflexões de um arquitecto com relação à tendência de se destruír a rua quando se constroi um bairro, vila ou cidade. Se usarmos essa analogia, será que os pimbistas estão a destruír toda uma referência de música clássica moçambicana para construírem o pimba? Noutro dia falava eu dum fenómeno que chamo de "Cama do Singue" (na língua da minha mãe que é de Catuane e isso é um pun, em inglês) singue é um macaco, um tolo, cujas características são: egocentrismo exagerado, imitações crassas, etc... o pimbismo não foge muito a isso. os músicos falam deles mesmos e imitam outras culturas sem olharem a contextos. Era preciso saber porquê os rappers norte-americanos insultam? e a propósito, estamos a acompanhar o debate no seio das populações negras norte-americanas sob os efeitos dos raps na sua sociedade? a glorificação do gangsterismo, da coisificação da mulher?
Sinto que devíamos discutir isso. Absolutamente discutir. A coisificação é fenómeno que estudo. E a descerebralização, o imediatismo sensorial da smsgs. Vamos a ver se mais colegas surgem.
Vamos esperar para ver. Mas voltando à canção "xibubutela swa dhlaia", estive a pensar um pouco. Aínda não ouví a canção, como disse antes, mas mesmo sem o contexto posso procurar saber se ele só canta do xibubutela? Não do "sengue" (banana)? É que xibubutela representa o sexo femenino e o sengue o masculino. Sendo que, se a menção é do xibubutela, podemos estar perante mais um estereótipo: a mulher é que mata. O homem, esse é a vítima. Mais uma atitude machista, iria me parecer.
É impressionante ver como no nosso país todo o comportamento que sai das normas costumeiras ,consuetudinárias ou de uma idílica visão de um purismo ancestral é transformado em “atentado” à nossa “moçambicanidade”.A adopção e/ou produção de comportamentos,modAs e outros maneirismos em ruptura com outras convencionadas não está a ser inventada por nós cidadãos ordinários nem pelos nossos artistas.É algo frequente em todas as sociedades.Foi assim com a mini-saia,com o cabelo desfrizado,com a utilização da cosmética (labios e olhos),só para citar alguns exemplos mais próximos de nós (geração urbana dos nossos pais e avôs).A diferença é que hoje os meios de comunicação tramsformam essa adopção/produção em fenómenos globais,rápidamente assimiláveis, por um ladO, acrescido à libertação da sexualidade (em todas as suas vertentes:práticas,linguagem,corpo.etc) como fenómeno emblemático do sec.XX por outro .Foi e continua a ser assim no Japão, na clandestinidade dos bairros do Paquistão,em Bogotá,na Russia ou na África do Sul.Não sei porquê que o nosso país teria que sair ileso ou,pior ainda, couraçar-se contra essa quase inevitável realidade. Penso que devemos deixar de pensar que o nosso umbigo é o principio e o fim do mundo.O ponto é saber quais são nossas defesas identitárias para que o fenómeno não nos aliene em abSoluto.
Bem, eis agora um ponto a ter em conta também, o do nosso medo do futuro.
Talvez aqui sejam de considerar dois registos de discussão: o registo moral no qual me parece que intervém o autor ou a autora do último comentário e o registo de qualidade. No que me concerne procuro incidir neste último, talvez de forma canhestra.
Bom prof.estou fora do registo.Mas confesso que não sei separar forma e conteúdo,a moral/ética da arte,a qualidade de qualquer forma de expressão "artistica" da mensagem que veícula.
Penso que tem razão. Olhe, acabei de colocar dois vídeos.
Caro professor...
Peço apenas que procure álbuns de artistas como GPROFAM (sei que já conhece), AZAGAIA (agora em voga) e especialmente, e este não se vai arrepender, do VALETE (rapper Português...
Depois de ouvir o álbum do Valete, creio que vai pensar 2x antes de dizer "o rap não exige nem imaginação nem boa voz"...
Tal como todos os estilos musicais, o RAP pode ser BEM FEITO e MAL FEITO !!! A diferença está, e bem apontou, que o Rap é + acessivel a todos...é mais barato e "fácil" de fazer, a instrumentalização e posterior gravação. E por isso há muito mais oferta...e com essa oferta toda, como em todos os casos, vêm a "porcaria" toda...
Bem, fica apenas a ideia...
TSIN TSI VA
NB : DEAD PREZ - mind sex
DEAD PREZ - animal in man
VALETE - fim da ditadura , roleta russa, monogamia, etc...
ou outros artistas como IMMORTAL TECNIQUE... Pode ouvir o VALETE procurando no myspace ou YOUTUBE...
O "azagaia" já coloquei há tempos. O "valete" ainda não. Mas estou sempre disposto a aceitar a correcção para coisas sobre as quais pensei ou agi mal. Muito obrigado! Critique sempre, por favor!
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